A acne vulgar, um dos problemas de pele mais comuns globalmente, ainda guarda mistérios sobre como fatores ambientais, incluindo a dieta, impactam na sua ocorrência, apesar de entendermos sua ligação hereditária e a influência dos hormônios no seu desenvolvimento.

A prevalência da acne é estimada em 9,4% em todo o mundo.

Há indícios de que a mudança para uma dieta ocidental em certas populações está relacionada ao surgimento da acne. Alimentos processados, laticínios e açúcares refinados foram associados ao aparecimento da comedões. Por esta razão, Baldwin e Tan (2020) investigaram minuciosamente como a dieta pode afetar não só a origem da acne, mas também sua persistência e tratamento.

As dietas consumidas por indivíduos com acne representam uma gama diversificada de escolhas alimentares e regimes nutricionais. Apesar de 77% dos americanos relatarem tentativas de limitar ou evitar açúcares em sua dieta, vários estudos mostraram que esta população está consumindo muitos açúcares adicionados, gorduras, carboidratos e sódio, e poucos grãos integrais.

É crucial examinar os aspectos dietéticos que podem influenciar a acne e seu tratamento, dado que os pacientes com essa condição refletem a diversidade da população dos EUA, que adota uma variedade de padrões alimentares. Cerca de um terço dessa população segue dietas regulamentadas, o que torna fundamental a avaliação desses aspectos. As tendências alimentares atuais, como as dietas mediterrâneas (que promovem baixa ingestão de carboidratos, alta ingestão de óleos e vegetais, e consumo moderado de peixe; a dieta cetogênica caracterizada por alta ingestão de gorduras e baixa de carboidratos; e a dieta Paleo, comumente associada ao alto consumo de carne e redução significativa de laticínios e açúcares, merecem uma análise mais aprofundada.

Tabela 1. Entendimento atual dos papéis que dietas selecionadas têm na acne. Tabela retirada de Baldwin e Tan (2020).

Para que um tratamento oral para acne seja eficaz, é fundamental que o medicamento seja absorvido, entre na corrente sanguínea e alcance o tecido afetado. Esse processo é influenciado pelas características intrínsecas do medicamento e pela composição do conteúdo gastrointestinal. Esse último pode alterar a absorção, a solubilidade e o tempo de permanência dos medicamentos no estômago, além de afetar os níveis de pH no trato gastrointestinal. Além disso, pode levar à formação de complexos que interferem na absorção e competem pelo transporte celular.

Os medicamentos orais para acne, como minociclina e doxiciclina, pertencem à Classe I, de acordo com o Centro de Avaliação e Pesquisa de Medicamentos dos EUA, devido à alta solubilidade e permeabilidade. Por outro lado, espironolactona e isotretinoína são classificados como Classe II, com baixa solubilidade no estômago, mas alta capacidade de atravessar as barreiras celulares. Por isso, recomenda-se tomar esses dois últimos junto com alimentos para aumentem a absorção. No caso específico da isotretinoína, é recomendado administrá-la durante uma refeição rica em gordura para otimizar seus efeitos.

Apesar de algumas limitações nos estudos, diversas evidências sustentaram o papel da dieta tanto na acne quanto no seu tratamento. Indicou-se que a redução da condição dermatológica está associada ao consumo regular de ácidos graxos ômega-3 e dietas de baixo índice glicêmico (IG) e carga glicêmica (CG). Por outro lado, estudos apontaram que o consumo de leite pode agravar o número e a intensidade das lesões. Especificamente, as crises de acne em indivíduos que consomem leite podem estar relacionadas às proteínas do soro e à caseína, influenciando as vias insulinotrópicas e IGF-1, o que pode explicar por que outros produtos lácteos, como manteiga ou queijo, não apresentam a mesma associação com a acne.

As dietas de baixo índice glicêmico geralmente demonstraram melhorias significativas nos resultados da acne, possivelmente devido aos seus efeitos na regulação da insulina e IGF-1. No entanto, devido a resultados variados, é possível que seja necessário complementar o tratamento com modificações na dieta para reduzir a acne.

A utilização de probióticos demostrou promessas na redução das lesões de acne, mas são necessárias mais pesquisas para corroborar esses achados. Assim como, são necessárias investigações adicionais sobre os impactos das dietas vegetarianas/veganas e cetogênicas na acne, pois há falta de estudos nessa área.

A eficácia dos tratamentos para acne, como antibióticos da classe das tetraciclinas, parece ser consideravelmente afetada pela dieta, sendo que há evidências substanciais de que a absorção máxima ocorre quando administrados em jejum, sem laticínios. Apesar das informações de prescrição da isotretinoína indicarem que sua administração com uma refeição rica em gordura aumenta a biodisponibilidade, estudos mostraram que certas formulações, como a lidose-isotretinoína, não requerem uma refeição gordurosa para atingir a máxima biodisponibilidade. Isso sugere que novas formulações podem não exigir uma combinação específica com dietas.