Revisão e atualização

Suplementos nutracêuticos no manejo e prevenção da osteoartrite

Revisão das estratégias não invasivas para o tratamento da doença degenerativa

Os nutracêuticos são compostos dietéticos que desempenham um papel no equilíbrio dos sinais anabólicos e catabólicos nas articulações. Sua função regulatória é cada vez mais considerada para o manejo e prevenção da osteoartrite (OA). Essa, por sua vez, é uma doença degenerativa caracterizada pela inflamação da cartilagem e sinóvia que pode causar rigidez nas articulações, inchaço, dor e perda de mobilidade. A enfermidade prejudica a integridade estrutural da cartilagem articular, que depende muito do equilíbrio entre os processos anabólicos e catabólicos que ocorrem nos condrócitos e no líquido sinovial das articulações, portanto, a integração com compostos nutracêuticos na dieta aumenta as opções de manejo para a doença.

Com isso, o objetivo da revisão de Castrogiovanni e colaboradores (2016) foi destacar a importância de estratégias não invasivas no tratamento da OA por meio do uso dos suplementos mais comuns e facilmente disponíveis, como o azeite de oliva, óleo de peixe e extratos botânicos.

> Óleo de peixe

A eficácia e os benefícios precisos da ingestão de óleo de peixe em pacientes com OA ainda estão longe de serem bem compreendidos. Na verdade, estudos in vitro e in vivo mostraram uma diminuição dose-dependente na destruição inflamatória induzida do tecido cartilaginoso associada à suplementação. A falta de ensaios clínicos em humanos é provavelmente o obstáculo mais relevante para que seja rotineiramente recomendado.

> Sulfato de Glucosamina, Sulfato de Condroitina e Ácido Hialurônico

Sabe-se que o ácido hialurônico, o sulfato de glucosamina e o sulfato de condroitina são glicosaminoglicanos (GAGs) sintetizados por condrócitos e sinoviócitos, e são componentes básicos da matriz extracelular e do líquido sinovial.

 A partir de dados clínicos e pré-clínicos, a suplementação de sulfato de glucosamina parece melhorar a função articular e reduzir a dor, além de estimular a regeneração da cartilagem, induzindo, assim, uma regressão da OA. Embora nem todos os artigos relacionados estejam em acordo e em muitos ensaios clínicos demonstraram um grande número de sujeitos que não se beneficiaram do tratamento, uma vantagem é que tem efeitos adversos baixos e raros, de modo que poderia representar uma opção viável para o manejo da OA.

Em dois ensaios clínicos randomizados, o sulfato de glucosamina, assim como o sulfato de condroitina, mitigaram os processos catabólicos e degenerativos graças às suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. No entanto, um estudo farmacocinético sugeriu que a ingestão simultânea não teria efeito sinérgico devido à competição entre as duas moléculas. Portanto, a indicação é evitar a co-ingestão e as tomá-las em diferentes momentos ao longo do dia com dosagens apropriadas. No entanto, os resultados são controversos. Outros autores evidenciaram que, tanto isoladamente quanto em combinação, a glucosamina e o sulfato de condroitina não reduziram a dor no grupo de pacientes com OA no geral.

Por fim, o ácido hialurônico (HA) demonstrou propriedades benéficas nas articulações. In vitro, melhorou as propriedades mecânicas do líquido sinovial e apresentou um papel regulatório bioquímico nos tecidos articulares. Geralmente é usado em contextos clínicos por meio de injeções locais na articulação, com redução da dor e melhoria na função.

> Azeite de Oliva

As suas propriedades anti-inflamatórias são atribuídas aos seus fitoquímicos, como os compostos fenólicos e os ácidos graxos monoinsaturados (AGMI). Em ratos, foi demonstrado que uma dieta suplementada com azeite de oliva melhorou a recuperação da cartilagem após a transecção do ligamento cruzado anterior. Apenas um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, na literatura, demonstrou que a aplicação tópica desse melhorou a dor e a função física em pacientes afetados pela osteoartrite do joelho. Neste caso, também, a falta de ensaios clínicos demonstrando o efeito da suplementação na dieta limitou a recomendação deste composto.

> Metionina

É um aminoácido essencial para os seres humanos, uma vez que o organismo humano não é capaz de sintetizá-lo e, portanto, é adquirido somente pela dieta. A forma ativa da metionina é a S-adenosilmetionina (SAMe), um precursor da glutationa, e possui propriedades antioxidantes e, nas articulações, fornece níveis de glutationa peroxidase, uma enzima antioxidante. Além disso, inibe enzimas que degradam a cartilagem, protegendo suas proteínas e proteoglicanos. Alguns pesquisadores mostram que a SAMe promove processos anabólicos da cartilagem, tendo assim uma função reguladora na sua regeneração da cartilagem. Também foi demonstrado que, em pacientes com OA, o tratamento com SAMe tem um efeito mais benéfico a longo prazo em comparação com o tratamento com anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). No entanto, os resultados foram contraditórios. O precursor mostrou ser um suplemento ainda mais eficaz em pacientes com OA e com doenças hepáticas ou renais caracterizadas por dificuldades na ativação metabólica da metionina. Geralmente, o seu uso de prevê uma dose de 800–1600 mg por dia e a indicação de uma ingestão suficiente de folato e vitamina B.

