Dia da malária nas américas

Conquista médica histórica: Vacina contra malária

Preveniu 40% dos casos de malária e reduziu em 30% as infecções mais severas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a malária foi uma das doenças infecciosas que mais afetou a humanidade com 229 milhões de casos e 409 mil mortes em 2019. Desses, cerca de 94% dos casos ocorreram no continente africado. E, após décadas de pesquisa, finalmente temos uma vacina disponível contra ela.

Em outubro deste ano, a OMS recomendou o uso do imunizante RTS,S nas regiões do planeta com alta taxa de transmissão do Plasmodium falciparum. O local que mais se beneficiará é a Africa Subsaariana, que concentra a maioria dos casos e mortes pela doença.

Malária

É transmitida a partir da picada de mosquitos da família Anopheles, que são comuns em regiões tropicais e úmidas no entardercer ao amanhecer. No Brasil também é conhecido como pernilongo, carapanã e mosquito-prego.

O agente causador é protozoário Plasmodium e há cinco tipos diferentes dele. Os mais comuns são o falciparum, o vivax e o malariae.

Ao picar um animal ou homens, o mosquito injeta uma pequena quantidade de saliva que serve como um anticoagulante. É nessa saliva que, caso o mosquito esteja infectado, podem se encontrar os esporozoitas. Após a inoculação, circulam livremente pelo sangue e se instalam nos hepatócitos. Após passarem por maturação e terem produzidos milhares de parasitas, as células do fígado se rompem e os plasmódios invadem os glóbulos vermelhos. Ao longo desse processo, ambas as células são destruídas, provocando febre, dor de cabeça, calafrios, dor no corpo e perda de apetite.

Atualmente a doença é combatida com o uso de medicamentos, através de terapias combinadas em que um dos medicamentos é o artesunato. O parasita adquire resistência rapidamente, o que dificulta o desenvolvimento de vacinas e medicamentos. Além desses, o uso de proteção, como mosquiteiros com inseticida, é uma medida de prevenção que deve ser mantido mesmo com a vacinação.

Vacina

A RTS,S, também chamada de Mosquirix, levou 34 anos para ser desenvolvida pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK).

Feita a partir de uma proteína do Plasmodium falciparum e algumas outras substâncias, a vacina atua no esporozoíto, que é uma forma que ele assume entre a picada do mosquito até o fígado.

Os pesquisadores descobriram que os esporozoítos são cobertos por uma proteína, denominada Circum-esporozoíto (CSP), na membrana externa. Assim, eles desenvolveram proteínas transportadoras com fragmentos da CSP, que ativam a produção de anticorpos contra a CSP.

O estudo foi publicado no periódico The Lancet, envolveu quase 15 mil crianças da África subsaariana e se mostrou eficaz e seguro.

Mesmo com resultados favoráveis, a OMS demonstrou preocupação em relação a alguns problemas da vacina como a necessidade de 4 doses em cada indivíduo. As primeiras três são dadas no quinto, no sexto, no sétimo mês e no décimo oitavo mês de vida.

O número de vacinas poderia prejudicar o uso de outros imunizantes e até traria uma falsa sensação de segurança às famílias que, sentindo-se mais protegidas, abandonariam outros métodos de prevenção da malária, como a instalação de mosquiteiros nas camas e nos berços ou a aplicação de repelentes.

Para acabar com essas dúvidas, a OMS criou em 2019 um projeto piloto em que as quatro doses da nova vacina foram aplicadas em cerca de 800 mil crianças que moram em Gana, Quênia e Malauí.

Os resultados foram positivos: além de ter um bom perfil de segurança, a nova vacina preveniu 40% dos casos de malária e reduziu em 30% as infecções mais severas, que estão relacionadas à hospitalização e morte. No entanto, o estudo destacou que não houve relaxamento das outras medidas preventivas (como o uso de redes com inseticida em volta da cama, veneno em spray e quimioprevenção).

Uma pesquisa publicada no Plos Medicine estimou que a aplicação da 30 milhões de doses da vacina em 21 países africanos poderia prevenir 5,4 milhões de casos e 23 mil mortes de crianças por ano. Além disso, outra pesquisa publicada no The New England Journal of Medicine mostrou que a proteção aumenta quando a vacina é tomada em conjunto com medicamentos preventivos contra a malária, com uma redução de 70% nas mortes e internações.

No Brasil

De acordo com o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM), em 2018, o Brasil apresentou 194.572 casos de malária, principalmente no Norte e na região Amazônica. A vacina para o combate da malária no Brasil não será muito útil, pois cerca de 90% dos casos do país são causados pelo Plasmodium vivax, para o qual a RTS,S não apresenta eficácia.