Introdução |
A vacinação em massa contra o SARS-CoV-2 foi crucial para conter a pandemia da COVID-19. No entanto, os anticorpos induzidos pelo imunizante são reduzidos seis meses após a primeira vacinação, e com isso, há uma redução na sua eficácia. Os estudos sobre a eficácia a longo prazo das preparações biológicas variam em termos de desenho, metodologia e qualidade dos estudos, e geraram resultados diversos, o que torna difícil para os formuladores de políticas de saúde pública tomarem decisões baseadas em evidências.
Por isso, Wu e colaboradores (2023) realizaram uma síntese sistemática sobre a eficácia a longo prazo das vacinas COVID-19 (BNT162b2 [Pfizer-BioNTech], mRNA-1273 [Moderna], ChAdOx1 nCoV-19 [AZD1222; Oxford-AstraZeneca] e Ad26.COV2.S [ Janssen]) para adultos. O objetivo foi investigar a eficácia das vacinas contra infecções por SARS-CoV-2, hospitalizações e alterações na mortalidade após a primeira e a dose de reforço. Além disso, os pesquisadores avaliaram quais foram os padrões de eficácia dos imunizantes contra a variante ômicron.
Métodos |
Para a síntese e metanálise, foram pesquisadas as plataformas EMBASE e o portfólio iSearch COVID-19 do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, complementado por pesquisas manuais de fontes específicas do vírus, até 1º de dezembro de 2022, para estudos que relataram eficácia da vacina imediatamente e pelo menos 112 dias após uma série de vacina primária ou pelo menos 84 dias após uma dose de reforço. Revisores únicos avaliaram títulos, resumos e artigos de texto completo e extraíram os dados, com um segundo revisor verificando os estudos incluídos. Os resultados primários foram a eficácia da vacina contra infecções, hospitalizações e mortalidade por SARS-CoV-2, que foram avaliadas utilizando modelos metanalíticos de três níveis.
Resultados |
Foram selecionadas 16.696 publicações em nível de título e resumo, as quais, avaliaram 832 (5,0%) textos completos e incluíram inicialmente 73 (0,4%) estudos. Destes, foram excluídos cinco (7%) devido ao risco crítico de viés, restando 68 (93%) que foram extraídos para análise. Para infecções causadas por qualquer cepa de SARS-CoV-2, a eficácia da vacina para a série primária foi reduzida de 83% (IC 95% 80-86) no início do estudo (14-42 dias) para 62% (53-69) em 112-139 dias. A eficácia da vacina no início do estudo foi de 92% (88-94) para hospitalizações e 91% (85-95) para mortalidade, e reduzida para 79% (65-87) em 224-251 dias e 86% (73-93), respectivamente.
A eficácia estimada da vacina foi inferior para a variante ômicron em termos de infecções, hospitalizações e mortalidade no início do estudo, em comparação com outras variantes, mas as reduções subsequentes ocorreram a uma taxa semelhante entre as variantes. Para doses de reforço, que cobriram principalmente essa cepa, a eficácia da vacina no início do estudo foi de 70% (56-80) contra infecções e 89% (82-93) contra hospitalizações, e reduzida para 43% (14-62) e 71% (51-83) em 112 dias ou mais, respectivamente. Não estavam disponíveis estudos suficientes para relatar a eficácia da vacina de reforço contra a mortalidade.
Discussão |
Os pesquisadores relataram que a eficácia da vacina primária contra infecções por SARS-CoV-2 começou em um nível adequado, conforme definido pela OMS, de 83% 14–42 dias após a imunização; no entanto diminuiu significativamente atingindo 47% 280 dias após a vacinação: bem abaixo de um nível adequado. Para hospitalizações e mortalidade pela COVID-19, os níveis de eficácia do imunizante também foram adequados no início do estudo (>90%), mas reduziram de forma semelhante, embora tenha permanecido elevada ao longo do tempo (>75%).
Em relação à variante ômicron, os pesquisadores encontraram padrões de declínio semelhantes, exceto que os níveis iniciais de eficácia da vacina não atingiram níveis adequados para infecções ou hospitalizações. Coletivamente, estes dados sugeriram que os imunizantes proporcionaram uma proteção razoavelmente estável contra hospitalizações e mortalidade a longo prazo.
Conclusão |
As descobertas forneceram insights para médicos, formuladores de políticas de saúde pública e pesquisadores sobre a eficácia das vacinas contra a COVID-19 a longo prazo, o que pode informar recomendações clínicas e políticas. Indicaram que a eficácia do imunizante diminuiu ao longo do tempo, tanto para as séries primárias como para as doses de reforço, na prevenção de infecções, hospitalizações e mortalidade por SARS-CoV-2. Além disso, encontraram reduções semelhantes com a variante ômicron, exceto que os níveis iniciais de eficácia da vacina foram visivelmente mais baixos. Como ela se tornou a cepa dominante, poderá ser necessário manter comportamentos de prevenção da COVID-19 (por exemplo, uso de máscara facial e distanciamento físico), além da imunização com doses de reforço, para reduzir a transmissão do vírus e limitar o aumento de infecções.