A alopecia de padrão feminino (APF), também conhecida como alopecia androgenética feminina (AAG), é caracterizada pela miniaturização progressiva dos folículos pilosos e pela diminuição da densidade capilar, especialmente na região centro-parietal do couro cabeludo. Estudos indicaram que a sua gravidade está associada ao sedentarismo, hipertensão arterial sistêmica e vida em áreas urbanas.
Diversos tratamentos foram propostos para essa condição. Sendo assim, Ramos e colaboradores (2023) realizaram uma revisão para apresentar e discutir as principais alternativas terapêuticas para APF, além de métodos de camuflagem que podem ser utilizados em casos mais extensos ou não responsivos.
Tratamentos clínicos |
> Minoxidil tópico
O minoxidil estimula a proliferação de células na papila dérmica e pode influenciar a expressão gênica e a ativação de vias de sinalização, promovendo a regulação positiva de genes que codificam proteínas associadas à queratina.
Em farmácias de manipulação, frequentemente utiliza-se o minoxidil sulfato em vez do minoxidil base devido à sua maior solubilidade. Embora o primeiro não exija metabolização, sua eficácia é limitada pelo alto peso molecular e baixa penetração cutânea. Portanto, é essencial que os clínicos especifiquem o uso de minoxidil base ao prescrever a formulação manipulada.
Os efeitos adversos mais comuns incluem hipertricose facial e reações locais no couro cabeludo, como prurido, queimação, eritema, pápulas ou pústulas. Aproximadamente 18% dos pacientes experimentam um aumento temporário na queda de cabelo (shedding) nas primeiras semanas de tratamento, devido ao encurtamento da fase telógena. É crucial informar as pacientes sobre essa possibilidade para evitar a sua interrupção precoce.
A adesão ao tratamento é vital para o sucesso. Os primeiros resultados geralmente aparecem após quatro a seis meses, e a continuidade do uso é necessária. O minoxidil tópico é a terapia com maior nível de evidência para tratar a APF e continua sendo o tratamento de primeira linha.
Minoxidil solução 5% duas vezes/dia e minoxidil espuma 5% uma vez/dia não apresentaram diferença significante de resposta quando comparado à solução a 2% aplicada duas vezes/dia.
> Minoxidil oral
O uso do minoxidil oral para tratar a alopecia de padrão feminino busca aumentar a eficácia e melhorar a adesão ao tratamento, oferecendo maior conveniência em comparação à aplicação tópica. Seus efeitos adversos são dependentes da dose.
Nos últimos anos, o uso do minoxidil oral para tratar a alopecia androgenética em homens e mulheres tem se tornado mais comum. Esse aumento deve-se à facilidade de uso e adesão, além dos bons resultados clínicos observados. No entanto, apesar do crescimento rápido em popularidade, ainda são necessários mais ensaios clínicos que comparem diferentes doses e seus resultados em relação à terapia tópica tradicional.
> Inibidores de 5α‐redutase
O uso desses inibidores em mulheres é off-label e deve ser realizado com cautela em mulheres em idade fértil devido ao risco de teratogenicidade. Ainda não há estudos que avaliem a eficácia da combinação de inibidores de 5αR com minoxidil (tópico ou oral) na APF.
Outros fármacos antiandrogênicos |
> Espironolactona
É um diurético poupador de potássio e antagonista dos receptores de aldosterona e dos receptores nucleares androgênicos (NR3C4). Em estudos fotográficos, 44% das pacientes mostraram melhora com o tratamento. Os efeitos colaterais mais comuns incluem sensação de fadiga, mastalgia, irregularidade menstrual e hipotensão.
> Ciproterona
É um inibidor da liberação do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) e antagonista competitivo dos receptores androgênicos nucleares (NR3C4). Estudos mostram que a ciproterona é mais eficaz quando há sinais clínicos de hiperandrogenismo, como acne, irregularidade menstrual e obesidade. Os efeitos colaterais mais comuns incluem alteração de libido, mastalgia e ganho de peso.
