Introdução |
A doença de Parkinson (DP) é uma das condições neurológicas de crescimento mais rápido em todo o mundo. Acomete predominantemente adultos mais velhos, causando sintomas motores e não motores como bradicinesia, rigidez, tremores e declínio cognitivo. Parkinsonismo é um termo abrangente que abrange várias condições, incluindo a DP, que compartilham sintomas motores semelhantes, mas podem não ter os sintomas cardinais que levam a um diagnóstico específico.
Estudos anteriores relataram que a DP afeta em torno de 8,5 milhões de pessoas em todo o mundo, com uma prevalência global de 315 por 100.000 indivíduos. No entanto, sua a epidemiologia em regiões específicas, como na América Latina, é limitada. Por isso, Kim e colaboradores (2023) realizaram uma revisão sistemática com o objetivo de estimar a prevalência e incidência da DP e do parkinsonismo na América Latina.
Métodos |
Realizaram uma busca nas bases de dados Medline, Embase, Scopus, Web of Science, Scientific Electronic Library Online e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde para estudos epidemiológicos que relatassem a prevalência ou incidência de DP ou parkinsonismo na América Latina desde o início até 2022. A qualidade dos estudos foi avaliada usando a Lista de Verificação de Avaliação Crítica do Instituto Joanna Briggs (JBI). Os dados foram agrupados por meio de metanálise de efeitos aleatórios e analisados por fonte de dados (estudos de coorte ou bancos de dados administrativos), sexo e faixa etária.
Resultados |
Foram incluídos 18 estudos que atenderam aos critérios de inclusão e continham as informações necessárias para extração sobre a prevalência ou incidência de DP ou parkinsonismo. Os dados foram coletados dos seguintes 13 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, República Dominicana, Equador, México, Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela.
Com base em 17 estudos, a prevalência geral de DP foi de 472 (IC 95%, 271–820) por 100.000 pessoas, o que diferiu significativamente pela fonte de dados: 733 (IC 95%, 427–1255) de estudos de coorte e 114 (IC 95%, 63–209) de bancos de dados administrativos. A prevalência geral de parkinsonismo com base em sete estudos foi de 4.300 (IC 95%, 1863–9613) por 100.000 pessoas, que também diferiu significativamente pela fonte de dados: 6.469 (IC 95%, 4665–8906) de estudos de coorte e 4.300 (IC 95%, 1863–9613) de banco de dados administrativo.
Em relação à diferença dos estudos de coorte e os de banco de dados administrativos, é provável que menos pacientes sejam identificados nesse segundo, já que indivíduos com DP subclínica ou em estágio inicial não procuram atendimento médico, o que pode levar a um sub-registro. Ademais, as populações desses eram mais jovens do que os de estudos de coorte. Outra razão potencial para a diferença pode ter sido o uso de amostras relativamente pequenas por alguns dos estudos de coorte, o que resultou em intervalos de confiança amplos
Tanto a prevalência de DP quanto a do parkinsonismo aumentou progressivamente por faixa etária, conforme pode ser visualizado nas tabelas 1 e 2.
Tabela 1: Prevalência da doença de Parkinson por 100.000 pessoas por grupo etário. Tabela adaptada de Kim e colaboradores (2023).
Tabela 2: Prevalência do parkinsonismo por 100.000 pessoas por grupo etário. Tabela adaptada de Kim e colaboradores (2023).
A prevalência de DP e parkinsonismo não mostrou diferenças significativas por sexo. No entanto, os homens tiveram taxas de prevalência um pouco mais altas, mas não significativamente, do que as mulheres para ambas as condições. Essa diferença pode ser atribuída às diferenças nos mecanismos patogênicos e acesso a tratamento especializado por sexo e idade mais tardia de início para mulheres.
Diferenças verdadeiras na prevalência por sexo podem ter sido confundidas pela idade, onde as distinções significativas foram observadas apenas em certos grupos etários. Isso pode ser devido a diferenças na taxa de progressão da doença e de mortalidade entre os gêneros. Além disso, a prevalência foi afetada pelo número de indivíduos com a enfermidade e sua sobrevida, o que significa que pode diferir dependendo da taxa de sobrevivência da população incluída na estimativa. Portanto, a menor taxa de sobrevivência entre os homens pode ter levado a uma subestimação de sua prevalência e explicar a falta de diferença de sexo nas taxas de prevalência do estudo.
A incidência global da DP foi de 31 (IC 95%, 23–40) por 100.000 pessoas-ano. Como só foram relatados em três estudos, esse número foi muito pequeno para avaliar diferenças entre subgrupos.
Discussão |
A prevalência de DP e parkinsonismo não mostrou diferenças significativas por sexo. No entanto, os homens tiveram taxas de prevalência um pouco mais altas, mas não significativamente, do que as mulheres para ambas as condições. Essa diferença pode ser atribuída às diferenças nos mecanismos patogênicos e acesso a tratamento especializado por sexo e idade mais tardia de início para mulheres.
Diferenças verdadeiras na prevalência por sexo podem ter sido confundidas pela idade, onde as distinções significativas foram observadas apenas em certos grupos etários. Isso pode ser devido a diferenças na taxa de progressão da doença e de mortalidade entre os gêneros. Além disso, a prevalência foi afetada pelo número de indivíduos com a enfermidade e sua sobrevida, o que significa que pode diferir dependendo da taxa de sobrevivência da população incluída na estimativa. Portanto, a menor taxa de sobrevivência entre os homens pode ter levado a uma subestimação de sua prevalência e explicar a falta de diferença de sexo nas taxas de prevalência do estudo.
A incidência global da DP foi de 31 (IC 95%, 23–40) por 100.000 pessoas-ano. Como só foram relatados em três estudos, esse número foi muito pequeno para avaliar diferenças entre subgrupos.
Conclusão |
Na América Latina, a prevalência de DP e parkinsonismo foi de 472 e 4300, respectivamente, por 100.000 pessoas, mas variou significativamente de acordo com a fonte de dados. Os achados foram limitados por problemas inerentes às metanálises. Estudos de prevalência foram conduzidos em populações e ambientes distintos e muitas vezes usam abordagens metodológicas variadas. Portanto, comparações simples das taxas de prevalência entre os estudos devem ser interpretadas com cautela. Os resultados justificaram a realização de mais estudos epidemiológicos estimando prevalência e incidência usando abordagens consistentes, o que permitirá uma avaliação mais detalhada dos fatores de risco e uma estimativa confiável.