Sequelas da COVID-19

Estratégias complementares para promover o crescimento capilar no eflúvio telógeno Pós-COVID-19

Devido à proliferação de desinformação e informações não verificadas sobre a perda de cabelo, os pacientes altamente vulneráveis podem ser facilmente induzidos a confiar em práticas sem base científica que prometem tratar essa condição

Autor/a: Popescu MN, Berteanu M, Beiu C, Popa LG, Mihai MM, Iliescu MG, Stnescu AMA, Ionescu AM

Fuente: Complementary Strategies to Promote Hair Regrowth in Post-COVID-19 Telogen Effluvium

Introdução

Diversos artigos científicos descreveram as consequências da saúde de pessoas após a fase aguda da COVID-19, sendo a queda capilar um dos efeitos mais comuns. O fenômeno é considerado como eflúvio telógeno (TE), uma perda difusa de cabelo devido à desregulação dos ciclos de crescimento capilar.

Aproximadamente 25% dos pacientes com COVID-19 sofrem de TE clássico agudo nos primeiros dois a três meses após a infecção, com as mulheres apresentando maior risco do que os homens. No entanto, foi observado seu início precoce em menos de 2 meses após a infecção, especialmente em pacientes afetados por formas mais graves do vírus. Essa fase pode estar relacionada ao efeito direto de altos níveis de citocinas pró-inflamatórias nas células dos folículos capilares, uma vez que casos graves são tipicamente caracterizados por níveis mais elevados desses mediadores químicos e respostas antivirais reduzidas do hospedeiro. Além disso, podem levar à formação de microtrombos nos folículos capilares, o que poderia obstruir o suprimento sanguíneo dos folículos capilares.

Embora seja esperada uma melhora espontânea na maioria dos pacientes com TE pós-COVID-19, muitos pacientes buscam regularmente maneiras eficazes de acelerar o processo de regeneração capilar. Foi observado um aumento massivo nas pesquisas usando palavras-chave como "queda de cabelo" no Google Trends desde o início da pandemia. Devido à proliferação de desinformação e informações não verificadas sobre a perda de cabelo pós-COVID-19, esses pacientes altamente vulneráveis podem ser facilmente induzidos a confiar em práticas sem base científica que prometem tratar essa condição.

Com isso, Popescu e colaboradores (2023) desenvolveram um estudo com uma abordagem holística que revisou apenas as estratégias complementares com base em evidências (tanto medidas gerais quanto tratamentos locais) que podem ajudar a reduzir a perda de cabelo pós-COVID-19 e promover o crescimento capilar.

Apoio Psicológico e Educação ao Paciente

A perda difusa de cabelo de início recente pode afetar significativamente o bem-estar psicossocial do paciente. E sabe-se que o sofrimento emocional é um gatilho conhecido para a indução da queda de cabelo, o que torna um ciclo vicioso.

Portanto, expressar empatia e oferecer apoio para a ansiedade e o estresse psicológico é uma parte importante do manejo do paciente. Desde o início da pandemia, além da própria doença, muitos outros fatores estressantes relacionados à COVID-19 podem aumentar ainda mais a queda de cabelo, como isolamento social, mudanças relacionadas ao trabalho, estresse financeiro, entre outros. Uma abordagem holística, com a integração de estratégias de enfrentamento do estresse no manejo desses pacientes, pode ser particularmente útil. A prática regular de atividade física, yoga, meditação e uma quantidade adequada de sono são ferramentas poderosas, mas frequentemente negligenciadas, para o manejo do estresse.

Ademais, é importante instruir os pacientes sobre a natureza da queda de cabelo, ou seja, que doenças infecciosas e febre podem afetar o ciclo de crescimento capilar, fazendo com que os folículos capilares entrem prematuramente na fase telógena.

Nutrição

A nutrição adequada é uma estratégia crucial que pode mitigar as consequências da queda capilar associadas à COVID-19, por meio da modulação do sistema imunológico. Também é importante levar em consideração que a anosmia/ageusia são sintomas frequentemente relatados na virose que podem levar à diminuição do apetite e deficiências nutricionais que podem induzir ou agravar a queda de cabelo.

Portanto, o consumo de alimentos saudáveis deve ser uma prioridade para manter um estado nutricional adequado e um sistema imunológico que funcione bem, reduzindo a suscetibilidade a sequelas de longo prazo da COVID-19 de forma geral.

Micronutrientes que ajudam a manter um sistema imunológico que funciona bem podem ser encontrados especialmente em alimentos frescos (frutas cítricas e vegetais), alimentos integrais (arroz integral, aveia), carnes magras, peixes, laticínios com baixo teor de gordura e gorduras saudáveis (nozes, sementes, azeite de oliva e óleo de peixe). Por outro lado, uma dieta não saudável, composta por açúcares, gorduras saturadas (ácidos graxos) e carboidratos refinados (doces, pão branco), leva à inflamação crônica e reduz a capacidade do corpo de se defender contra os efeitos do vírus.

