Revisão

Microplásticos como um contaminante do meio ambiente

A preocupação aumentou significativamente ao longo dos anos, pois além de serem tóxicos, podem transportar outros contaminantes

Autor/a: Stapleton MJ, Hai FI.

Fuente: Bioengineered. 2023 Dec;14(1):2244754. doi: 10.1080/21655979.2023.2244754 Microplastics as an emerging contaminant of concern to our environment: a brief overview of the sources and implications

Introdução

Os microplásticos são fragmentos de plástico com menos de 5 mm de comprimento e, devido ao seu tamanho, uma vez no ambiente, são difíceis de remover. A preocupação com sua poluição aumentou significativamente ao longo dos anos, pois além de serem tóxicos, podem transportar outros contaminantes.

Embora a extensão completa dos problemas do microplástico sejam desconhecidas, estudos descobriram que esses afetam as taxas de ingestão e capacidade alimentar na vida marinha, além de prejudicar e inibir o crescimento de plantas. Por isso, Stapleton e Hai (2023) realizaram uma revisão com o objetivo de resumir aspectos-chave relacionados às implicações dos microplásticos como um contaminante emergente de preocupação.

Fontes de poluição por microplásticos

As fontes de poluição podem ser divididas em duas subcategorias: causada por microplásticos primários e por secundários. Em relação à primeira, são aqueles que já foram fabricados em tamanhos com menos de 5 mm, como as fibras. Já a segunda, eles foram fabricados como plásticos na faixa macro (> 5 mm).

As principais fontes de poluição, já identificadas, são:

  • Fragmentação de macroplásticos em microplásticos pela exposição a agentes químicos (fotodegradação), físicos (forças abrasivas) e biológicos.
  • Derramamento de nurdles (pequenos grânulos de plástico) que são transportados, principalmente por navios, para processamento adicional.
  • Produção e lavagem de tecidos sintéticos.
  • Fontes emergentes, como saquinhos de chá, resíduos médicos da COVID-19 pelo uso de equipamentos de proteção individual, borracha triturada para equipamentos de playground e instalações de reciclagem de plástico.
Efeito dos microplásticos

Os humanos podem ser expostos a microplásticos por meio de ingestão, inalação e contato dérmico. Embora os efeitos na saúde não estejam claros, alguns estudos relataram a citotoxicidade provocada por eles.

Em relação à fauna, os microplásticos podem ter consequências negativas nos processos fisiológicos e biológicos de várias espécies. Por exemplo, os ingeridos por camundongos foram encontrados como prejudiciais à regeneração do músculo esquelético, e quando por copépodes, houve uma diminuição na taxa de ingestão e na velocidade da natação.

Já na flora, os microplásticos absorvidos tem o potencial de influenciar na biomassa das plantas, na absorção de nutrientes, impactar o crescimento das raízes e folhas e afetar as taxas de germinação.

Microplásticos como vetor de contaminantes preocupantes

Além de serem um contaminante significativo, os microplásticos também têm a capacidade de atuar como vetores para uma ampla gama de diferentes contaminantes. Estudos destacaram a sua capacidade de adsorver contaminantes químicos, como produtos farmacêuticos e de cuidados pessoais, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e metais. Além desses, também podem atuar como vetores para bactérias e vírus.

Quando os organismos são expostos a microplásticos, há potencial de que os contaminantes possam se disseminar. Stollberg e colaboradores (2021) investigaram os efeitos tóxicos dessas partículas contaminadas com fluoranteno nos mexilhões. Eles relataram um aumento dos níveis de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos em seus organismos em comparação com o controle, demonstrando a transferência do fluoranteno ao organismo. Tunali e colaboradores (2020) demonstraram que algas, quando expostas aà microplásticos contaminados com metais pesados, tiveram seu crescimento inibido. Por fim, Zhang e colaboradores (2020) descobriram que o desenvolvimento embrionário dos peixes-zebra foi afetado quando expostos à contaminação por cádmio.

Outra consequência é a possibilidade de formação de bactérias resistentes a antibióticos (ARB) e genes de resistência a antibióticos (ARGs). Biofilmes podem se formar na superfície dos microplásticos e a exposição prolongada dessas aos antibióticos aumenta a chance de alguns microrganismos desenvolverem resistência. Assim, essas bactérias sobrevivem e se multiplicam, eventualmente criando uma comunidade que possui alta resistência.

Mais implicações em torno dos microplásticos atuando como vetores para contaminantes surgem quando o transporte trófico do poluente através das cadeias alimentares ocorre. Com microplásticos agindo como vetores para uma gama de contaminantes, há o potencial de que eles se bioaculem através da cadeia alimentar e espalhem sua toxicidade por todos os organismos envolvidos.

Conclusão

Além de ser um contaminante de preocupação per se, os microplásticos também têm a capacidade de atuar como vetores para outros contaminantes. A habilidade de hospedar tanto antibióticos, quanto comunidades bacterianas na mesma superfície, leva à possibilidade de serem vetores para ARB e ARGs. Muitas lacunas na literatura ainda estão presentes, e com a abundância significativa do poluente no ambiente, é crucial que a pesquisa se concentre em todos os aspectos relacionados aos microplásticos para aumentar a compreensão da comunidade científica.