A pesquisa demonstrou que o Brasil apresentou a quarta pior taxa de saúde mental do planeta, ficando apenas na frente da Áfica do sul, Reino Unido e Uzbequistão. O ranking The Mental State of the World mapeou a qualidade da saúde mental ao redor do globo, e ao todo são 71 países analisados pela pesquisa.
Segundo o levantamento, os brasileiros estão entre os que mais relatam sentir estresse e dificuldades com a parte mental de sua saúde. Ao todo, 34% das pessoas no país relataram esses sintomas.
Para a psicanalista Dra. Andrea Ladislau, esse resultado demonstrou uma triste realidade: estamos enfrentando uma crise de saúde mental. "Ao analisar esse cenário, não podemos ficar presos em questões de emoções voltadas apenas para alegria ou tristeza, pois vai muito além disso", salienta.
"Estamos falando do estado interior geral do indivíduo e de sua forma de relacionar e conectar a vida pessoal com a vida social. Ou seja, refere-se à maneira como o emocional está impactando a vida cotidiana do ser humano", completa a especialista.
Aumento dos transtornos de saúde mental
Andrea reforçou que somos uma das populações que mais apresenta queixas direcionadas por estresse, transtornos e questões psíquicas. "Entre 2018 e 2022 tivemos o dobro de internações psiquiátricas que saltaram de 794 para 2.100 registradas. Ou seja, o próprio perfil populacional está mudando em relação ao que diz respeito à saúde e bem-estar emocional", apontou.
Conforme a psicanalista, a depressão ganha em disparada nos tipos de diagnósticos e a incidência cresce em mulheres jovens de 18 a 39 anos. No entanto, este não é motivo para negligenciar o aumento de casos de problemas de saúde mental em crianças. Inclusive, também já se registra a elevação do uso medicamentos controlados, especialmente ansiolíticos, por parte dessa população mirim.
Razões para a má colocação no ranking
De acordo com Andrea Ladislau, muitas razões justificam a posição do Brasil no ranking:
- O preconceito que ainda é grande e faz com que as pessoas só busquem ajuda de um profissional de saúde mental quando vários transtornos ou neuroses já estão associados ou em estágio irreversível;
- Insegurança do período pandêmico que se arrasta até hoje, aumentando os níveis de estresse, depressão e ansiedade por conta do isolamento social e das incertezas com o futuro;
- Desemprego e desigualdade social e econômica;
- Insuficiência no acesso aos serviços de saúde mental na rede pública que não dispõe de espaços acolhedores e qualificados, em quantidade que possa acolher a população que não possui plano de saúde;
- Negligência e falta de divulgação dos benefícios dos cuidados com a saúde mental e da promoção à saúde como um todo.