Huang e colaboradores relataram recentemente que até 76% dos pacientes que receberam alta após a hospitalização por COVID-19 tiveram pelo menos um sintoma que persistiu 6 meses após o início da doença, incluindo fadiga ou fraqueza muscular (63%), dificuldades para dormir (26%) e ansiedade ou depressão (23%). Além disso, mais de 50% dos pacientes apresentavam imagens anormais de TC de tórax, indicando função pulmonar prejudicada.
Ainda que o SARS-CoV-2 afete principalmente os pulmões, muitos outros órgãos também são afetados. Os sintomas gastrointestinais são comuns em pacientes com COVID-19, podendo ser o único sintoma ou podem estar presentes antes dos sintomas respiratórios. O receptor celular do SARS-CoV-2, ACE2, é altamente expresso no intestino, e o SARS-CoV-2 foi observado no tecido do cólon e nas fezes de pacientes com COVID-19.
Portanto, examinou-se as sequelas gastrointestinais de longo prazo da infecção por SARS-CoV-2 em 117 pacientes internados, sendo 45% idosos, por COVID-19 em 12 hospitais nas províncias de Hubei e Guangdong, na China, entre 16 de janeiro e 7 de março de 2020. Geralmente, um mês após a alta marcou-se uma consulta de retorno e 90 dias após fez-se uma entrevista por telefonema.
Os sintomas mais frequentes foram:
Os sintomas gastrointestinais foram registrados em 13% dos pacientes na admissão e em 42% durante a internação.
O tempo médio de internação foi de 19 dias (IQR 16-23), durante os quais 87% dos pacientes necessitaram de oxigênio suplementar; 21% tiveram diminuição da saturação de oxigênio, 28% estavam gravemente doentes e 24% necessitaram de admissão na unidade de terapia intensiva.
As sequelas gastrointestinais foram definidas como sintomas que ocorreram após a alta, mas não estavam presentes durante o mês anterior ao início do COVID-19. Na entrevista por telefone, 52 pacientes relataram sintomas gastrointestinais, dos quais 51 pacientes tiveram os sintomas 90 dias após a alta e 1 teve sequelas que desapareceram no seguimento de 90 dias.
As sequelas gastrointestinais mais frequentes foram:
As sequelas gastrointestinais menos frequentes incluíram: distensão abdominal em 14% dos pacientes, arrotos em 10%, vômitos em 9%, dor abdominal em 7% e fezes com sangue em 2%.
Nenhum dos 65 pacientes sem sequelas gastrointestinais apresentou, aos 90 dias, sintomas gastrointestinais na admissão ou durante a internação
Dos 52 pacientes com sequela gastrointestinal após a alta hospitalar, 29% apresentaram sintomas gastrointestinais na admissão e durante a hospitalização, 65% tiveram esses sintomas durante a internação e 6% tiveram somente após a alta hospitalar.
Pacientes com sequelas gastrointestinais aos 90 dias foram semelhantes em idade, sexo, índice de massa corporal e incidência de comorbidades àqueles sem sequelas gastrointestinais que tiveram um tempo de internação hospitalar semelhante.
Os resultados dos exames de sangue na admissão mostraram que a contagem de leucócitos, a contagem de neutrófilos e a concentração de procalcitonina (PCT) foram maiores nos pacientes com sequela gastrointestinal aos 90 dias, embora os valores em ambos os grupos estivessem dentro da normalidade.
As concentrações de proteína C reativa foram maiores em pacientes com sequelas gastrointestinais em 90 dias do que naqueles sem sequelas.
Os exames de sangue, 90 dias após a alta, mostraram que a alanina aminotransferase estava mais elevada em pacientes com sequelas gastrointestinais. Nenhuma outra diferença foi observada; a PCT e a proteína C reativa não foram testadas após 90 dias.
Em comparação com pacientes sem sequela gastrointestinal em 90 dias, os pacientes com sequela gastrointestinal apresentaram mais frequentemente dispneia (23% vs 12%) e mialgia (17% vs 11%) na admissão, embora essas diferenças não tenham sido significativas.
Pacientes com sequelas gastrointestinais adoeceram com menos frequência do que aqueles sem sequelas gastrointestinais (17% vs 37%; p = 0,021), embora após o ajuste para fatores de confusão, essa diferença não foi significativa (p = 0,051).
Pacientes com sequela gastrointestinal aos 90 dias apresentaram menor frequência de oxigenoterapia suplementar (79% vs 94%; p = 0,016), e tendência de menor frequência de admissão em unidade de terapia intensiva durante a internação.
Pacientes com sequelas gastrointestinais em 90 dias foram tratados mais frequentemente com inibidores da bomba de prótons (IBP) e corticosteroides e foram tratados menos frequentemente com nutrição enteral do que pacientes sem tais sequelas.
Sequelas gastrointestinais, incluindo perda de apetite, náuseas, refluxo ácido e diarreia, são comuns em pacientes 3 meses após a alta hospitalar por COVID-19.
Os sintomas gastrointestinais persistentes têm implicações importantes para o manejo adequado dos pacientes e dos recursos de saúde. Os dados destacarm a importância do cuidado gastrointestinal e do suporte nutricional para pacientes que receberam alta após internação por COVID-19.
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