Prof. Dr. João Senger, Médico Geriatra, tira suas dúvidas com o Médico Psiquiatra Dr. Arthur Hirschfeld Danila sobre o controle da depressão e da ansiedade |
> Sabemos que os idosos, frequentemente, manifestam uma “apresentação atípica” de suas enfermidades. Quais sinais e sintomas de depressão no idoso podem ser citados?
É possível relacionar alguns sintomas e sinais importantes para constatar a depressão em pessoas idosas, como queixas de dores inexplicáveis ou agravamento de dores preexistentes; perda de peso e/ou do apetite; sentimentos de solidão, desesperança ou desamparo; falta de motivação e energia; fixação na morte, pensamentos suicidas; descuido da higiene pessoal; perda de interesse em socializar ou em passatempos; negligência com a saúde (pular refeições, não tomar os medicamentos), entre outros.1
> Quais são os fatores de risco para o desenvolvimento de depressão e ansiedade nos idosos?
Podemos relacionar os seguintes fatores que podem levar pessoas idosas a quadros de ansiedade e depressão: eventos de vida negativos; doença física; perda do(a) companheiro(a) e de entes queridos; suporte social inadequado; isolamento social; baixa renda; uso indevido de algumas medicações; baixo nível de escolaridade; “aposentadoria fracassada”; histórico psiquiátrico prévio, entre outros.2
> Como a depressão com ansiedade se manifesta nos idosos?
A partir de sintomas do humor, neurovegetativos, cognitivos e psicóticos. É frequente a somatização dos sintomas depressivos, com a presença de queixas físicas, principalmente de dores de característica crônica e progressiva. Em quadros mais graves, é possível haver prejuízo cognitivo importante associado.3
> Existem fatores que podem ser considerados diferenciais no diagnóstico de depressão frequente em idosos?
Sim, as seguintes características podem auxiliar no diagnóstico de depressão frequente em pessoas idosas:4
• comprometimento cognitivo leve;
• demência;
• distimia;
• distúrbios orgânicos, como da tireoide e de eletrólitos;
• efeitos colaterais de medicamentos;
• doenças clínicas, inflamatórias, cardiovasculares, infecciosas e neoplasias;
• transtornos de ansiedade;
• transtorno afetivo bipolar;
• transtornos de personalidade.
> Qual a classe de medicamentos antidepressivos mais indicada para o tratamento de depressão e ansiedade nos idosos?
Deve-se evitar medicamentos de uso inapropriado ou potencialmente inapropriado aos idosos, seguindo critérios estabelecidos, como na relação de Beers. Seguindo esses conceitos, a preferência recai sobre os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), como escitalopram, citalopram e sertralina, que apresentam pouca reação anticolinérgica. É necessário também levar em consideração o conjunto total de medicamentos em uso, evitando a polifarmácia.5
Dr. Arthur Hirschfeld Danila, Médico Psiquiatra, tira suas dúvidas com o Médico Geriatra Prof. Dr. João Senger sobre o controle da depressão e da ansiedade |
> Qual a prevalência de ansiedade e depressão em idosos?
Na população idosa, a depressão pode ser encontrada em 17,1% dos diagnósticos em indivíduos com mais de 75 anos de idade; em 20% a 25% em maiores de 85 anos; e em 30% a 50% em pessoas com mais de 90 anos.6
Quanto à ansiedade, entre 12% e 40,5% da população idosa recebe diagnóstico positivo para esse transtorno.7
> Qual a indicação mais consagrada de psicofármacos para tratamento de transtornos de ansiedade e depressão em idosos?
O tratamento farmacológico na ansiedade e depressão do idoso visa, obviamente, a melhora dos sintomas. Entretanto, o objetivo é também garantir a melhora da cognição e da funcionalidade, prevenindo recorrências, recaídas e efeitos das comorbidades, bem como promover apoio psicológico para lidar com as intercorrências da vida e a mortalidade, especialmente o suicídio.8
> Quais as particularidades da dosagem de psicofármacos no tratamento de transtornos de ansiedade e depressão em idosos?
Tradicionalmente, o início do tratamento no idoso é feito com doses baixas, aumentadas aos poucos, até alcançar a dose terapêutica, uma vez que a utilização de subdoses é o principal fator de resposta inadequada ao tratamento. Há necessidade de cautela quanto a interações medicamentosas e efeitos cardiovasculares.8
> Quais os efeitos colaterais mais comumente observados no tratamento de transtornos de ansiedade e depressão em idosos?
Há possibilidade de insônia ou sedação, sintomas gastrointestinais, hemorragia digestiva, tontura, quedas, confusão mental, hiponatremia, efeitos cardiovasculares do metabolismo ósseo, redução do limiar convulsivante e alterações sexuais.8
> Como manejar o uso concomitante de psicofármacos e outros medicamentos habitualmente prescritos na população de idosos?
Os efeitos colaterais iniciais podem ser conduzidos clinicamente (mudança do horário de tomada, redução da dose ou uso de sintomáticos, por curto período), sem necessidade de suspensão do medicamento, uma vez que, em geral, cedem em curto prazo.
Há medicamentos, denominados antidepressivos, que constam em listas daqueles que devem ser evitados (Critérios de Beers-Fick), como a classe dos tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina) e a fluoxetina.
É importante ressaltar que há necessidade de cautela quanto a interação medicamentosa e efeitos cardiovasculares.9
Dr. Arthur Hirschfeld Danila
CRM/SP 150.580 | RQE 62.667
Médico Psiquiatra pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Certificação em Medicina do Estilo de Vida pelo International Board of Lifestyle Medicine (IBLM). Coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida (PRO-MEV) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HCFMUSP). Colaborador do Programa de Ansiedade (AMBAN) do IPq-HCFMUSP.
Prof. Dr. João Senger
CRM/RS 12.715 | RQE 8.234
Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Unisinos. Especialista em Geriatria, Clínica Médica e Nutrologia pela Associação Médica Brasileira (AMB). Professor assistente da faculdade de medicina da Universidade Feevale. Professor colaborador do curso de pós-graduação em Gerontologia na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Diretor e pesquisador do Instituto Moriguchi – Centro de Estudos do Envelhecimento.