Tecnologia de saúde

O 'curativo inteligente' para tratar feridas crônicas

Os pesquisadores são os primeiros a desenvolver uma bandagem que pode transmitir sem fio informações sobre os níveis de umidade da ferida, um parâmetro-chave na cura.

Autor/a: Marta Tessarolo, Luca Possanzini, et al.

Fuente: Wireless Textile Moisture Sensor for Wound Care

Como os médicos podem ter certeza de que uma ferida enfaixada está cicatrizando sem removê-la?

Isso é um enigma, pois a retirada do curativo pode interromper o processo de cicatrização. A tecnologia apresentada em um novo estudo na revista de acesso aberto Frontiers in Physics pode ajudar.

Essa nova 'bandagem inteligente' contém um sensor que pode medir com muita sensibilidade os níveis de umidade da ferida e, em seguida, transmitir os dados para um smartphone próximo, sem a necessidade de médicos removerem a bandagem. No futuro, alterando a geometria e os materiais do curativo, os pesquisadores podem ajustá-lo para se adequar a diferentes tipos de feridas. A tecnologia pode ajudar os médicos a controlar as feridas com mais facilidade e sucesso.

As feridas crônicas podem ser uma fonte de sofrimento significativo e incapacidade para os pacientes que as sofrem. Fazer com que essas feridas curem é complicado e há muitos fatores que podem afetar a cicatrização, incluindo temperatura, níveis de glicose e acidez. No entanto, um dos mais importantes são os níveis de umidade. Muito seco e o tecido pode secar; muito úmido e pode ficar branco e enrugado, como no banheiro. Ambas as situações interrompem o processo de cura.

No entanto, se o médico quiser verificar os níveis de umidade de uma ferida, o curativo deve ser removido, o que pode danificar o delicado tecido cicatricial. Esses problemas inspiraram a bandagem inteligente, como uma forma de controlar os níveis de umidade da ferida de forma não invasiva. A escolha dos materiais foi desafiadora, pois os curativos devem ser biocompatíveis, descartáveis ​​e baratos.

> Como funciona

Para isso, os pesquisadores aplicaram um polímero condutor denominado poli (3,4-etilenodioxitiofeno): sulfonato de poliestireno (PEDOT: PSS) em gaze usando uma técnica chamada serigrafia e, em seguida, incorporaram a gaze com materiais para curativos disponíveis no mercado. A ideia é que mudanças no nível de umidade da ferida causem uma alteração em um sinal elétrico medido pelo sensor.

Figura 1: (A) Sensor de umidade integrado em um curativo real e conectado a uma interface NFC. (B) A comunicação sem fio com um leitor NFC (um smartphone) permite a medição quantitativa para investigar a condição da ferida em tempo real.

"PEDOT: PSS é um polímero semicondutor orgânico que pode ser facilmente depositado em vários substratos como tinta padrão", explicou a Dra. Marta Tessarolo, da Universidade de Bolonha, autora do estudo. “Também incorporamos uma etiqueta RFID barata, descartável e compatível com o curativo, semelhante às usadas para etiquetas de segurança em roupas, ao remendo têxtil. A tag pode comunicar sem fio os dados do nível de umidade com um smartphone, permitindo que a equipe de saúde saiba quando um curativo precisa ser trocado."

Para testar suas bandagens, os pesquisadores os expuseram a exsudato artificial de feridas, que é o fluido que vaza das feridas, e também testaram diferentes materiais e formatos de bandagens. Eles descobriram que o curativo era muito sensível, fornecendo leituras drasticamente diferentes entre condições secas, úmidas e saturadas, sugerindo que poderia ser uma ferramenta valiosa no tratamento de feridas.

"Desenvolvemos uma gama de curativos com várias camadas e diferentes propriedades e características de absorção", disse o Dr. Luca Possanzini, outro autor da Universidade de Bolonha. “A ideia é que cada tipo de ferida possa ter seu próprio curativo, desde feridas que gotejam lentamente até feridas que gotejam muito, como queimaduras e bolhas. No entanto, precisaremos otimizar ainda mais a geometria do sensor e determinar os valores de sensor apropriados para a cura ideal antes de podermos aplicar nossa tecnologia a vários tipos de feridas.”