Risco ocupacional

Profissionais de saúde devem ser imunizados contra HPV?

A fumaça cirúrgica pode representar o mecanismo de exposição ao vírus

Indice
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2. Referências Bibliográficas

Embora mais comumente associada ao câncer do colo do útero, diferentes condições podem se desenvolver após a infecção persistente do Papilomavírus humano (HPV). Em 2010, o câncer de orofaringe superou o cervical como o mais comum associado ao HPV.1 Apesar de uma melhor compreensão do escopo da doença, há pouca atenção ao risco de infecção que os médicos podem enfrentar ao tratar essa condição. Com isso, um “risco ocupacional” de exposição ao vírus ainda permanece indefinido.

A fumaça cirúrgica, por exemplo, é um perigo reconhecido para os profissionais de saúde que trabalham na sala cirurgica2,3 e pode representar o mecanismo de exposição ao vírus. A fumaça gerada por eletrocautério e dispositivos a laser geralmente contêm DNA de HPV,4-7 e a inalação do conteúdo viral a partir desses aerossóis foi correlacionado ao desenvolvimento de HPV associado à doença orofaríngea.8-10

Diversos estudos encontraram DNA de HPV em amostras de aerossóis cirúrgicos produzidos durante procedimentos ginecológicos.11-14 O maior incluiu 134 pacientes com neoplasia intraepitelial cervical (NIC) sob excisão eletrocirúrgica.14 Amostras coletadas do colo do útero, fumaça cirúrgica e narinas dos médicos foram testados para DNA de HPV. Em torno de 30% continham DNA viral, e o HPV detectado correspondeu ao mesmo tipo das amostras cervicais. O DNA do papilomavírus humano também foi identificado em duas das amostras nasais (1,5%; 2/134) coletadas de médicos após a realização dos procedimentos. Em ambos, houve concordância do tipo de HPV entre as três fontes de amostra. Outros estudos também verificaram que o DNA do HPV pode ser identificado em 17-39% das fumaças capturadas durante procedimentos de excisão eletrocirúrgica de loop.11,12 Nestes, quando o HPV foi detectado nos aerossóis, a correlação com o tipo de HPV na amostra do procedimento de excisão eletrocirúrgica em alça foi elevada. Esses resultados sugerem que cirurgiões ginecológicos expostos a fumaça cirúrgica podem ser contaminados por HPV.

Pelo menos quatro relatos de caso descreveram o HPV associado a doença em profissionais de saúde com substancial exposição ocupacional. Dois casos de câncer de orofaringe associado ao HPV-16 foram descritos ocorrendo em cirurgiões ginecológicos que praticavam cirurgia a laser.8 Outro relatou um cirurgião colorretal diagnosticado com papilomatose laríngea após a realização de uma cirurgia a laser para tratar condilomas anogenitais, confirmada por uma biópsia da laringe positiva aos subtipos 6 e 11. O quarto expôs uma enfermeira que trabalhava em uma sala de cirurgia auxiliando em procedimentos ginecológicos a laser que desenvolveu papilomatose laríngea.10

Existem limitações para as evidências disponíveis. Como, por exemplo, a dificuldade de comparar a cirurgia a laser com outros métodos, devido a produção de uma fumaça cirúrgica com composição diferente. Além disso, alguns estudos questionaram se os médicos seriam realmente expostos a fumaça cirúrgica contendo HPV quando utilizariam equipamento de proteção adequado e dispositivos de evacuação de fumaça.13 Ademais, a avaliação da exposição ocupacional ao HPV incluiu locais não ginecológicos da doença (por exemplo, verrugas plantares). Finalmente, a ligação entre a exposição e o resultado da doença não é comprovado fora de um ambiente altamente controlado que pode não ser representativo ao possível risco ocupacional que os médicos enfrentam.

Mesmo com essas questões, a exposição ocupacional ao HPV continua sendo um risco plausível aos profissionais envolvidos. Regulamentos federais e diretrizes devem delinear estratégias para mitigar os riscos relacionados.17-20 Essas incluem teste de ajuste de máscara facial respiratória N95, evacuação mecânica de fumaça com filtragem de alta eficiência e sala com ventilação eficaz. Somando-se a esses planejamentos, a vacinação contra o HPV pode ser considerada uma medida preventiva para profissionais de saúde envolvidos no tratamento de doenças associadas ao vírus.

Em 2018, a Food and Drug Administration (FDA) expandiu a aprovação para Gardasil-9 (Vacina contra o Papilomavírus Humano, nonavalente, recombinante, adsorvida) para uso em todos os adultos até 45 anos.21,22 Outras organizações estão considerando recomendações semelhantes, apesar de reconhecerem a limitação nos dados que apoiem a eficácia da vacina ou a relação custo-benefício dentro deste contexto. A imunização deve ser considerada por todos os profissionais de saúde envolvidos no tratamento de condições associadas ao HPV, uma vez poucos riscos são relacionados com a vacinação.22,25 Eventos adversos graves foram raros nos ensaios clínicos da vacina.

Apesar dessa incerteza, a vacinação é uma abordagem segura e eficaz para prevenir doenças associadas ao HPV. Todos os profissionais de saúde que têm exposição ao HPV devem considerar a imunização.