Novo potencial na prática clínica

Genisteína

Um fitoconstituinte promissor no que se diz respeito às suas bioatividades

Introdução

A medicina herbal tem ganhado cada vez mais popularidade, e isso se deve, em grande parte, às tradições locais de cura, que frequentemente dependem de remédios à base de plantas. Essas tradições, muitas vezes passadas de geração em geração, utilizam plantas medicinais para tratar uma variedade de condições e promover a saúde geral. O crescente interesse na medicina herbal reflete uma busca por tratamentos naturais e uma valorização do conhecimento ancestral sobre o uso terapêutico das plantas. Estudos farmacológicos têm focado em isoflavonas derivadas de plantas, conhecidas por seus efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes, anticancerígenos, antiosteoporóticas e estrogênicos. Essas substâncias podem influenciar a inflamação, o estresse oxidativo, o crescimento celular e as vias de sinalização de diferenciação.

A genisteína, uma isoflavona, tem despertado grande interesse nas últimas décadas por sua ampla gama de atividades terapêuticas, incluindo a redução dos níveis de hormônios sexuais, atividade antioxidante, tratamento de infecção por HIV, psoríase, carcinoma, doença de Alzheimer e como suplemento dietético. Com isso em mente, Shete e colaboradores (2024) revisaram o potencial terapêutico anticancerígeno e antioxidante da genisteína.

Potenciais terapêuticos da genisteína
I. Atividade anticancerígena

Estudos sugeriram que o consumo de soja foi associado à redução do risco de câncer. A genisteína, uma isoflavona primária da soja, demonstrou potencial como agente anticancerígeno em estudos pré-clínicos. No entanto, são necessários ensaios para confirmar sua eficácia terapêutica.

Os principais alvos moleculares da genisteína incluem as caspases, além de outros alvos como a proteína associada ao Bcl-2 (Bax), o fator nuclear kappa B (NF-κB), o inibidor do NF-κB, a fosfoinositídeo 3-quinase/Akt (PI3K/Akt), a quinase regulada por sinal extracelular 1/2 (ERK 1/2), MAPK e a via de sinalização Wingless e integrada 1/β-catenina (Wnt/β-catenina). Além desses fatores de transcrição, o estresse do retículo endoplasmático induzido pela genisteína e seus alvos foram identificados como catalisadores da apoptose em células cancerígenas.

> Câncer de mama

A genisteína possui propriedades estrogênicas e antiestrogênicas, atua como antioxidante, inibindo a topoisomerase II, dificultando a angiogênese e induzindo a diferenciação celular. Pesquisas em glândulas mamárias juvenis sugeriram que a sua exposição precoce aumenta a expressão do receptor do fator de crescimento epidérmico, promovendo potencialmente a diferenciação celular e reduzindo o risco de câncer de mama. Isso pode explicar as taxas mais baixas desse tumor entre mulheres asiáticas com dietas ricas em soja.

Investigações in vitro sobre a apoptose induzida pela genisteína em várias linhas celulares de câncer de mama demonstraram sua capacidade de induzir apoptose tanto em células de baixa invasão quanto nas de alta. No entanto, seu impacto na proliferação celular no câncer de mama é dependente da concentração.

Dessa forma, pesquisas futuras podem se concentrar na otimização da dosagem de genisteína e na exploração de seus efeitos sinérgicos com outros medicamentos anticancerígenos para aumentar seu potencial terapêutico no tratamento do câncer de mama.

> Câncer de fígado

O carcinoma hepatocelular (HCC) contribui significativamente para a carga global de cânceres, especialmente em nações onde sua prevalência aumentou nas últimas décadas. Estudos in vitro revelaram que a lignina enterolactona e a isoflavona urinária genisteína aumentaram a produção de SHBG e inibiram a proliferação de células cancerígenas HEP-G2. A genisteína mostrou ser um agente terapêutico potencial contra o câncer de fígado, reduzindo o crescimento celular, aumentando a presença de núcleos apoptóticos, promovendo a fragmentação do DNA e aumentando o número de células apoptóticas em células HepG2. Além disso, a substância aumentou o efeito inibitório da cisplatina na proliferação de células HCC e no crescimento tumoral, demonstrando potencial terapêutico na regulação da invasividade e metástase do HCC, inibindo a metaloproteinase de matriz (MMP-9) e várias vias de transdução de sinal.

Estudos adicionais sobre o efeito apoptótico da genisteína na linha celular PLC/PRF5 de HCC mostraram a sua capacidade de inibir a proliferação de células de câncer de fígado de maneira dependente do tempo e da dose. Em experimentos in vitro e in vivo, nanopartículas de M-PLGA-TPGS carregadas com a substância demonstraram eficácia anticancerígena superior em comparação com nanopartículas de PLGA-TPGS lineares, sugerindo seu potencial como material bioativo para o desenvolvimento de nanomedicinas no tratamento do câncer de fígado.