> Flutamida
É um fármaco com potente ação antiandrogênica, indicado para o tratamento do câncer de próstata. Devido à sua alta potência, também era utilizado para acne, seborreia, hirsutismo e alopecia de padrão feminino. No entanto, seu uso para essas condições foi proibido após relatos de hepatotoxicidade aguda grave.
> Bicalutamida
É utilizado no tratamento do câncer de próstata. Quando comparado com a flutamida, possui menor risco de hepatotoxicidade. Para aumentar a segurança do tratamento, recomenda-se a realização de exames laboratoriais, incluindo hemograma, transaminases, fosfatase alcalina, gama-glutamil transferase, bilirrubinas, tempo de protrombina, creatinina, ureia, sódio, potássio e perfil lipídico, antes do tratamento e após 4, 12 e 24 semanas.
> Alfaestradiol
Provavelmente atua no tratamento da alopecia androgenética através da inibição local da 5αR. Além disso, o folículo piloso expressa receptores de estrogênio que modulam o ciclo capilar, prolongando a fase anágena. No entanto, não há evidências robustas que comprovem os seus benefícios.
> Análogos de prostaglandinas
Os análogos de prostaglandinas são importantes moduladores da atividade folicular, estimulando tanto os queratinócitos quanto os melanócitos, o que promove o crescimento e a pigmentação capilar. No entanto, seu uso na APF ainda é limitado devido à falta de evidências clínicas e ao seu alto custo.
> Nutracêuticos
Os micronutrientes podem ser cruciais no tratamento, pois influenciam o desenvolvimento dos folículos pilosos e a função das células imunológicas. Alterações nutricionais estão ligadas ao eflúvio telógeno, o que pode prejudicar os resultados do tratamento da APF.
Diversos suplementos vitamínicos e produtos naturais, como saw palmetto, cafeína, melatonina, extratos marinhos, óleo de alecrim, procianidina, óleo de semente de abóbora e óleo de canabidiol, foram sugeridos.
Embora amplamente utilizados, ainda faltam estudos clínicos que comprovem consistentemente os seus benefícios.
Procedimentos |
> Mesoterapia
É uma técnica minimamente invasiva que envolve a infusão de uma mistura de ativos farmacêuticos em doses diluídas por via intradérmica. Essa administração aumenta a biodisponibilidade dos medicamentos, potencializando seus efeitos e reduzindo os efeitos adversos sistêmicos.
As substâncias usadas, como minoxidil, finasterida, dutasterida, fatores de crescimento, pantenol, biotina e esteroides, são injetadas diretamente nos locais afetados. Embora possa causar dor local e cefaleia, também há riscos de complicações como edema persistente, infecção microbacteriana, urticária, necrose cutânea, paniculite, acromia e alopecia cicatricial.
Sendo assim, pode ser uma opção adjuvante, mas são necessários mais estudos para padronizar os ativos, suas concentrações, a frequência das aplicações e o número de sessões.
> Microagulhamento
É uma técnica minimamente invasiva que utiliza microagulhas estéreis para criar repetidamente microcanais na pele. Este procedimento libera fatores de crescimento plaquetário (TGF-α, TGF-β, fatores de crescimento derivado de plaquetas e do endotélio vascular), resultando em neovascularização, aumento da produção de colágeno e elastina, e estímulo à expressão de genes relacionados ao crescimento capilar.
O microagulhamento pode ser uma opção adjuvante para tratar alopecia de padrão feminino (APF) refratária ou para pacientes que preferem não seguir o tratamento clínico padrão. No entanto, a eficácia real, a frequência ideal e o comprimento das agulhas ainda precisam ser determinados por estudos específicos.
