As diretrizes EuroGuiDerm sobre a dermatite atópica (DA) foram divididas em duas partes. A primeira abordou os tratamentos sistêmicos para a doença (clique aqui para ver o resumo) enquanto a segunda dissertou sobre os não sistêmicos e ofereceu recomendações para populações especiais.
Tratamentos não sistêmicos |
- Emolientes e hidratantes
A aplicação diária de emolientes é fundamental para restaurar e manter a barreira cutânea. Deve ser realizada várias vezes ao dia, especialmente após o banho. A diretriz recomendou procedimentos suaves de limpeza de pele, especialmente nas áreas inflamadas. O banho deve ser realizado com água morna e deve-se evitar sabonetes alcalinos.
Cremes, pomadas e loções devem ser escolhidos com base na preferência do paciente e na severidade da xerose. Sugeriu-se o uso de hidratantes hidrofílicos no verão enquanto, no inverno, os lipofílicos.
- Terapia anti-inflamatória
A terapia tópica eficaz depende de três princípios fundamentais: potência suficiente, dosagem adequada e aplicação correta. A quantidade aplicada deve seguir a regra da unidade da ponta do dedo. O tratamento deve ser aplicado, idealmente, na pele hidratada.
> Corticosteroides tópicos (CTS): São a base do tratamento tópico da DA. A sua seleção depende da gravidade das lesões e da localização anatômica. É recomendada uma abordagem escalonada, começando com corticosteroides de baixa potência para áreas sensíveis e aumentando a potência conforme necessário. A diretriz recomendou o seu uso principalmente no tratamento de surtos agudos.
Em crianças, devem ser usados rotineiramente os de baixa potência. O tratamento do rosto e, especialmente, da região periorbital ou outras áreas sensíveis (dobras e pescoço) deve ser restrito a CTS de leve a moderada potência.
É importante que os clínicos abordem adequadamente as preocupações e efeitos colaterais dos medicamentos.
> Inibidores de Calcineurina Tópicos (ICT): Tacrolimo e pimecrolimo foram indicados para áreas sensíveis como face e dobras cutâneas, ou quando CTS não são apropriados.
Particularmente, foi recomendado em áreas da pele com risco de atrofia cutânea devido à aplicação de CTS.
A diretriz sugeriu iniciar o tratamento com corticosteroides tópicos antes de mudar para um ICT para reduzir o risco de ardor e queimação na pele. Além disso, recomendou a terapia proativa (por exemplo, aplicação duas vezes por semana) com um CTS ou um ICT adequado para reduzir o risco de recaída e para melhor controle da doença.
> Inibidores tópicos da fosfodiesterase 4: O crisaborole foi aprovado para o tratamento da DA leve a moderada em pacientes com 2 anos de idade ou mais nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Israel e Hong Kong.
- Tratamento antimicrobiano
Sugeriu-se o tratamento com medicamentos antissépticos tópicos, incluindo banhos de hipoclorito de sódio a 0,005%, em pacientes com histórico de infecções recorrentes.
> Antibacterianos: Deve-se utilizar antibióticos apenas em pacientes com DA com lesões extensas e superinfecção. No entanto, não se deve utilizá-los a longo prazo devido ao risco de desenvolvimento de resistência.
> Antivirais: O eczema herpético (EH), uma infecção disseminada pelo vírus herpes simplex (HSV), é uma complicação potencialmente grave da DA que requer ação médica imediata. Para o tratamento, deve ser utilizando terapia sistêmica com aciclovir ou valaciclovir.
> Antifúngico: Deve ser utilizada em alguns pacientes com DA, principalmente nos que sofrem de dermatite na cabeça e no pescoço e com sensibilização demonstrada de IgE a Malassezia spp. A classe mais comum de medicamentos prescritos são os azóis, como o cetoconazol e o itraconazol, que também têm algumas propriedades anti-inflamatórias.
Tratamento do prurido |
O manejo do prurido na DA requer uma abordagem multidimensional que trata o sintoma em si, mas também os fatores contribuintes, como pele seca e inflamação cutânea.
Embora os corticosteroides tópicos não atuem como agentes antipruriginosos diretos, diversos estudos descreveram o efeito anti-inflamatório desses fármacos. Os inibidores tópicos de calcineurina aliviam significativamente o prurido.