> Câncer de pulmão

O carcinoma pulmonar é uma preocupação global significativa por ser o câncer mais comum e mortal no mundo. Dietas ricas em isoflavonas, como a genisteína, podem influenciar os mecanismos moleculares envolvidos na proliferação celular, angiogênese e metástase. A substância demonstrou atividade antitumoral significativa em linhas celulares de câncer de pulmão de pequenas células (SCLC), inibindo fatores de transcrição específicos da proliferação.

Em câncer de pulmão não pequenas células (NSCLC), a genisteína, em combinação com cisplatina, pode aumentar a inibição da proliferação celular e os efeitos pró-apoptóticos através das vias de sinalização PI3K/Akt. A substância inibe a proliferação de células cancerígenas humanas A549, induzindo a morte celular e aumentando a ativação das caspases 3 e 9 de maneira dependente da dose, além de estimular a expressão de miRNA-27a e reduzir a expressão da proteína MET.

Para pacientes com NSCLC resistente, a genisteína pode aumentar a sensibilidade à radiação, promovendo apoptose induzida por danos ao DNA e autofagia mediada por Beclin-1. Em estudos, a substância mostrou potencial significativo no tratamento do carcinoma pulmonar, inibindo a tirosina quinase, a proliferação celular e promovendo a apoptose, impactando a angiogênese e a metástase.

> Câncer cervical

O câncer cervical é o quarto mais prevalente e uma das principais causa de morte entre as mulheres em todo o mundo. A genisteína foi observada como inibidora da proliferação de linhas celulares de câncer cervical humano (como CaSki e ME180) de maneira dependente da dose, com concentrações variando de 2,5 a 40,0 μM. Além disso, a substância potencializa os efeitos da radiação, provavelmente através de mecanismos que envolvem a parada em G2/M, a regulação negativa de Mcl-1 e a ativação do gene AKT. Isso aumenta a radiossensibilidade das células de câncer cervical humano (HeLa), resultando em maior apoptose, redução da expressão de sobrevivência e prolongamento da parada do ciclo celular.

Especificamente, o tratamento com genisteína aumenta significativamente os níveis de interferon-gama (IFN-γ), que pode ser atribuído à sua influência no crescimento tumoral, caracterizada pela maior proliferação e atividade citolítica dos linfócitos. Esses efeitos contribuem para o potencial da substância como um agente antineoplásico eficaz, capaz de impedir o crescimento, invasão e metástase das células cancerígenas.

Em um estudo in silico sobre células HeLa, a genisteína foi examinada por seu potencial como modificador epigenético natural, sugerindo um papel crucial na restauração da expressão de genes supressores de tumor (TSGs) ao inibir DNA metiltransferases (DNMTs) e histona deacetilases (HDACs). Essa capacidade de inibir o crescimento celular, aumentar a atividade antitumoral e restaurar a expressão dos TSGs reforça ainda mais seu potencial como uma estratégia terapêutica abrangente para o câncer cervical.

II. Atividade antioxidante

Os antioxidantes são amplamente reconhecidos como um tratamento primário para doenças relacionadas ao excesso de radicais livres ou processos oxidativos. A genisteína, em particular, tem sido eficaz como antioxidante, reduzindo os níveis de interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral (TNF-α), além de ativar NF-κB em estudos in vitro e in vivo. Em mulheres obesas pós-menopáusicas, a ingestão oral diária da substância por seis meses resultou na redução dos níveis de TNF-α.

O inflamassoma NLRP3, conhecido por estimular a secreção de IL-1β, está associado à doença inflamatória intestinal (DII) em modelos experimentais e estudos humanos. Em camundongos com colite, o tratamento com genisteína retardou significativamente a perda de peso, reduziu o encurtamento do cólon, diminuiu a infiltração de células inflamatórias e a produção de mediadores pró-inflamatórios.

O efeito antioxidante da genisteína pode ser tanto através da atividade direta de eliminação de radicais livres quanto da modulação nas vias de sinalização relacionadas ao estado redox . No entanto, são necessários mais estudos para compreender completamente o mecanismo de ação.

Conclusões

Demonstrou-se o papel da genisteína como agente terapêutico no tratamento de vários tipos de câncer, incluindo os de mama, endométrio, bexiga, rim, próstata, glândula salivar, cólon, pâncreas, gástrico, hepatocelular, pulmão, laringe e cervical. Sua eficácia é evidenciada pela capacidade de inibir o crescimento celular, induzir apoptose e modular diversas vias celulares, especialmente quando combinada com outros agentes terapêuticos.

Além disso, a influência da genisteína na expressão de miRNA adiciona uma camada extra de potencial terapêutico, contribuindo para seu papel abrangente no manejo do câncer. A sua segurança e tolerabilidade, mesmo quando utilizada com agentes quimioterápicos, reforçam seu potencial como uma terapia adjuvante promissora no tratamento do câncer.