A indústria agroalimentar está se voltando para a inovação. Ao mesmo tempo em que o uso dos recursos terrestres e marinhos está cada vez mais eficiente, técnicas inovadoras para produção de novos alimentos em laboratórios estão sendo desenvolvidas. Filés de proteína vegetal feitos em impressoras 3D ou carne de frango cultivada em laboratório a partir de células-tronco são apenas algumas das novidades mais espetaculares e ainda raras. Há também toda uma série de inovações que pressagiam mudanças na produção e consumo de alimentos e têm a ver, por exemplo, com o uso de bactérias em novos métodos de fermentação para fazer alimentos, a criação de fazendas verticais em grandes edifícios ou a popularização do consumo de insetos globalmente. Todas essas e outras novidades possíveis na alimentação parecem responder a novas necessidades e tendências sociais, mas são tantas as variáveis em jogo que é certamente difícil antecipar o que comeremos nas próximas décadas.
O aumento dos leites sem lactose e à base de vegetais não pode ser explicado apenas invocando motivos de saúde, da mesma forma que o surgimento da carne vegana não responde apenas por motivos ambientais. Além das variáveis de saúde e sustentabilidade, duas das mais importantes no consumo alimentar, existem outros fatores que devem ser considerados para analisar o futuro de qualquer inovação alimentar. Um deles, de importância crescente, é o repúdio à produção de carne baseada na crueldade com os animais. O fato de haver atualmente carne barata se deve em grande parte às condições de abuso em que é produzida, portanto, qualquer alternativa também deve ter um custo competitivo e acessível. E não é tudo: quando se fala em consumo alimentar, devemos também levar em consideração as variáveis tradicional-inovador, puro-impuro, palatável-nojento e natural-artificial, nas quais há grande diversidade individual e social.
Essa variabilidade é vista no desgosto que algumas pessoas sentem pelos alimentos que algumas populações humanas comem, como vermes e insetos. Francisco Grande Covián dizia que é mais fácil mudar de religião do que de comer, mas esse argumento vem perdendo força com a globalização da dieta nas últimas décadas e a popularização de alimentos como o peixe cru típico da comida japonesa nos países sem essa tradição. Os mais novos são os que estão mais abertos a incorporar hábitos alheios à tradição, como o consumo de insetos. Atualmente, existem cerca de 2.000 milhões de pessoas que comem cerca de 2.000 espécies de insetos ao redor do mundo, e esse padrão alimentar está surgindo como uma das tendências globais por razões econômicas e de sustentabilidade, uma vez que os insetos são um recurso barato e mais eficiente do que outros animais na produção de proteínas.
Comer é um ato social profundamente ideológico.
Nesse contexto, não seria surpreendente que novos termos fossem cunhados para promover a preferência por insetos na dieta (“entovorismo”, “entovegetarismo”). Todos os movimentos que promovem a alimentação orgânica, seja o veganismo, o vegetarianismo, o flexitarismo ou o locavorismo (alternativa que prioriza os produtos locais) nos lembram que comer é um ato social profundamente ideológico. Da mesma forma, a rejeição dos alimentos transgênicos é um exemplo recente do grande peso que a ideologia e a irracionalidade podem ter na dieta, maior do que os dados objetivos. Portanto, não será fácil para o consumidor tomar decisões sobre as inovações alimentares emergentes, entre outras coisas porque não sabemos muito bem em que medida elas resolvem necessidades reais e quais os novos problemas que podem causar. Mas o que parece claro é que a inovação alimentar veio para ficar.