Cinema em casa

Filmes que abordam problemas de saúde mental

Do transtorno bipolar à esquizofrenia paranoide. Do TOC à anorexia. Da falta de serviços para os mais vulneráveis.

Com a atual ampla gama de plataformas de streaming, temos filmes sobre diferentes temas a apenas um clique de distância. Um tema amplamente utilizado no mundo cinematográfico é a saúde mental. De fato, muitos longas-metragens ajudaram a aumentar a conscientização sobre diferentes condições além de contar uma história em particular. Aqui, escolhemos cinco filmes que ajudaram a dar visibilidade a diferentes situações.

  • O lado bom da vida

O filme conta a história de Pat (Bradley Cooper), que trabalhava como professor de história até sofrer um episódio de paranoia e violência após descobrir que sua esposa o estava traindo. Depois de bater no amante de sua esposa, ele foi diagnosticado com transtorno bipolar. Sua condição o leva a se mudar para a casa de seus pais, que farão de tudo para evitar recaídas. Enquanto o objetivo de Pat é reconquistar sua esposa, ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma jovem que também sofre de uma doença mental que mudará sua vida, enquanto eles tentam chegar a um objetivo comum inesperado.

 

 

No filme é possível notar uma ansiedade de Pat, de ser melhor do que ele era, de ser quem sua ex-esposa adoraria que ele fosse, tanto fisicamente quanto afetivamente. Na fala: “Preciso entrar em forma e me preparar para Nikki”, ilustra bem essa ânsia. No decorrer, observa-se certos sintomas de labilidade afetiva, onde suas transições e oscilações de humor eram recorrentes com simples e minuciosos acontecimentos de seu cotidiano.  Além disso, o filme demonstra o episódio maníaco, onde apresentava altos níveis de energia, com certa agitação psicomotora na maior parte do tempo. Além da alteração na fala, logorréia, não conseguindo conter o que falava. Por fim, apresentou uma intensa irritabilidade patológica, na qual a impaciência e a intolerância se exaltavam.

Tiffanny não foi diagnosticada com nenhuma patologia, porém, é possível notar alterações emocionais e psicomotoras. Com ambivalência e labilidade afetiva, onde muitas vezes seus sentimentos eram opostos em relação a Pat. Ademais, traz sintomas de distimia, com certa inibição ou exaltação de humor, no qual apresentou grande irritação e agressividade. É possível ainda observar a agitação psicomotora no decorrer do filme e a histriônica, onde ela sentia necessidade de chamar atenção de Pat.

Título original: Silver lining playbook (2012). Protagonistas: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro. Direção: David O. Russell.


  • Melhor é impossível

Melvin Udall, papel interpretado por Jack Nicholson, é um escritor que tem o hábito de fazer comentários ácidos e maldosos para ofender as pessoas. Além disso, é um homem metódico que não costuma alterar sua rotina: toma café todos os dias, no mesmo horário e na mesma lanchonete. Udall sofre de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), o que permitiu ao grande público conhecer algumas de suas manifestações, já que o personagem principal usa um sabonete inteiro para uma única lavagem das mãos, traz seus próprios talheres para o restaurante e não fica a menos que sempre ofereceu a mesma mesa e servido pela mesma garçonete, interpretada por Helen Hunt.

 

 

Embora aborde o TOC como foco de sua trama, Melhor É Impossível não dramatiza a doença e insere um tom leve para desmistificar o assunto. O longa também não trouxe às telas um personagem que se resume a apenas ao transtorno que tem. Pelo contrário, Melvin, apesar de suas graves manias, tornou-se um personagem único que apresenta traços de sua personalidade que criam proximidade e identificação com o público.

Titulo original: As good as it gets (1997) Protagonistas: Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinnear. Direção: James L. Brooks.  
 


  • O mínimo para viver

O filme, estrelado por Lily Collins e baseado em várias histórias reais, mostra a vida de Eli, uma jovem com anorexia. Depois de passar por diferentes estabelecimentos, ela é internada em um centro de reabilitação onde encontrará um médico que a ajudará em sua dura batalha. No local ela conhece e se afeiçoa aos frequentadores, desde um jovem que não consegue dançar devido a uma lesão até uma mulher que queria se recuperar para não perder mais gestações e se tornar mãe.

