Opinião e proposta de debate

Suplementos de vitamina D: uma alternativa para potencializar a eficácia das vacinas contra o SARS-CoV-2?

Uma hipótese e proposta de discussão para futuros ensaios clínicos

Autor/a: Felipe Inserra, León Ferder, Laura Antonietti, Javier Maria, Carlos Tajer, Walter Manucha

Indice
1. Texto principal
2. Referencias bibliográficas

A pandemia de COVID-19 teve um impacto sobre a saúde e a vida da sociedade como nenhuma outra doenças nos últimos 100 anos. Com extraordinária rapidez dos cientistas e da indústria farmacêutica, menos de um ano após o início da pandemia, passamos a ter várias vacinas disponíveis. Esta parece ser a ferramenta mais eficaz para o controle da doença quando se atinge um nível elevado da população vacinada. Mesmo assim, não sabemos quanto tempo durará a proteção somado ao medo de novas mutações agressivas como a sul-africana, a britânica e a de Manaus.

A resposta imunitária efetiva varia de 50 a 94% nas diferentes vacinas. O agravante é que devido à baixa disponibilidade de vacinas, alguns países posterguem as segundas doses, o que retarda o alcance das defesas protetoras.

O uso de estratégias adjuvantes para melhorar a resposta das vacinas virais é uma técnica útil, principalmente em pacientes com baixa resposta como idosos.1 As intervenções nutricionais são uma das recomendações comprovadas para melhorar a resposta da vacinação.2

Múltiplos estudos prévios concluem que a suplementação de micronutrientes como a vitamina D tem um efeito protetor contra algumas infecções virais como o resfriado, a influenza e a dengue.3 Apesar do atraso nos dados confirmatórios de alguns ensaios clínicos específicos em andamento, é promissor levantar a possibilidade de que a vitamina D pode prevenir e/ou atenuar a doença COVID-19.4

As bases científicas respondem às evidências de comprovada associação inversa entre o nível sérico de vitamina D e o risco de infecção, a gravidade dos sintomas, suas complicações e, no pior dos casos, o óbito.5,6 Além disso, a deficiência de vitamina D pode reduzir a resposta imune à vacinação contra influenza, e corrigir a deficiência de vitamina D com suplementos parece melhorar a resposta à vacinação, pelo menos para algumas das cepas como A/H3N2 e cepa B.7

Os dados sugerem que ter bons níveis de vitamina D pode estar associado a uma melhor resposta imunológica às vacinas para prevenir a ocorrência de COVID-19. O efeito da vitamina D na resposta inflamatória e na atividade imunológica é reconhecido.

Os pacientes com níveis séricos mais baixos de vitamina D tem valores de D-dímeios elevados, contagem de linfócitos B mais alta, redução de linfócitos T CD8+ com relação CD4/CD8 baixa, achados clínicos comprometidos e tomografia computadorizada de tórax comprometida.8 Esses resultados são reforçados por uma vasta evidência que liga certas vitaminas e nutrientes à regulação da resposta imunológica.

Especificamente, a vitamina D parece desempenhar um papel central nas respostas imunes inatas e adaptativas. O efeito na resposta imune adaptativa não é totalmente compreendido. No entanto, pelo menos parte de seus efeitos dependem da supressão de células T auxiliares do tipo 1 (Th1) e da estimulação de células T reguladoras supressoras.9

Esses antecedentes e linhas de evidência nos permitem hipotetizar a possibilidade de que a suplementação de vitamina D possa ajudar no processo de defesa estimulado por vacinas, melhorando a produção de anticorpos específicos contra SAR-CoV-2, e também, melhorando a resposta imune relacionada com o antígeno viral, junto com proteções antivirais, por sua resposta moduladora em citocinas e mediadores inflamatórios.

Finalmente, devido ao exposto, consideramos e encorajamos a discussão desta hipótese que consideramos deve ser avaliada pela comunidade médica/ científica, uma vez que a aquisição de uma proteção mais robusta associada a níveis ótimos de vitamina D poderia fortalecer ainda mais as defesas que as vacinas administrado contra a doença COVID-19. Pesquisadores do Canada estão avaliando em profissionais de saúde, através de um estudo prospectivo triplo-cego, o possível efeito protetor em função da suplementação com vitamina D e a efetividade na vacinação sobre a defesa contra o SARS-CoV-2 (risco de infecção, doenças e complicações de COVID-19, NCT04483635).10


Autores: Felipe Inserra1, León Ferder1,  Laura Antonietti2,3, Javier Mariani2,3, Carlos Tajer2,                                          Walter  Manucha4

1-  Universidade de Maimônides, Cidade Autônoma de Buenos Aires, Argentina.

2-  Hospital de Alta Complexidade em El Cruce - Néstor Kirchner, Florencio Varela, Buenos Aires, Argentina.

3-  Universidade Nacional Arturo Jauretche, Florencio Varela, Buenos Aires, Argentina.

4- Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas, Universidade Nacional de Cuyo, Instituto de Medicina e Biologia Experimental de Cuyo (IMBECU), Mendoza, Argentina.