Nova descoberta

Níveis de vitamina D podem alterar o perfil da microbiota intestinal de idosos

Pesquisa demonstra conexão entre variedade e composição do corpo de bactérias intestinais e níveis séricos dos produtos do metabolismo da vitamina D

Autor/a: Robert L. Thomas, Lingjing Jiang, John S. Adams, Zhenjiang Zech Xu, Jian Shen, Stefan Janssen, Gail Ackermann, Dirk Vanderschueren, Steven Pauwels, Rob Knight, Eric S. Orwoll & Deborah M. Kado

Fuente: Study reveals connection between gut bacteria and vitamin D levels

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) revelou que a composição da microbiota intestinal de homens mais velhos aparenta ter relação com os níveis séricos de vitamina D, hormônio importânte para a manutenção óssea. Publicado em novembro/2020 na Nature, o estudo apontou novas percepções acerca da função e medidas dos níveis de vitamina D no organismo. 

Os exames de sangue padrão detectam apenas uma das diversas formas quais a vitamina D existem no organismo humano. Essa forma detectável, a qual o hormonio está em seu precursor inativo, pode ser armazenado pelo corpo e posteriormente metabolizado para sua forma ativa a ser utilizado pelo organismo. 

"Ficamos surpresos ao descobrir que a diversidade do microbioma - a variedade de tipos de bactérias no intestino de uma pessoa - estava intimamente associada à vitamina D ativa, mas não à forma precursora", disse a autora Deborah Kado. "Acredita-se que uma maior diversidade do microbioma intestinal esteja associada a uma melhor saúde em geral." 

Diversos estudos apontaram para relações entre doenças como câncer, cardiopatias, maior severidade da COVID-19 e outras com baixos níveis séricos de vitamina D. Por outro lado, o maior estudo clínico randomizado feito nesse sentido, com mais de 25.000 participantes, concluiu que não há relação entre a suplementação de vitamina D e resultados mais positivos na saúde cardíaca ou óssea. 

"Nosso estudo sugere que pode ser porque esses estudos mediram apenas a forma precursora da vitamina D, ao invés do hormônio ativo", disse Kado. "Medidas de formação e degradação de vitamina D podem ser melhores indicadores de problemas de saúde subjacentes e de quem pode responder melhor à suplementação de vitamina D". 

Foram analisadas amostras de sangue e fezes de 567 homens com média de idade de 84 anos, que em sua maioria relatou ter saúde boa ou excelente. Através de sequenciamento de RNAr 16s, foi realizado a quantificação e identificação das bactérias em cada amostra de fezes, e através de LC-MSMS foram quantificados os metabolitos da vitamina D nas amostras séricas. 

Não só foi descoberta a relação entre a vitamina D ativa e uma maior diversidade da microbiota, mas também notou-se que 12 tipos específicos de bactérias eram mais frequentes nas floras intestinais de homens com maiores níveis de vitamina D ativa. Essas 12 bactérias se destacam pela produção de butirato, um ácido graxo auxiliar na manutenção da saúde do intestino. 

"Os microbiomas intestinais são realmente complexos e variam muito de uma pessoa para outra", disse Lingjing Jiang, uma das autoras. "Quando encontramos associações, elas geralmente não são tão distintas como encontramos aqui". 

Por viverem em cidades diferentes, os participantes foram expostos a diferentes níveis de luz solar, essencial para a conversão da vitamina D. Como esperado, os indivíduos residentes da Califórnia receberam mais sol, e apresentou a maioria das formas precursoras de vitamina D. Mas, para surpresa da equipe, não foram encontradas correlações entre onde os homens viviam e os níveis de hormônio de vitamina D ativa. 

"Parece que não importa a quantidade de vitamina D que você obtém através da luz solar ou suplementação, nem quanto seu corpo consegue armazenar", disse Kado. "O que importa é quão bem seu corpo é capaz de metabolizar isso em vitamina D ativa, e talvez seja isso que os estudos clínicos precisam medir para obter uma imagem mais precisa do papel da vitamina na saúde". 

"Frequentemente descobrimos na medicina que mais não é necessariamente melhor", acrescentou Robert Thomas, autor do estudo. "Então, neste caso, talvez não seja a quantidade de vitamina D que você suplementa, mas como você incentiva seu corpo a usá-la". 

Os autores ressaltam que o estudo analisou um único momento da microbiota intestinal e dos níveis de vitamina D no organismo, podendo esses fatores flutuar ao longo do tempo de acordo com diversas variáveis. De acordo com os pesquisadores, mais estudos mais estudos são necessários para entender mais profundamente a função das bactérias no metabolismo da vitamina D, e para determinar tal intervenção poderia ser usada como coadjuvante em tratamentos atuais para melhora da saúde óssea e e possivelmente outros assuntos. 


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