> Colágeno Tipo II Não Desnaturado

O colágeno tipo II não desnaturado (UC-II) é um suplemento nutricional derivado da cartilagem do esterno de frango. Dados na literatura mostram que o tratamento de pacientes com OA com esse aumentou a mobilidade e a funcionalidade das articulações e reduziu a dor. Em um modelo animal, o UC-II influenciou a resposta imune humoral e celular por meio das células T reguladoras secretoras de citocinas como IL-10 e fator de crescimento transformador-β, que inibem a resposta imune ao colágeno tipo II presente na matriz extracelular da cartilagem articular. A suplementação, portanto, previne a superreação pró-inflamatória do sistema imunológico contra a cartilagem articular em pacientes com OA.

> Extratos Botânicos

Os componentes insaponificáveis de abacate/soja (ASU) são uma fração lipídica hidrolisada rica em esteróis. Possuem propriedades anabólicas e anti-inflamatórias sobre condrócitos; de fato, in vitro, inibem citocinas inflamatórias como IL-1, IL-6, IL-8 e prostaglandina E2. Além disso, estimulam a produção de fator de crescimento transformador e a síntese de colágeno. No tratamento da OA, o uso de 300 mg por dia de ASU melhorou os sintoma, embora sejam necessárias mais pesquisas para entender melhor o papel da suplementação no manejo e na progressão da doença a longo prazo.

A curcumina é extraída da especiaria indiana açafrão-da-índia, é uma molécula aromática com efeito anti-inflamatório que estudos in vitro mostraram inibir a atividade da enzima COX-2 e 5-LOX, protegendo assim os condrócitos dos efeitos negativos de IL-1β. Dados da literatura também mostraram um possível efeito sinérgico da curcumina com capsaicina ou resveratrol, regulando o sinal de ambos o fator nuclear κB e IL-1β e modulando a atividade de colagenase, hialuronidase e elastase, favorecendo assim a integridade da matriz extracelular da cartilagem e a diferenciação e sobrevivência dos condrócitos. Por fim, outro estudo observou o efeito sinérgico com os ácidos graxos poli-insaturados n-3 (PUFAs), EPA e DHA no aumento da modulação antioxidante e de citocinas inflamatórias. Por fim, a curcumina parece ser bem tolerada em doses de 2 a 10 g diárias, mesmo que deva ser usada com cautela em indivíduos em terapia antiplaquetária e anticoagulante.

O oleorresina da árvore Boswellia serrata é rica em ácidos boswellicos, que exibem um comportamento anti-inflamatório ao inibir a síntese de leucotrienos. Dados da literatura mostraram o potencial da oleorresina a para o tratamento de várias doenças inflamatórias, incluindo AR, OA e asma. Em dois ensaios clínicos randomizados, pareceu melhorar o status de dor, mobilidade e inchaço em pacientes com OA no joelho. No entanto, devido à falta de estudos, o seu real efeito é difícil de ser determinado.

Fitoflavonoides e bioflavonoides são polifenóis extraídos de plantas e vegetais com fortes propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Estudos in vitro e in vivo destacaram que podem influenciar alguns dos processos metabólicos e bioquímicos que causam o desenvolvimento e a progressão da OA, como a inibição da produção de citocinas pró-inflamatórias, incluindo IL-1β, TNF-α, IL-6 e prostaglandina E2 nas articulações afetadas.  Alguns estudos clínicos mostraram que esses demonstraram uma melhora nos escores de dor e na função articular de pacientes com AO, com baixa toxicidade e um bom perfil de segurança.

Harpagophytum procumbens é uma planta sul-africana conhecida como garra-do-diabo. Em seu extrato, estão presentes compostos de glicosídeos de triterpeno chamados harpagosídeos, que mostraram reduzir a produção induzida por IL-1β de metaloproteinases da matriz (MMP) -1, MMP-3 e MMP-9 em condrócitos, e diminuir a expressão gênica de TNF-α e COX-2 in vitro. O uso do seu extrato no tratamento de pacientes com OA de quadril e joelho pareceu ser eficaz, também graças ao seu perfil de segurança e baixos efeitos adversos, como diarreia e flatulência.

A bromelina é extraída dos caules e frutos imaturos do abacaxi e contém enzimas proteolíticas que podem ter propriedades anti-inflamatórias, analgésicas, antitrombóticas e antifibrinolíticas. Vários ensaios clínicos utilizaram a substância no tratamento da OA do joelho, com resultados mistos e incertos, de modo que é difícil, fornecer algumas indicações em relação ao seu uso no tratamento da OA e são necessários ensaios clínicos mais rigorosos.

Por fim, o gengibre é um agente anti-inflamatório e antirreumático usado na medicina holística. Estudos in vitro demonstraram que o seu extrato suprimiu o TNF-α e inibiu a síntese mediada por COX-2 de citocinas pró-inflamatórias. Alguns autores afirmaram, em ensaios clínicos, que encontraram melhorias dependentes da dose nos perfis de dor na escala analógica visual para OA do joelho.