A psoríase, desordem dermatológica crônica caraterizada pelo surgimento de pápulas eritematosas e placas escamosas que podem causar prurido e dor ao paciente, conta com diversas opções terapêuticas tópicas e sistêmicas para o tratamento das manifestações cutâneas da doença.
A escolha da terapia pelo médico deve levar em consideração diversos fatores: severidade da apresentação clínica da doença, possíveis comorbidades, preferência do paciente (considerando, inclusive, preços e comodidade), eficácia e avaliação da resposta individual do paciente.
De modo geral, a decisão inicial deve ser entre utilizar um tratamento local (tópico) ou para o corpo inteiro (sistêmico/fototerapia). Pacientes com casos mais brandos (ou de extensão limitada) geralmente utilizam agentes tópicos, enquanto casos de moderado a severos costumam ser tratados com fototerapia ou agentes sistêmicos.
Dentre os tratamentos sistêmicos, novos medicamentos biológicos têm chamado a atenção quanto às evidências de eficácia na mitigação dos sintomas e aparecimento de placas na psoríase em estudos clínicos. Apesar disso, levantou-se a possibilidade de pacientes apresentarem eficácias diferentes na prática clínica quando comparado o uso de tais produtos num cenário de estudos clínicos.
Para investigar tal possibilidade, Yiu e colaboradores, em nome do BADBIR - estudo clínico de longo prazo suportado pela British Association of Dermatology para monitorar a segurança de medicamentos utilizados no tratamento da psoríase - realizaram um ensaio observacional de comparação da eficácia de dois medicamentos biológicos comumente utilizados na prática clínica, secuquinumabe e ustequinumabe, a partir de dados obtidos pelo BADBIR entre novembro de 2007 e agosto de 2019. Os pesquisadores buscavam observar se seria possível que os resultados do ensaio CLEAR, um estudo clínico randomizado que realizou a comparação direta dos medicamentos, poderia ser replicado no cenário da prática clínica.
Um total de 1231 pacientes foram analisados, sendo 917 em tratamento com ustequinumabe e 314 em tratamento com secuquinumabe. Os indivíduos foram avaliados quando ao PASI (Psoriasis Area and Severity Index), sendo determinada a razão de risco (RR) para participantes que alcançassem PASI de 2 ou menor em até 12 meses de tratamento. Um RR acima de 1 favorece o secuquinumabe, enquanto números abaixo de 1 favorecem o ustequinumabe.
No estudo CLEAR, observou-se um RR de 1,24 (95% IC: 1,11-1,37). Já no estudo de Yiu, foi obtido um RR de 1,55 (95% IC: 1,19-2,01) após a análise combinada, e 1,28 (95% IC: 1,06-1,55) após a análise ponderada de casos. Nas outras análises realizadas pelos pesquisadores, com diversas variáveis levadas em conta, apenas uma razão ficou abaixo de 1 através do intervalo de confiança (“Imputação de não respondedor”, quando o tratamento foi descontinuado antes de 12 meses ou ocorresse surto de psoríase em até 1 mês até o fim do tratamento).
Gráfico 1. Estimativas das Razões de Risco (RR) para os participantes que obtiveram PASI < 2 em até 12 meses de tratamento.
Ao fim do tratamento dos dados, observou-se que ambas drogas apresentaram eficácias reais menores dos que as observadas nos estudos. Os autores estimam uma redução de 17,5% para secuquinumabe e 15,1% para ustequinumabe, respectivamente, entre eficácia e eficiência na prática clínica ao longo de 12 meses de tratamento. Ressalta-se, que as probabilidades de alcançar PASI < 2 ou redução de 90% do PASI é cerca de 15% menor no cenário prático do que nos estudos clínicos.
Por fim, os pesquisadores concluíram que o secuquinumabe apresentou eficácia superior quando comparado ao ustequinumabe, como citado anteriormente – tal afirmação é possível visto que uma maior proporção de pacientes teve maior redução na área total corporal afetada por psoríase de acordo com o PASI.
Imagem de Eszter Miller por Pixabay