Introdução |
A retinopatia diabética (RD) é uma das complicações mais frequentes da diabetes e segue sendo a primeira causa de cegueira evitável na população em idade ativa. Atualmente, a sua prevalência segue alta: afeta 2 a cada 10 pacientes com diabetes, e espera-se que siga sendo alta até 2045, especialmente entre os países do Oriente Médio, África do Norte e no Pacífico Ocidental.
O controle glicêmico deficiente e a hipertensão arterial são os principais fatores de risco modificáveis para reduzir o desenvolvimento e a progressão da retinopatia diabética. No entanto, a rápida melhora da hiperglicemia também pode ser um fator de risco para a progressão da doença. Foi observado uma piora precoce da RD (EWDR) em 13,1% de 711 pacientes com diabetes tipo 1 designados ao tratamento intensivo na Diabetes Control and Complications Trials (DCCT) aos 6 ou 12 meses em comparação com 7,6% de 728 paicnetes designaos ao tratamento convencional (OR, 2,06; P<0,001). Um fenômeno semelhante foi relatado em indivíduos com diabetes tipo 2 após rápida melhora nos níveis de glicose no sangue quando trocaram de agentes orais ou dieta isoladamente para terapia com insulina.
As principais variáveis que explicam o agravamento precoce da RD (APRD) é a magnitude da redução de HbA 1c e a presença de retinopatia diabética pré-existente. Com respeito ao primeiro, deveria ser particularmente relevante quando a HbA 1c se reduz >1,5% em 3 meses ou >2% em 6 meses.
Por tanto, quanto maior for a redução de HbA 1c, maior será o risco de APRD. Em particular, embora esta redução geralmente ocorra depois do tratamento com um fármaco altamente efetivo, também se informa o agravamento precoce da RD após a cirurgia bariátrica.
No entanto, a possível associação entre os agonistas do receptor do peptídeo 1 similar ao glucagon (GLP-1RA) (em particular, semaglutida) e piora precoce da RD ainda está em debate. A presença da retinopatia também é um fator de risco essencial do agravamento.
Por isso, Simó e colaboradores (2023) realizaram um estudo com o objetivo de avaliar se APRD também é um problema em pacientes com diabetes tipo 2 com RD não proliferativa (NPDR) leve ou moderada, que representam a grande maioria de pacientes atendidos em atendimento primário. Além disso, também analisaram a relação entre APRD e os diferentes fármacos antidiabéticos.
Métodos
Realizaram um estudo retrospectivo de caso-controle aninhado de indivíduos com diabetes tipo 2 e RD não proliferativa leve ou moderada anterior (NPRD). Utilizando o banco de dados SIDIAP (“Sistema d'informació pel Desenvolupament de la Recerca a Atenció Primària”), selecionara, 1.150 indivíduos com RD não proliferativa (RDNP) e 1.150 indivíduos controle pareados (RD). A principal variável analisada foi a magnitude da redução da HbA 1c nos últimos 12 meses. A redução foi categorizada como rápida (redução >1,5% em <12 meses) ou muito rápida (>2% em <6 meses).
Resultados
Não foram encontradas diferenças significativas na redução da HbA 1c entre casos e controles (0,13 ± 1,21 vs. 0,21 ± 1,18; P = 0,12).
A redução da HbA 1c não apresentou associação significativa com a piora da RD, nem nas análises não ajustadas nem nos modelos estatísticos ajustados que incluíram as principais variáveis de confusão: tempo de diabetes, HbA 1c basal, presença de hipertensão e de medicamentos antidiabéticos.
Além disso, quando a estratificação foi realizada pela HbA 1c basal, não foram encontradas que os pacientes com níveis mais elevados de HbA 1c apresentassem maior risco de EWDR.
Figura: Progressão de NPDR leve e moderada a VTDR segundo redução de HbA 1c (rápida e muito rápido).
Conclusão Os resultados sugeriram que a rápida redução de HbA 1c não foi associada com a progressão do agravamento precoce da retinopatia diabética leve ou moderada. Em resumo, os médicos não devem ter receio de otimizar a glicose em sangue em um período relativamente curto naqueles sujeitos com RD não proliferativa (RDNP) leve ou moderada. No entanto, esta estratégia não pode estender-se a RD que integra um perigo na visão, em que se deve planejar uma diminuição cuidadosa da HbA 1c. Portanto, a presença e o grau de RD é informação relevante que deve estar disponível antes de iniciar uma abordagem de redução intensiva da glicose. |