> Microinfusão de medicamentos na pele (MMP®)
Visa promover a infusão de medicamentos e a estimulação da epiderme e derme superficial com agulhas. Um estudo demonstrou que a MMP® entrega as substâncias de maneira uniforme na derme, utilizando um pequeno volume dos ativos e evitando a formação de “massa”, o que reduz o risco de reações adversas locais. Além disso, a possibilidade de ajustar a administração e a profundidade da infusão aumenta a segurança da técnica.
Embora promissora como terapia adjuvante, há pouca literatura sobre o seu uso na APF. Além disso, os ativos farmacêuticos utilizados ainda não são aprovados pelos órgãos regulatórios (FDA e ANVISA) para essa via de administração.
> Plasma rico em plaquetas (PRP)
É uma técnica que envolve a injeção intradérmica no couro cabeludo de uma preparação autóloga concentrada de plaquetas, que liberam vários fatores de crescimento, incluindo PDGF, TGF-β, VEGF, EGF e IGF-1. Esses são cruciais para o ciclo capilar, pois estimulam as células-tronco no bulge, responsáveis pelo crescimento do folículo piloso.
O PRP é considerado um tratamento coadjuvante promissor para a alopecia de padrão feminino. No entanto, ainda não há padronização sobre o preparo do sangue, regimes de centrifugação, densidade das plaquetas, necessidade de ativação plaquetária e aplicação da técnica. Atualmente, é proibido o seu uso do PRP para tratamentos dermatológicos no Brasil.
> Toxina botulínica
É usada na alopecia androgenética para relaxar a musculatura do couro cabeludo. Isso reduz a pressão sobre as artérias, potencialmente aumentando o fluxo sanguíneo e de oxigênio para as áreas calvas. Esse processo pode diminuir os níveis de DHT no tecido pelo efeito conhecido como "washout", resultando em menor miniaturização dos folículos, que é a base fisiopatológica da AAG.
É uma abordagem recente e promissora com um bom perfil de segurança. No entanto, são necessários estudos para comprovar sua eficácia.
> Cirurgia de restauração capilar (transplante de cabelo)
Apesar das diversas opções de tratamento, muitas pacientes não alcançam os resultados desejados, seja devido à baixa resposta terapêutica ou ao estágio avançado da condição clínica. Nesses casos, a restauração cirúrgica pode aumentar o volume capilar em áreas específicas ao redistribuir unidades foliculares obtidas de outra região da própria paciente.
A cirurgia de restauração capilar na APF é indicação de exceção, devendo ser realizada em condições muito específicas.
Métodos de camuflagem |
> Próteses capilares
São usadas devido a condições médicas como estágios avançados de APF. O conhecimento sobre tipos de fibras, bases, métodos de fixação e extensão das próteses é crucial para dermatologistas.
> Sprays, Pós e Fibras
São métodos temporários de camuflagem para áreas de baixa densidade capilar. Fibras capilares aderem ao fio, aumentando o volume, enquanto sprays cobrem fios brancos ou diferenças de cor. Resistentes a suor, chuva e vento, são removidos com shampoo e seguros para gestantes e crianças.
> Tricomicropigmentação
Este é um procedimento não cirúrgico que utiliza tatuagem no couro cabeludo para disfarçar cicatrizes e áreas de calvície, criando efeito de maior densidade capilar.
Considerações finais O tratamento da APF é um desafio na dermatologia devido à sua alta prevalência, impacto na qualidade de vida e opções terapêuticas limitadas. Como é crônica e progressiva, a terapia deve ser contínua, mas faltam dados de longo prazo. Casos leves de APF respondem melhor ao tratamento do que casos avançados. O diagnóstico precoce, especialmente em pacientes de alto risco, é crucial. Além disso, a adesão ao tratamento pode ser problemática, e é importante que os dermatologistas considerem todos os fatores que a influenciam. Por fim, ensaios clínicos comparativos e avanços na compreensão da fisiopatologia da APF são essenciais para desenvolver tratamentos mais eficazes e específicos. |