A prevalência de pessoas com asma entre os pacientes com COVID-19 é similar a prevalência global da asma. As pessoas com asma não têm um maior risco de adquirir COVID-19 e tem resultados clínicos similares aos pacientes sem asma.
Introdução |
À medida que o COVID-19 continua se propagando por todo o mundo com um impacto devastador, existe a preocupação de que pessoas com asma correm maior risco de contrair a doença ou de piores resultados. Isso se baseia em 3 fatores principais:
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1 – Em primeiro lugar, foi informado que pessoas com doenças respiratórias crônicas, como a asma, teriam um maior risco em comparação com pessoas sem asma durante a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), causada por um vírus com homologia próxima ao SARS-CoV-2. Portanto, parecia provável que este também fosse o caso do COVID-19.
2 – Em segundo lugar, as infecções respiratórias virais, como o coronavírus, são potentes desencadeantes da exacerbação da asma.
3- Finalmente, os corticosteroides inalatórios e orais, um tratamento fundamental para asma persistente e exacerbações agudas, respectivamente, podem aumentar a suscetibilidade e a gravidade da infecção por COVID-19.
Embora essas teorias pareçam plausíveis, há evidências limitadas para apoiá-las.
A evidência atual mostra que a asma não é encontrada entre as 10 principais comorbidades associadas com as mortes por COVID-19, sendo a obesidade, a diabetes e as doenças cardíacas crônicas sendo as mais frequentemente associadas.
Isto é consistente com as tendências observadas durante a epidemia de SARS-CoV-1. Os primeiros relatórios de Wuhan, na China, sugerem que a asma está sub-representada em comparação com a prevalência da população. No entanto, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) relatou que entre os pacientes mais jovens hospitalizados por COVID-19, obesidade, asma e diabetes eram as comorbidades mais comuns.
Existem recomendações de várias agências governamentais em todo o mundo aconselhando as pessoas com asma a serem mais cautelosas e a se isolarem por mais tempo, o que afeta seu sustento, saúde mental e qualidade de vida. Pessoas com asma relataram maior prevalência de ansiedade e estresse do que os controles sem asma.
Um estudo qualitativo realizado no Reino Unido entre pacientes com doenças respiratórias, incluindo asma, relatou que eles tinham medo de morrer caso se infectassem com COVID-19 e ficaram confusos com as mensagens sobre a proteção que receberam. Além disso, apesar desse conselho, as evidências de uma duração mais longa de auto-isolamento para pessoas com asma são escassas.
Objetivo |
A revisão sistemática teve como objetivo resumir a evidência sobre o risco de infecção, enfermidade grave e morte por COVID-19 em pessoas com asma.
Fonte de dados e seleção de estudos |
Fuentes de datos y selección de estudios
Realizou-se uma busca em bases de dados eletrônicos, incluindo repositórios de pre-print e o banco de dados de COVID-19 da OMS (em 26 de maio de 2020). Estudos relatando COVID-19 em pessoas com asma foram incluídos. Para resultados binários, realizou-se uma meta-análise de efeitos aleatórios de Sidik-Jonkman. Explorou-se a heterogeneidade quantitativa usando análise de subgrupo, meta-regressão e avaliação da estatística I2.
Resultados |
Incluiu-se 57 estudos com tamanho amostral de 587.280.
A prevalência da asma entre as pessoas infectadas com COVID-19 foi de 7,46% (IC de 95% = 6,25 – 8,67%). A asma mais leve foi mais comum em comparação com a asma mais grave (9,61% em comparação com 4,13%).
A análise combinada mostrou uma redução da razão de risco de 14% na aquisição de COVID-19 (IC de 95% = 0,80-0,94; P< 0,0001) e uma redução de 13% na hospitalização com COVID-19 (IC de 95% = 0,77-0,99, p= 0,03) para pessoas com asma em comparação com aqueles sem.
Não houve diferenças significativas no risco combinado de requerer internação na UTI e/ou receber ventilação mecânica para pessoas com asma (RR = 0,87, IC 95% = 0,94-1,37, p = 0,19) e o risco de morte por COVID- 19 (RR = 0,87, IC 95% = 0,68-1,10, p = 0,25) entre o grupo com asma e o sem asma.