 

 

O filme mostra uma jovem que, ao não poder elaborar situações complexas da vida, desenvolve recursos de sobrevivência psíquica utilizando o próprio corpo. Encarna no corpo e torna palpável aquele afeto que na vida real não consegue enfrentar: controla o sistema digestivo, tomado na sua maior concretude, de tubo de entrada e saída de alimento, ali, onde o afeto não é digerido, é expelido para o corpo sem deixar marca psíquica.

Não tendo aparato mental que consiga fazer frente aos desafios do seu nível de exigência de ser a melhor profissional, de ser o ideal grego de beleza, já que ideal é por definição algo não atingível, a decepção consigo é repetidamente vivida no corpo, entre comer e vomitar, controlando severamente e castigando seu corpo nos exercícios doloridos, para conseguir um pouco de paz mental.

Implícita está a fantasia inconsciente de que, ao exigir de seu corpo o impossível com os exercicios (quase um castigo), e privar-se dos alimentos (fonte da vida), seu ideal imaginário de perfeição será alcançado. Que perfeição é essa a ser alcançada?

Título original: To the bone (2017). Protagonistas: Lily Collins, Keanu Reeves, Carrie Preston. Direção: Marti Noxon.


  • Coringa

O filme, com Joaquin Phoenix em seu papel principal, não se limita a documentar as origens do arquiinimigo de Batman, que antes de adotar a identidade do Coringa se chamava Arthur Fleck. É também uma espécie de exemplo de como, por intolerância ou desconhecimento, parte da sociedade acaba marginalizando os portadores de transtornos mentais, a ponto de deixá-los desamparados. O filme, além de contar uma história, busca conscientizar sobre a necessidade de abordar essa complexa questão.

 

“A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não tivesse.”

Essa é uma das frases mais marcantes do filme. O filme retrata uma visão mais humana e insana ao mesmo tempo, ao expor de forma gradual a enxurrada de desastres pessoais de Arthur Fleck que nos faz inicialmente empatizar com o sofrimento deste, que ao invés de cair em um tanque de produtos químicos, é adotado e fruto de uma sociedade tóxica.

O vilão, mostra com detalhes sofrimentos de diferentes escalas, na infância vítima de violência doméstica, muitos golpes na cabeça e espancamentos que possivelmente agravaram ou até lhe ocasionaram o transtorno neurológico “risada patológica” também conhecida como afeto pseudobulbar ou labilidade emocional, sequela que causa grave dificuldade de controlar as expressões emocionais, com acessos de riso ou choro de forma involuntária, o que muitas vezes causa desconfortos sociais.

Um momento chave na continuidade da trama foi o primeiro assassinato cometido por Arthur, dos três Yuppie, ocasião de gatilho que fez cair por terra as frágeis barreiras psíquicas que mantinham Arthur num convívio tênue com as normas sociais, início de cisão (mecanismo de defesa) ao alimentar em Arthur uma sensação de destaque, poder e notoriedade, ao passo que este crime incita e alimenta uma revolta social em Gotham City. Após o crime, Arthur expõe à profissional de saúde mental que o acompanha esta sensação de identificar-se com o que a mídia dizia ser status social (funções que um sujeito pode ocupar) e nasce para Arthur a acepção de uma espécie de justiceiro como possível novo status quo (sentir-se no exercício de direitos e deveres que uma pessoa tem ao ocupar um determinado status social).

Título original: Joker (2019). Protagonistas: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beets. Direção: Todd Phillips.


  • Uma mente brillante

Neste longa-metragem, Russell Crowe interpreta o matemático John Nash, que acaba recebendo um diagnóstico de esquizofrenia paranoica. O filme o mostra desde seu tempo de estudante na Universidade de Princeton, onde se destacou por sua excentricidade e brilhantismo. Por trabalhar em uma teoria sobre os mercados financeiros, que alcançou grande repercussão, conseguiu um cargo no MIT (Massachusetts Institute of Technology) onde trabalhou secretamente para o governo dos Estados Unidos. Sua perigosa missão coincide com a época de seu diagnóstico. No entanto, nada o impediu na hora de perseguir seus sonhos. Depois de anos de tratamentos sangrentos que tentavam ajudá-lo a superar sua doença mental, John Nash conseguiu manter-se sem sintomas. Seu trabalho interno foi, como é óbvio, descomunal até o fim de sua dias. Logicamente viver sem ser capaz de discernir o que é real e o que não é foi muito complicado; no entanto, a mente brilhante de Nash conseguiu.

 

Título original: A beautiful mind (2001). Protagonistas: Russell Crowe, Ed Harris, Jennifer Connelly. Direção: Ron Howard.