Introdução |
A sepse é uma das principais causas de morte entre crianças em todo o mundo. Os critérios pediátricos atuais para a sepse foram publicados em 2005 baseando-se na opinião de especialistas. Em 2016, as definições do Terceiro Consenso Internacional para Sepse e Choque Séptico (Sepse-3) definiram a sepse como uma disfunção orgânica potencialmente mortal causada por uma resposta desregulada do hóspede na infecção, mas excluiu as crianças.
A fim de atualizar entendimento da condição, os cientistas clínicos do Hospital Infantil Ann & Robert H. Lurie de Chicago formaram parte de um grupo diverso e internacional de experts para o desenvolvimento e validação de novos critérios para a sepse pediátrica. Esses, chamados de critérios de Phoenix, seguiram a mudança de paradigma nos recentes critérios para adultos que definem a condição como uma reposta grave a uma infecção que implica disfunção orgânica.
Métodos |
A Sociedade de Medicina Intensiva (SCCM) reuniu um grupo de trabalho de 35 especialistas pediátricos em cuidados intensivos, medicina de emergência, doenças infecciosas, pediatria geral, enfermagem, saúde pública e neonatologia de 6 continentes.
Usando evidências de uma pesquisa internacional, uma revisão sistemática e metanálise, e um novo escore de disfunção orgânica desenvolvido com base em mais de 3 milhões de visitas a registros médicos eletrônicos de 10 locais em 4 continentes, foi empregado o processo Delphi modificado.
Resultado |
Segundos os dados da pesquisa, a maioria dos médicos pediátricos utilizaram sepse para referir-se a uma infecção com disfunção orgânica potencialmente mortal, o que difere dos critérios da sepse pediátrica anteriores que utilizavam critérios da síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SRIS), com propriedades preditivas deficientes, e incluíam os critérios redundantes do termo.
O grupo recomendou que a sepse pediátrica seja identificada mediante uma pontuação Phoenix Sepsis de ao menos 2 pontos em crianças com suspeita de infecção, o que indica uma disfunção potencialmente mortal dos sistemas respiratório, cardiovascular, de coagulação ou neurológico.
As crianças com uma pontuação Phoenix Sepsis de pelo menos 2 pontos tiveram uma mortalidade hospitalar de 7,1% em locais com recursos mais elevados e 28,5% em locais com recursos mais baixos, mais de 8 vezes superior às com suspeita de infecção que não cumpriam estes critérios.
A mortalidade foi maior em crianças que apresentavam disfunção orgânica em pelo menos 1 dos 4 sistemas orgânicos (respiratório, cardiovascular, coagulação e/ou neurológico) que não era o local primário da infecção.
O choque séptico foi definido como crianças com sepse que apresentavam disfunção cardiovascular, indicada por pelo menos 1 ponto cardiovascular no Phoenix Sepsis Score, incluindo hipotensão grave para a idade, lactato sanguíneo superior a 5 mmol/L ou necessidade de medicação vasoativa. Tiveram uma taxa de mortalidade hospitalar de 10,8% e 33,5% em ambientes com recursos mais elevados e mais baixos, respectivamente.
Conclusões |
Os critérios de Phoenix para sepse e choque séptico em crianças foram derivados e validados pelo Grupo de Trabalho Internacional de Definição de Sepse Pediátrica usando um grande banco de dados e pesquisas internacionais, revisão sistemática e metanálise e uma abordagem de consenso Delphi modificada. Uma pontuação Phoenix Sepsis de pelo menos 2 identificou disfunções orgânicas potencialmente fatais em crianças menores de 18 anos, e seu uso tem o potencial de melhorar os cuidados clínicos, a avaliação epidemiológica e a pesquisa em sepse pediátrica e choque séptico em todo o mundo.
Conceitos chaves para a sepse pediátrica
|
> Critérios para identificar crianças com choque séptico
O choque séptico pediátrico foi identificado em crianças com pelo menos 1 ponto no componente cardiovascular do Phoenix Sepsis Score (isto é, hipotensão grave para a idade, lactato sanguíneo >5 mmol/L ou uso de medicação vasoativa).
Como os medicamentos vasoativos podem não estar disponíveis em alguns ambientes clínicos, esta abordagem permitiu a identificação de choque séptico na ausência de tais recursos. A sua prevalência entre crianças com sepse foi de 53,7% (5.502 de 10.243) em ambientes com recursos mais elevados e 81,3% (1.260 de 1.549) em locais com recursos mais baixos e foi associada à mortalidade hospitalar de 10,8% (593 de 5.502)) e 33,5% (422 de 1.260), respectivamente.
> Disfunção dos órgãos prejudicados do sítio primário de infecção
As crianças que preencheram os critérios de sepse de Phoenix incluíram aquelas com disfunção orgânica limitada ao órgão primário infectado (por exemplo, disfunção respiratória isolada em uma criança com pneumonia) e aquelas com escores de sepse de Phoenix indicando disfunção de órgãos distantes do local primário de infecção.