Ao longo da última década, diversas preocupações foram levantadas acerca do uso indiscriminado da finasterida no combate à alopecia androgenética e hiperplasias prostáticas benignas. Diversos relatos de eventos adversos psiquiátricos foram feitos, levando à criação do termo “síndrome pós-finasterida”. Nos últimos 10 anos, alertas foram lançados pelas agências reguladoras dos EUA, Canadá, Coreia, Nova Zelândia e Reino Unido sobre os potenciais efeitos adversos do uso da finasterida.
Para avaliar se o uso de finasterida estava associado a um aumento nos relatos de suicídio, depressão ou ansiedade, Nguyen e colaboradores realizaram uma análise da VigiBase, um banco de dados de farmacovigilância organizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Este é o maior banco de dados do mundo nesse sentido, que conta com mais de 20 milhões de relatos de segurança e suspeitas de eventos adversos relacionados à medicações.
Através da coleta de dados, foi realizada uma análise de desproporcionalidade entre os diversos subgrupos (diferentes idades, indicações de uso, uso antes ou após 2012, entre outros) para que fosse possível avaliar se a ocorrência de eventos adversos psicológicos foi mais prevalente no grupo que utiliza finasterida. O Dr. Trinh e seus colegas usaram a análise de desproporcionalidade para avaliar se suicídio ou eventos adversos psicológicos foram relatados com mais frequência em usuários de finasterida do que seria esperado ao acaso.
A análise revelou mais de 350 relatos de suicídio e quase 3.000 relatos de ansiedade e depressão associados à finasterida, de acordo com os resultados publicados no JAMA Dermatology.
"Encontramos um sinal de (...) ideação suicida no grupo de homens jovens que tomam finasterida para queda de cabelo", disse o coautor do estudo, Dr. Quoc Dien Trinh, à Reuters Health.
Quase 99% dos pacientes (3.206) eram do sexo masculino. A grande maioria dos relatórios teve origem nas Américas e na Europa. Entre os casos em que foi relatada a idade (868), 70,9% dos pacientes tinham entre 18 e 44 anos.
"Eu aconselharia os leitores a não superinterpretar os achados de nossa análise exploratória", disse o Dr. Trinh. “Os pacientes devem estar cientes desse potencial efeito colateral e conversar com médico que prescreveu se tiverem dúvidas”.
O Dr. Trinh e colegas encontraram um sinal significativo de desproporcionalidade para suicídio (razão de probabilidade do relato [ROR] 1,63) e eventos adversos psicológicos (ROR 4,33) com finasterida. Nas análises de sensibilidade, os pacientes mais jovens (ROR 3,47) e aqueles com alopecia (ROR 2,06) apresentaram sinais de desproporcionalidade significativos para suicídio elevado, enquanto esses sinais não foram detectados entre os pacientes mais velhos com hiperplasia prostática benigna. Quando foi feita a análise de dados de outro tratamento para alopecia (minoxidil), não foram observados sinais desproporcionais de suicídio ou eventos adversos psicológicos.
"É interessante e importante do ponto de vista da saúde pública, dado o sério potencial risco associado ao medicamento", disse Tanya Fabian, professora da Universidade de Pittsburgh, à Reuters Health.
Uma limitação do estudo é que os pesquisadores não foram capazes de controlar as comorbidades, como depressão ou outros medicamentos que os pacientes poderiam estar tomando, disse Fabian. “Além disso, o estudo não é capaz de provar causalidade”, disse ela. "Dito isso, eu nunca ignoro os sinais de alerta", disse Fabian.
“Quem prescreve finasterida, principalmente para quem sofre de alopecia, tem a responsabilidade de alertar seus pacientes, de informá-los sobre os riscos e benefícios de tomar a medicação”.
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