Introdução |
As histórias em quadrinhos existem desde o início da história da humanidade como linguagem gráfica. O ser humano primitivo retratava graficamente, por meio de desenhos, nas paredes das cavernas em que habitava, as caçadas ou feitos que representavam seu cotidiano.
No começo da popularização dos quadrinhos, houve resistência por boa parte de pais que julgavam esse tipo de mídia como uma proposta subversiva, pois suas crianças estariam lendo algo que continha informação desnecessária e danosa e que impossibilitaria uma formação saudável de seus filhos. Com o tempo, com a comunicação se adequando à nova conjectura cultural, os quadrinhos se mostravam uma alternativa importante para atingir a população e mesmo nas escolas já começavam a utilizar não só tiras em livros didáticos que serviam para ilustrar textos como também situações que instigassem a curiosidade dos alunos.
Os quadrinhos apresentam características específicas que ratificam sua importância como instrumento comunicativo: possuem informações não só com a escrita, mas também com as ilustrações, que expressam detalhes e enriquecem ainda mais a cena apresentada; são de fácil acesso, podendo ser comprados por preços bem menores do que os de livros; atingem diversas as classes sociais e idades; a compreensão do tema é fácil sem que haja a necessidade de maiores informações prévias, e o aprendizado se dá de maneira passiva, em que são assimilados tanto novos conceitos quanto novos vocábulos.
São frequentemente tratadas como um instrumento didático-pedagógico, portador de um currículo cultural que permite a reflexão sobre valores, atitudes e riqueza histórico-cultural, promovendo a valorização de da cultura nacional e local. A sua utilização em aulas de língua portuguesa, história, geografia, matemática, ciências, arte e educação alimentar e nutricional pode promover um aprendizado mais reflexivo e prazeroso. Vergueiro e Ramos (2009) identificaram 64 quadrinhos, desde 1990, voltados à educação. Destes, 15 (23%) foram voltados à saúde, perdendo apenas para os de recursos naturais. Abaixo citamos os temas que envolvem a saúde.
Educação alimentar |
Um dos personagens mais famosos voltados à educação alimentar foi o Menino Maluquinho, que está presente em centenas de livros do Ziraldo e foi garoto propaganda da campanha Fome Zero e da merenda escolar durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Figura 1: O livro de receitas do Menino Maluquinho.
Dentre as obras nas quais o cartunista aborda o tema da alimentação, o Almanaque Maluquinho: Julieta no mundo da culinária se destaca por apresentar elementos de histórias em quadrinhos e pela possibilidade de as receitas serem realizadas pelas crianças. Voltada para o público infantil, a publicação encanta pelo colorido, pelo ritmo e pelos textos leves e de fácil compreensão. O livro possui sete histórias curtas, destinadas a crianças, que abordam os seguintes temas: consumo, memória gustativa, comida vegetariana, economia e outros assuntos pertinentes ao campo da alimentação.
Figura 2: Almanaque Maluquinho: Julieta no mundo da culinária
Educar no âmbito da segurança alimentar e nutricional seria propiciar conhecimentos e habilidades que permitem às pessoas produzir, descobrir, selecionar e consumir os alimentos de forma adequada, saudável e segura. Ademais, é importante conscientizar quanto às práticas alimentares mais saudáveis, fortalecer culturas alimentares, valorizando e respeitando as especificidades regionais de diferentes grupos sociais, e diminuir o desperdício, de modo a estimular a autonomia do indivíduo e a mobilização social.
Infelizmente, grande parte das revistas em quadrinhos têm um conteúdo limitado, discorrendo apenas sobre as mudanças de hábitos alimentares, substituindo alimentos que possuem muito sal, gordura e açúcar pelos com vitaminas, minerais, proteínas e carboidratos. No entanto, não ensinam como as crianças devem observar a qualidade dos produtos comercializados, e assim, escolher com conhecimento, os alimentos que vão parar em sua mesa. Além disso, as revistas apenas citam os alimento saudáveis, no entanto, não fazem uma reflexão do porquê tais não fazem parte, da maioria das vezes, do seu cardápio diária (questões econômicas, sociais, políticas e culturais. Por fim, as revistas também não esclarecem sobre o direito universal à alimentação de qualidade.
Tabagismo |
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) iniciou um curso a distância do Programa Saber Saúde. Como sempre, as ilustrações feitas por Ziraldo na década de 1990 estarão nas aulas, mas desta vez receberão atenção especial e muita saudade. “Ele contribuiu muito, tanto para o controle do câncer quanto para o controle do tabagismo”. Disse a chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco (Conprev) do Inca, Maria José Domingues da Silva Giongo.
A parceria de Ziraldo com o Inca teve início antes do Saber Saúde, em 1987, em uma campanha contra o cigarro, que resultaria em cinco pôsteres com caricaturas com os dizeres: “fumar é cafona”, “fumar é careta” “fumar é de mau gosto” “fumar é patético” e “fumar é brega”.
