Introdução |
A ooforectomia é um procedimento cirúrgico que envolve a remoção dos ovários. Dependendo da sua extensão, este procedimento pode resultar na indução precoce da menopausa, exigindo considerações cuidadosas sobre a terapia hormonal e cuidados de saúde para mitigar os efeitos da perda hormonal. Em crianças e adolescentes, embora a maioria das massas ovarianas sejam benignas, muitas são tratadas com ooforectomia, o que pode ser desnecessário e ter efeitos negativos para a saúde ao longo da vida.
Por esta razão, Minneci e colaboradores (2023) conduziram um estudo para avaliar a capacidade de um algoritmo de estratificação de risco pré-operatório baseado em consenso para discriminar entre patologia ovariana benigna e reduzir a taxa de ooforectomias desnecessárias.
Métodos |
Foi conduzido um estudo pré e pós-intervenção utilizando um algoritmo para avaliar o risco em pacientes de 6 a 21 anos que passaram por cirurgia de massa ovariana em 11 hospitais infantis nos Estados Unidos, no período de agosto de 2018 a janeiro de 2021, com acompanhamento de 1 ano. O algoritmo foi implementado após um consenso, com avaliação prévia de 6 meses, seguidos por 6 meses de adoção e 18 meses de aplicação efetiva.
Imagem. Fluxograma do algoritmo de estratificação de risco pré-operatório baseado no consenso para discriminar entre patologia ovariana benigna e reduzir a taxa de ooforectomias desnecessárias. Imagem adaptada de: Jama Network
Resultados |
Um total de 519 pacientes, com idade média de 15,1 anos, foi incluído em três fases do estudo: 96 na fase pré-intervenção (com idade média de 15,4 anos; 11,5% não-hispânicos negros; 68,8% brancos não-hispânicos); 105 na de adoção; e 318 na de intervenção (com idade média de 15,0 anos; 13,8% não-hispânicos negros; 53,5% brancos não-hispânicos). A presença de doença benigna foi observada em 93 (96,9%) na fase pré-intervenção e em 298 (93,7%) na de intervenção.
A taxa de ooforectomias desnecessárias diminuiu de 16,1% (15/93) na fase pré-intervenção para 8,4% (25/298) durante a intervenção, uma redução absoluta de 7,7% (IC 95%, 0,4%-15,9%; P = 0,03). Enquanto 15 das 93 (16,1%) crianças com neoplasia benigna no grupo pré-intervenção receberam uma ooforectomia desnecessária, apenas 25 das 298 (8,4%) crianças foram submetidas à cirurgia durante o período de intervenção.
O desempenho do teste do algoritmo na identificação de lesões benignas apresentou sensibilidade de 91,6% (IC 95%, 88,5%-94,8%) e especificidade de 90,0% (IC 95%, 76,9%-100%), destacando sua precisão na distinção entre lesões benignas e malignas. Os pesquisadores também observaram um valor preditivo positivo de 99,3% (IC 95%, 98,3%-100%) e um valor preditivo negativo de 41,9% (IC 95%, 27,1%-56,6%).
Durante a fase de intervenção, houve uma taxa de erros de classificação de 0,7%, referindo-se a casos em que a doença maligna foi tratada erroneamente com cirurgia preservadora do ovário. O algoritmo demonstrou uma forte taxa de adesão de 95,0% durante esta fase, indicando a disposição dos cirurgiões em aderir ao algoritmo, embora o nível de fidelidade inferior de 81,8% sugeriu que houve obstáculos que impediram a implementação completa.
Conclusão A implementação de um algoritmo de avaliação de risco prévio à cirurgia reduziu significativamente o número de ooforectomias desnecessárias, especialmente ao identificar lesões com alta probabilidade de serem benignas, indicando a viabilidade de preservação ovariana. Essa adoção pode ser crucial na prevenção de ooforectomias não essenciais durante a adolescência, minimizando impactos ao longo da vida. No entanto, são necessárias pesquisas adicionais futuras para identificar e analisar as possíveis barreiras frente a este algoritmo. |