Revisão sistemática e metanálise

Convulsões após um acidente vascular cerebral

O estudo destacou a importância dos ensaios e intervenções para prevenir as convulsões em pacientes com antecedentes de acidente vascular cerebral

Autor/a: Shubham Misra, Scott E. Kasner, Jesse Dawson y otros

Fuente: JAMA Neurol. September 18, 2023

Introdução
A doença vascular cerebral é a primeira causa de epilepsia de nova aparição em idosos e representa quase 50% dos casos.

As taxas de mortalidade por acidente vascular cerebral (AVC) têm diminuído devido aos avanços nos tratamentos para o AVC hiperagudo, incluindo a trombólise intravenosa ou a trombectomia endovascular. Como resultado, estes vivem mais tempo.

Dado que o AVC é a causa mais comum de epilepsia de nova aparição nos idosos, é provável que também aumente a carga de convulsões posteriores a um acidente vascular cerebral (CPAVC). Essas prejudicam a qualidade de vida porque requerem que os pacientes tomem medicamentos anticonvulsivos com efeitos cognitivos e outros efeitos adversos associados, implicando no risco de lesões e na morte súbita por convulsões inesperadas e impõem restrições no trabalho, a condução e outros aspectos da vida diária.

Estudos anteriores indicaram que as crises epiléticas afetam negativamente os resultados funcionais, neurológicos e cognitivos dos pacientes com AVC. No entanto, os dados publicados são inconsistentes e, até onde sabemos, não têm sido avaliados sistematicamente.

Portanto, Misra e colaboradores (2023) realizaram uma revisão sistemática integral e uma metanálise para investigar a associação de resultados, incluindo a mortalidade, o resultado funcional deficiente, a incapacidade, o AVC recorrente e a demência em pacientes com CPAVC em comparação os controles.

Fonte de dados

MEDLINE, Embase, PsycInfo, Cochrane, LILACS, LIPECS e Web of Science, com anos de busca entre 1951 até 30 de janeiro de 2023.

Extração e sintese de dados

Foi utilizado a lista de verificação de elementos de informe preferidos para revisões sistemáticas e metanálises para resumir os dados, e a ferramenta do Instituto Joanna Briggs foi utilizada para a avaliação de risco de viés. Os dados se informaram como odds ratio (OD) e diferença de média padronizada (DME) com um IC de 95% mediante uma metanálise de efeitos randomizados.

O viés de publicação foi avaliado mediante gráficos e prova de Egger. Se realizaram análises de valores atípicos e metarregressão para explorar a fonte de heterogenoicidade. Os dados foram analisados desde novembro de 2022 até janeiro de 2023.

Principais resultados e medidas  

Os resultados medidos foram mortalidade, mau resultado funcional (escala de Rankin modificada [mRS] pontuação de 3 a 6), incapacidade (pontuação média de mRS), AVC recorrente e demência no acompanhamento do paciente.

Resultados 

A busca retornou 71 artigos elegíveis, incluindo 20.110 pacientes com CPAVC e 1.166.085 controles. Dos participantes com CPAVC, 1.967 (9,8%) tiveram convulsões precoces e 10.605 (52,7%) tiveram tardias.

O risco de viés foi alto em 5 estudos (7,0%), moderado em 35 (49,3%) e baixo em 31 (43,7%). CPAVCs foram associados ao risco de mortalidade (OR, 2,1; IC 95%, 1,8-2,4), mau resultado funcional (OR, 2,2; IC 95%, 1,8-2, 8), maior incapacidade (SMD, 0,6; IC 95%, 0,4-0,7) e maior risco de demência (OR, 3,1; IC 95%, 1,3-7,7) em comparação com pacientes controles.

Nas análises de subgrupos, as convulsões precoces, mas não tardias, foram associadas à mortalidade (OR, 2,4; IC 95%, 1,9-2,9 vs. OR, 1,2; IC 95%, 1,9-2,9), 0,8-2,0) e isquemia e os subtipos de AVC hemorrágico foram associados à mortalidade. (OR, 2,2; IC 95%, 1,8-2,7 vs. OR, 1,4; IC 95%, 1,0-1,8).

Conclusão

Os resultados sugeriram que as convulsões posteriores a um AVC foram associadas com um risco duplicado de morte e incapacidade grave e, portanto, constituem uma carga importante da doença.

A prevenção da PSS é uma alta prioridade clínica e de investigação. Também foram observados uma variação significativa nos padrões de apresentação de informes na literatura publicada e por isso, os autores propuseram direções futuras para a investigação das convulsões posteriores a um acidente vascular cerebral.

Os esforços científicos colaborativos devem dirigir-se a abordar estes desafios. O papel da gravidade dos acidentes e a ubiquação no volume da lesão também requerem mais análises.

Se aprofundar nestas associações é uma alta prioridade clínica e de investigação. É possível sejam justificados ensaios de intervenções para prevenir as convulsões.