Fig 1. Risco de morte contra a recuperação de COVID-19 entre as pessoas com asma em comparação com as que não tem asma.
Discussão |
Discusión
A revisão sistemática teve como objetivo avaliar a vulnerabilidade das pessoas com asma durante a pandemia de COVID-19. Os resultados revelaram uma prevalência de asma de 7,46% entre aqueles com teste positivo para COVID-19. Embora esses estudos venham de países com diferentes prevalências de asma, em geral essa prevalência combinada é semelhante à prevalência de sintomas de asma autorreferidos de 8,6%.
Em estudos que relataram a gravidade da asma, descobriu-se que a asma não grave entre pessoas com COVID-19 era mais comum do que a asma grave (9,6% vs. 4,13%) como na maioria das populações.
Encontramos um risco 14% (IC 95% = 0,80-0,94%) menor de contrair COVID-19 em pessoas com asma, o que é uma redução absoluta de 50 casos por 1.000 pessoas. Isso é consistente com a tendência observada durante a pandemia de SARS. Existem várias explicações possíveis para essa redução de risco, incluindo a observação de que pessoas com asma têm receptores da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE-2) regulados negativamente que podem reduzir o risco de infecção por SARS-CoV-2.
Evidências preliminares do Severe Asthma Research Program mostraram que a corticoterapia inalatória (ICS), a principal modalidade de tratamento em asmáticos, está associada à diminuição da expressão de ACE-2 (um dos locais de ligação para SARS-CoV-2). Isso pode conferir uma redução da vulnerabilidade ao COVID-19 e o desenvolvimento de uma doença menos grave.
O aumento da idade está fortemente associado com um maior risco de adquirir COVID-19 entre os asmáticos e explica 70% da variância entre os estudos em análise. Este é um achado esperado e está de acordo com outros estudos COVID-19 que mostram a idade como um dos mais importantes preditores de vulnerabilidade ao COVID-19 e prognóstico.
O aumento da idade não se associa estatisticamente com um maior risco de ventilação mecânica em pessoas com asma. Um estudo informou que a asma prolongou o tempo de intubação em pacientes com menos de 65 anos, o que sugere que a asma tem um impacto maior no curso de COVID-19 em pessoas mais jovens.
Por outro lado, um estudo recente na Espanha entre asmáticos informou que os que adquiriram COVID-19 eram pessoas mais velhas com maior prevalência de comorbidades em comparação com os que eram negativos para COVID-19. Também informou que pessoas mais velhas e com comorbidades tinham mais probabilidades de serem hospitalizadas. É importante destacar que este estudo relatou uma baixa taxa de hospitalização entre pessoas com COVID-19 de 0,23%.
Não há evidência de diferença no risco de morte de COVID-19 para pessoas com asma (RR= 0,87, IC de 95%= 0,68-1,10, P= 0,19).
Um estudo em Nova York também relatou que a asma não estava associada à mortalidade. Notamos que a idade média dos estudos agrupados foi de 52 anos. Como estudos anteriores mostraram que a taxa de letalidade aumenta substancialmente acima dos 50 anos, os achados podem apresentar uma estimativa conservadora da possível redução no risco de morte.
Finalmente, uma proporção de pacientes com COVID-19 experimenta efeitos prolongados após a doença aguda, agora conhecida como "COVID prolongado". Os sintomas mais comuns de fadiga, falta de ar e tosse podem ser mais prováveis ou proeminentes em pessoas com doença das vias aéreas. Embora fora do escopo desta análise, será crucial examinar esses riscos em estudos adicionais de pessoas com asma e COVID-19.
Conclusão |
Os achados do estudo sugerem que a prevalência de pessoas com asma entre os pacientes com COVID-19 é similar a prevalência global da asma. Os achados gerais baseados nas evidências disponíveis sugerem que as pessoas com asma têm um risco menor de adquirir COVID-19 em comparação com as pessoas que não tem asma e tem resultados clínicos similares.
São necessários mais estudos de qualidade e intercambio de dados sobre a asma e o COVID-19 a nível mundial para melhorar a compreensão de como o SARS-CoV-2 afeta as pessoas com asma.