Dia Internacional da Tireoide

Câncer de tireoide e alimentação

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados, no Brasil, 13.780 novos casos de câncer de tireoide.

Autor/a: Laura Faustino Gonçalves;Cláudia Tiemi Mituuti2; Patrícia Haas

Fuente: Efetividade da Alimentação na Prevenção do Câncer de Tireoide: Revisão Sistemática

Introdução

A tireoide é a glândula endócrina responsável pela produção dos hormônios tireoidianos. Ela sofre alterações metabólicas que podem ocasionar doenças benignas ou malignas, como, por exemplo, o câncer.

O câncer de tireoide, é uma das malignidades endócrinas mais comuns, e constituem 90% dos tumores endócrinos. Em 2018, houve 567 mil novos diagnósticos no mundo, equivalente a 3% de todos os cânceres, ocupando a nona posição mundial. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados, no Brasil, 13.780 novos casos de câncer de tireoide (1.830 em homens e 11.950 em mulheres).

Os primeiros sintomas da doença começam como um pequeno tumor que se manifesta como um nódulo assintomático. O diagnóstico pode ser realizado com exame clínico na região do pescoço, associado ao exame de ultrassonografia. Posteriormente, realiza-se uma biópsia para determinar se o tumor é maligno ou benigno.

A etiologia não é bem compreendida, no entanto, os especialistas sugerem que fatores de estilo de vida ou ambientais, como dieta, podem desempenhar um papel importância no aparecimento do câncer.

Com isso, Gonçales e colaboradores (2022) realizaram uma revisão sistemática com objetivo de verificar a efetividade da alimentação na prevenção do câncer de tireoide.

Métodos

Para a seleção dos estudos, utilizou-se a combinação baseada no MedicalSubject Heading Terms (MeSH).  Foram utilizadas as bases de dados MEDLINE (PubMed), LILACS, SciELO, BIREME e Scopus. O período de busca dos artigos compreendeu entre janeiro de 2010 até março de 2020, sem restrição de idioma e localização.

Resultados

Foram recuperados 32 artigos com potencial de inclusão, sendo que três responderam à pergunta norteadora que consistiu em analisar qual a efetividade da alimentação na prevenção do câncer de tireoide.

Cléro e colaboradores (2012) identificaram em seu estudo que cerca de 90% dos casos de câncer de tireoide eram em mulheres, 80% dos participantes com câncer de tireoide e 60% dos casos-controle estavam com sobrepeso ou obesidade. O estudo comparou a dieta ocidental (dieta com carne vermelha, carne de porco, ovos, comida chinesa, cereais, alimentos ricos em amido, bolos, bebidas doces, bebidas alcóolicas e café) com a dieta da Polinésia Francesa (alto consumo de peixe, mariscos, frutas cítiricas, banana, manga, tubérculos e lacticíneos), no entanto, não encontraram associação entre o padrão alimentar ocidental e o risco de câncer de tireoide, porém um padrão alimentar polinésio tradicional indicou um considerável risco de desenvolver esse câncer.

Um questionário de frequência alimentar validado, que abrange 106 itens alimentares, foi realizado Cho e colaboradores (2016) com objetivo de calcular a ingestão de nutrientes dos participantes. O alto consumo de cálcio foi associado a um risco reduzido de câncer de tireoide, no entanto, não observaram associações significativas entre o risco de câncer de tireoide e outros nutrientes.

Haslam et al., (2011) por meio de um questionário de base, analisaram dados demográficos, estado de saúde e consumo de peixe e obtiveram que os casos-controle (108 participantes) relataram um consumo médio mensal mais alto de peixes; além disso, foram mais propensos a ter uma alta ingestão a longo prazo de ômega-3 em comparação com os casos de pacientes com câncer de tireoide. A ingestão de ômega-3 foi associada a uma menor chance de desenvolvimento de câncer da tireoide.

Discussão

A alimentação, estilo de vida e outros fatores de risco ambiental são determinados como fatores de risco para o câncer de tireoide de acordo com estudos. Alguns relataram que os fatores alimentares como produtos processados e industrializados podem desempenhar um papel significativo na causa do câncer da tireoide, possivelmente influenciando os hormônios da tireoide e sua função.

Segundo a literatura, as principais formas de evitar o câncer é ingerir uma alimentação saudável, praticar atividade física e manter o peso corporal adequado. Ingestão de alimentos ricos em origem vegetal como frutas, legumes, verduras, cereais integrais, feijões e outras leguminosas e uma alimentação pobre em alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas podem prevenir novos casos de câncer. A pesquisa de Baenal (2015) citou que dietas à base de vegetais, como frutas, verduras, leguminosas e grãos integrais, os quais contêm grande quantidade de fitoquímicos bioativos, tendem a reduzir o risco de doenças crônicas. Já o aumento do consumo de peixes está associado com menor mortalidade e morbidade cardiovascular, além de efeitos positivos no metabolismo das lipoproteínas, coagulação e função das plaquetas, função endotelial e rigidez arterial.

Um estudo de caso controle realizado por Przybylik--Mazurek et al., (2012) realizou um questionário com informações sobre os padrões alimentares. Nele havia 284 pacientes de intervenção (com câncer de tireoide), no qual 30 eram homens com idade média de 58 anos e 254 mulheres com idade média de 52 anos e 345 controles. Analisaram os principais produtos nutricionais, ou seja, alimentos ricos em amido, carne, vegetais, frutas e bebidas. Como resultado, observaram que o consumo de vegetais, frutas, peixe de água salgada e queijo foi significativamente menor em pacientes com câncer de tireoide do que nos participantes sem diagnóstico de câncer de tireoide.

Schwingshackl e Hoffmann (2009) citam que a dieta mediterrânica se caracteriza por conter alimentos antioxidantes e anti-inflamatórios. Segundo pesquisas, essa dieta está relacionada à prevenção do envelhecimento e de várias doenças crônicas. Eles relataram que a adoção dessa dieta pode estar correlacionada com um risco reduzido de vários tipos de câncer.Em um estudo de caso-controle, Liang et al., (2020) examinaram a associação entre o padrão alimentar e o risco de câncer de tireoido no período de 2010 e 2011. O estudo incluiu 390 pacientes com câncer de tireoide e 436 indivíduos controles. Os participantes responderam um questionário alimentar com base em 3 dietas: dieta com prevalência de alimentos com amidoe produtores açucarados; dieta à base de frutas e legumes; e dieta com prevalência de proteína e gordura. Os achados mostram que a dieta com predomínio de frutas e vegetais foi significativamente associada a um risco reduzido de câncer de tireoide. Quando comparadas às mulheres mais jovens, foi observado um efeito protetor maior em mulheres com idade ≥50 anos em relação ao risco de desenvolver o câncer de tireoide. Dieta rica em alimentos com amido mostrou-se efetiva na proteção ao câncer de tireoide, contudo, dietas nas quais prevalecem alimentos açucarados demonstraram não ser efetivas

Conclusão

Os dados encontrados a partir desta revisão sistemática evidenciaram que um alto consumo de cálcio parece estar associado a um risco reduzido de câncer de tireoide. Além disso, os autores corroboram que a ingestão prolongada de ômega-3 parece ser protetora para o desenvolvimento de câncer de tireoide. As análises demonstram também que mulheres apresentam significativamente maior probabilidade de desenvolver câncer de tireoide em relação aos homens.