A secretária executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq), Vera Luiza da Costa e Silva, foi uma das pessoas que trabalhou com Ziraldo nessa época, em que as propagandas de cigarro ocupavam a televisão e outros meios de comunicação e cerca de 35% da população era fumante, segundo o Inca.
“Naquela época, as campanhas [antitabagistas] eram com caveiras, com revólveres, com uma coisa sempre associada à morte, à doença, à desgraça. E aí ele falou assim: ‘Olha, está tudo errado. O que vai mudar a maneira de as pessoas verem o hábito de fumar é o lado comportamental. Tem que colocar que é cafona fumar, que é careta, que é brega, que é de mau gosto. E aí ele falou: eu vou fazer essa campanha”, conta Vera.
O Inca procurou Ziraldo justamente porque queria uma abordagem inovadora em uma campanha contra o cigarro. E foi isso que Ziraldo entregou. O trabalho logo foi reconhecido. Ainda em 1987, o cartunista foi premiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pela contribuição na campanha Tabaco ou Saúde.
A campanha funcionou até mesmo com o próprio Ziraldo. “E ele fumava na época. Então, fez a campanha e ficou tão compelido com aquilo que parou de fumar, entendeu?”, diz a secretária.
O Brasil também mudou ao longo do tempo. As propagandas de cigarro passaram a ser proibidas nos meios de comunicação. Em 2019, o percentual de fumantes cai para 12,6 %, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS).
A campanha mostrou o poder das imagens. “O poder da ilustração e do conceito, né? Mudou todo o universo na época”, diz a secretária. “A gente deve muito a ele na área da saúde pública, acho que ele introduziu um conceito que realmente mudou até mesmo a nossa visão. Mudou por causa do Ziraldo”, acrescenta. De acordo com ela, o escritor contribuiu para a definição de um tom das campanhas de prevenção em uma época que o país ganhava nova Constituição, em 1988, e definia, posteriormente, o Sistema Único de Saúde (SUS).
Figura 3: Propaganda antitabagismo de Ziraldo.
sucesso foi tanto que a parceria de Ziraldo com o Inca seguiu e, em 1998, ele faria ilustrações também para o Programa Saber Saúde, de prevenção do tabagismo e outros fatores de doenças crônicas. Além do tabagismo, o programa alerta para os riscos de hábitos como o consumo de álcool, a exposição excessiva ao sol sem proteção, a alimentação não saudável, entre outros.
“As imagens falam por si, dialogam com o público infantil e infantojuvenil. Você olha uma folha, uma planta tossindo, expelindo fumaça, a criança olha e vê o dano que aquilo causa à saúde, o quanto faz mal. E o legal é que a partir disso, a gente reforça os fatores de proteção, os comportamentos que eles precisam ter, para que não venham a ter doenças crônicas no futuro”, afirmou Maria José Giongo, responsável pelo programa.
Saneamento básico |
Em 1920, Carlos Chagas estabeleceu no país o Departamento Nacional de Saúde Pública, que assimilava técnicas de propaganda à educação sanitária, concebendo a importância das vantagens da propaganda e da educação sanitária. Neste período, Monteiro Lobato criou uma campanha para alertar e educar o povo com o personagem Jeca Tatu. O conto, mais conhecido como Jeca Tatuzinho, serviu de inspiração para uma história em quadrinhos bastante popular, que foi divulgada através do Almanaque do Biotônico Fontoura.
Figura 4: Obra literária de Jeca-Tatuzinho
COVID-19 |
Em decorrência da pandemia da COVID-19, houve o fechamento de instituições de ensinos a fim de frear o avanço do vírus. Com objetivo de levar informação e conscientização da população, foram criadas histórias em quadrinhos acerca de temas do SARs-CoV-2.
As histórias em quadrinho foi um meio criativo e descontraído encontrado por alguns grupos de pesquisa com o objetivo de lembrar as pessoas sobre como se prevenir do vírus.
Figura 5: Ilustração de revistas em quadrinhos sobre a COVID-19.
Saúde sexual e reprodutiva |
O projeto Saúde e prevenção nas escolas (SPE) surgiu como uma iniciativa do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) foi dirigido a adolescentes e jovens. Dirigido a adolescentes e jovens, o objetivo principal do projeto é desenvolver estratégias de promoção dos direitos sexuais e direitos reprodutivos, promoção da saúde, prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, do HIV e da aids, e a educação sobre álcool e outras drogas por meio de ações articuladas no âmbito das escolas e das unidades básicas de saúde.
O conjunto de materiais – Histórias em quadrinhos e o Guia HQ SPE - são fundamentais instrumentos de apoio a educadores que já desenvolvem, ou querem desenvolver, ações nas áreas da promoção da saúde e da prevenção ao HIV e outras DSTs. Aborda esses conteúdos a partir de uma visão mais abrangente voltada para a diminuição das vulnerabilidades de toda a comunidade escolar em relação às DSTs, HIV/Aids e a situações de preconceito e discriminação.
Figura 6: Revistas HQ-SPE