Suplementos orais para crescimento capilar

Embora alguns suplementos tenham mostrado evidências que apoiem o seu uso para o crescimento capilar, muitos outros ganharam enorme popularidade principalmente com a ajuda de mensagens de marketing amplamente divulgadas nas redes sociais e na internet. Pacientes que sofrem com a queda capilar podem ser facilmente persuadidos a acreditar nas promessas desses produtos, mesmo os que não foram devidamente avaliados em ensaios clínicos. Diante desse contexto, é essencial que os médicos eduquem e aconselhem seus pacientes sobre os suplementos que demonstraram benefícios em ensaios clínicos randomizados de alta qualidade, além de orientá-los sobre o uso correto e as indicações desses produtos.

> Multivitaminas

  • Vitamina D

Algumas pesquisas demonstraram uma correlação entre o TE e baixos níveis de vitamina D no soro, e, portanto, ao avaliar pacientes com queda de cabelo pós-COVID-19, é indicado realizar testes para os níveis de 25-hidroxivitamina. Os receptores de vitamina D são expressos nas células dos folículos capilares e possuem a capacidade de modular a proliferação de queratinócitos e o ciclo de crescimento do cabelo.

  • Vitamina E

A vitamina E é um antioxidante poderoso bem conhecido. Os tocoferóis e tocotrienóis são os derivados desse nutriente comumente usados em suplementos para crescimento capilar via oral. Beoy et al., (2012) demonstraram sua capacidade de aumentar o crescimento capilar devido à habilidade de inibir a peroxidação lipídica e reduzir o estresse oxidativo nos folículos capilares.

  • Biotina

A biotina, também conhecida como vitamina B7, é um dos nutrientes mais populares em muitos suplementos de crescimento capilar vendidos sem prescrição médica, principalmente devido ao seu papel na produção de queratina. No entanto, apesar da sua ampla publicidade ainda é controverso se os suplementos orais de biotina oferecem benefícios, independentemente de seus níveis sanguíneos. Patel et al., (2007) conduziram uma revisão sistemática sobre o seu uso para condições de queda capilar e concluíram que apenas os pacientes com deficiência de biotina apresentam melhora clínica após a suplementação diária, no entanto, em pacientes com níveis normais, não foram observados benefícios.

> Minerais

  • Zinco

É um poderoso promotor da recuperação dos folículos capilares, e s desregulações no seu metabolismo demonstrou um papel essencial em várias formas de queda capilar, especialmente no ET. Também existem evidências que apoiam a sua suplementação no aumento significativo da espessura do cabelo em mulheres que sofrem de queda capilar.

Com base nos dados disponíveis, bem como na popularidade que o zinco ganhou como um impulsionador do sistema imunológico, é recomendado que o mineral seja fornecido a pacientes com queda de cabelo pós-COVID-19, se a sua concentração basal estiver baixa.

  • Ferro

Sabe-se que essa anemia por deficiência de ferro está relacionada à queda capilar, e os pacientes afetados podem se beneficiar da sua suplementação. Em pacientes com TE, alguns estudos demonstraram que essa é benéfica à queda capilar. Por isso, os níveis de ferritina sérica devem ser avaliados para verificar o armazenamento de ferro, e a sua suplementação oral poderia estimular o crescimento do cabelo sempre que os níveis séricos de ferritina estiverem abaixo do limite de referência.

> Nutracêuticos de origem marinha

Vários estudos demonstraram que a administração oral de substâncias bioativas derivadas do ambiente marinho pode ter um impacto significativo no crescimento capilar em várias condições de queda de cabelo.

Formulações complexas contendo colágeno marinho hidrolisado tipo I e tipo III, pó de tubarão e moluscos e outras proteínas podem funcionar como um tratamento complementar altamente eficaz para reduzir a queda de cabelo e estimular o seu crescimento. O mecanismo de ação exato ainda não está elucidado, mas as evidências disponíveis apoiam seu uso.

Minoxidil tópico

É um agente anti-hipertensivo que utiliza suas propriedades de vasodilatação para favorecer e aumentar a circulação sanguínea no folículo capilar. Também tem a capacidade de ativar a prostaglandina sintase-1, uma enzima que promove o crescimento do cabelo. É principalmente indicado para o tratamento da alopecia androgenética, e alguns médicos também o prescrevem para a TE crônica, embora a sua eficácia ainda não tenha sido avaliada adequadamente em estudos clínicos de alta qualidade.

Sabe-se que o minoxidil tem a capacidade de estimular a transição dos folículos capilares da fase de queda (telógena) do ciclo capilar para a fase de crescimento (anágena) e prolongar ainda mais essa última. Em alguns casos, os pacientes podem experimentar aumento da queda de cabelo durante as primeiras oito semanas de tratamento. Isso indica que a substância estimula a liberação de cabelos na fase telógena, impulsionando o fim da mesma para estimular posteriormente a transição para a fase anágena. É importante informar aos pacientes que esse fenômeno paradoxal pode ocorrer, que é apenas transitório e que a terapia não deve ser interrompida.