A terapia UV foi recomendada para o alívio do prurido, enquanto os tratamentos tópicos com anti-histamínicos e os inibidores seletivos da recaptação de serotonina não.
Fototerapia e fotoquimioterapia |
Pode ser considerada para pacientes com DA moderada a grave que não respondem adequadamente ao tratamento tópico. Em crianças, pode utilizar UVB de banda estreita ou UVA1, mas deve-se evitar ciclos frequentes e/ou prolongados.
A terapia PUVA só deve ser utilizada quando ciclos de tratamentos anteriores com outras fototerapias forem insuficientes ou quando os tratamentos farmacêuticos forem contraindicados, ineficazes ou causarem efeitos colaterais.
Pacientes com histórico ou com aumento de risco de câncer de pele não são indicados para a utilização de fototerapias. Ademais, nos que utilizam imunossupressores sistêmicos, especialmente ciclosporina e azatioprina, a fototerapia não é recomendada com base em seu risco de desenvolvimento de neoplasias cutâneas.
Intervenções |
Deve-se identificar fatores desencadeantes individuais para evitá-los, com objetivo de prolongar a remissão ou o alívio. Como pólen, ácaros do pó, pelos de animais e fumaça do tabaco são elementos que tendem a exacerbar a doença, recomendou-se evitá-los.
Não há necessidade de restringir atividades físicas normais do dia a dia em pacientes com DA.
Aprender a lidar com o estresse é uma estratégia fundamental a esses pacientes. Pode-se sugerir a psicoterapia caso necessário.
Para alimentos, é importante a realização de procedimentos diagnósticos para elucidar a alergia alimentar mediada por IgE (IgE específica para alimentos e/ou teste de puntura, também conhecido como Prick Test, dietas de eliminação diagnóstica e testes de desafio).
A dieta de eliminação terapêutica é recomendada após o diagnóstico individual de alergia alimentar ou eczema induzido por alimentos na DA. A diretriz sugeriu a reavaliação da alergia após um a dois anos de dieta de eliminação rigorosa para crianças.
Recomendações para Populações Especiais de Pacientes com EA |
- Grávidas e lactantes
Como primeira linha do tratamento, recomenda-se o uso de emolientes diariamente. Não há recomendações sobre qual deve ser usado, mas pode-se usar um com alto teor lipídico. Ademais, deve-se utilizar CTS de classe II ou III. Os ICT podem ser usados preferencialmente no rosto e áreas intertriginosas, bem como na pele abdominal, mamária e das coxas, onde o risco de formação de estrias aumenta com o uso excessivo de CTS.
Quando os tratamentos tópicos não forem suficientes, pode-se usar UVB de banda estreita (311 nm) ou terapia de UVB de amplo espectro, se o NB-UVB não estiver disponível.
A ciclosporina pode ser sugerida para gestantes com DA candidatas a tratamento sistêmico.
A prednisolona pode ser sugerida apenas como terapia de resgate de curto prazo para crises agudas.
Não se deve utilizar abrocitinibe, baricitinibe, upadacitinibe, metotrexato, dupilumabe e micofenolato.
- Pessoas que planejam ter filhos
Em pais com EA que planejam ter um filho, recomenda-se CTS de classe II ou III ou ICT. Também sugeriu-se interromper o tratamento com metotrexato pelo menos 3 meses antes da concepção.
- Crianças e adolescentes
Com atividade leve da doença, o uso de corticosteroides tópicos de manutenção duas a três vezes por semana com uso liberal de emolientes não resultam em efeitos sistêmicos ou locais adversos.
Os ICT podem ser usados de forma eficaz e segura como agentes anti-inflamatórios no tratamento da DA, especialmente em áreas sensíveis da pele (por exemplo, rosto), a partir dos dois anos de idade. A aplicação diária (duas vezes ao dia) é recomendada durante recaídas na área afetada, seguindo as regras da unidade de dose na ponta do dedo, enquanto de acordo com o regime pró-ativo, também podem ser aplicados duas vezes por semana nas áreas livres de sintomas.
Conclusão |
As diretrizes EuroGuiDerm forneceram uma abordagem estruturada e baseada em evidências para o manejo da dermatite atópica. O tratamento deve ser individualizado, com um enfoque na restauração da barreira cutânea, controle da inflamação e prevenção de recidivas, sempre considerando as necessidades e características específicas de cada paciente.