As instruções de administração incluem a aplicação de minoxidil tópico a 5% ou 2%, em forma de espuma ou solução, uma ou duas vezes ao dia, em todo o couro cabeludo. Pode ser necessário um tratamento contínuo por 4 meses para que os efeitos benéficos se tornem visíveis.

Mesoterapia

A técnica consiste em múltiplas microinjeções intradérmicas de baixas doses de substâncias ativas, como multivitaminas, minerais, extratos de plantas, medicamentos convencionais e outras substâncias bioativas, diretamente na camada dérmica da pele. A sua eficácia, em condições de queda capilar, ainda precisa ser definida em ensaios clínicos de alta qualidade revisados por pares. Os dados disponíveis mostraram que pode ser usada como uma modalidade de tratamento adjuvante valiosa para alopecia não cicatricial em geral, e a decisão de iniciar a terapia complementar deve ser tomada de acordo com a situação de cada paciente.

A inoculação direta de substâncias na derme (intradermoterapia) é uma maneira eficaz de melhorar a nutrição dos folículos capilares localizados nesse nível, superando assim a barreira epidérmica, que reduz amplamente a penetração de medicamentos administrados topicamente. Além disso, o trauma induzido por múltiplas injeções estimula a ativação das papilas dérmicas e a produção local de citocinas e fatores de crescimento nos locais afetados, apoiando consequentemente o crescimento capilar na fase anágena.

Injeções intradérmicas e intramusculares de toxina botulínica (BTX) no couro cabeludo também foram investigadas, no entanto sua eficácia e segurança não foram claramente demonstradas. Em um recente estudo em animais, a BTX foi usada experimentalmente para investigar seu efeito na regeneração das células do folículo capilar sob condições contínuas de estresse. Os autores concluíram que a substância pode ser um indicador positivo para o tratamento da queda de cabelo, mas estudos futuros são necessários.

Plasma rico em plaquetas (PRP)

É um tratamento inovador no campo da medicina regenerativa, com o mais alto nível de evidência no recrescimento capilar, principalmente para alopecia areata e androgenética. Contém altas concentrações de fatores de crescimento autólogos e outras moléculas sinalizadoras derivadas das plaquetas sanguíneas. Essas substâncias são injetadas no tecido-alvo, possibilitando a entrega de maiores quantidades de fatores de crescimento do que a circulação sanguínea normal pode fornecer nas áreas afetadas. Nesse nível, ativa as células-tronco foliculares e promove a regeneração dos folículos capilares, prolonga a fase anágena do ciclo capilar e melhora a função do folículo capilar.

Para obter benefícios clínicos, é necessário que a preparação e composição do PRP sejam adequadamente analisadas, incluindo a sua concentração de plaquetas, a filtração de células brancas e o nível de contaminação por células vermelhas.

Apenas alguns estudos revisados por pares investigaram a eficácia da aplicação de PRP no tratamento da TE, e os resultados foram controversos. Uma recente série de casos, que incluiu 9 pacientes sofrendo com queda de cabelo acelerada associada à COVID-19, constatou que as injeções de PRP forneceram uma solução satisfatória após 4 sessões de tratamento.

Considerando que é minimamente invasivo, de baixo custo, não possui efeitos adversos e ganhou enorme popularidade no tratamento da queda de cabelo, ele pode representar um tratamento complementar útil para estimular o crescimento capilar na queda de cabelo pós-COVID-19.

Conclusão

O eflúvio telógeno após a COVID-19 é uma das manifestações pós-infecciosas esperadas de serem relatadas entre os pacientes em recuperação. A queda de cabelo tem um impacto visual significativo que provavelmente resultará na disseminação dessa condição na internet e na mídia, juntamente com informações incorretas sobre opções terapêuticas com "eficácia miraculosa" no seu tratamento. Para aprimorar o processo de regeneração capilar, nenhuma intervenção isolada é suficiente. Em vez disso, uma abordagem holística que integre as medidas gerais e locais é a estratégia mais apropriada.

Medidas gerais incluem: educar os pacientes para que compreendam que o distúrbio é reversível, integrar estratégias para lidar com o estresse, garantir uma nutrição ótima que contenha micronutrientes como vitaminas e minerais, e fornecer suplementos orais para o crescimento capilar em indivíduos nos quais deficiências de micronutrientes são detectadas. Tratamentos locais com evidências publicadas que apoiam sua validade e utilidade nesta condição incluem o vasodilatador tópico minoxidil, bem como técnicas baseadas em injeções minimamente invasivas no couro cabeludo, nas quais substâncias ativas e altas concentrações de fatores de crescimento autólogos são diretamente administrados na camada dérmica do couro cabeludo (mesoterapia e terapia com plasma rico em plaquetas).

Neste momento, as evidências científicas não indicam uma opção objetiva "melhor" para pacientes que sofrem com a queda de cabelo pós-COVID-19. A decisão de aguardar a resolução espontânea do distúrbio ou escolher estratégias complementares apropriadas que possam ajudar a promover o crescimento capilar deve ser tomada individualmente para cada paciente, após uma avaliação cuidadosa de todos os fatores fisiológicos e psicossociais, e considerando as suas preferências.