Alimentação e saúde

Associação entre dieta e dermatite seborréica

Estudo de caso-controle

Autor/a: Alshaebi M, Zahed L, Osaylan M, et al.

Fuente: Association Between Diet and Seborrheic Dermatitis: A Case-Control Study

Introdução

A dermatite seborréica (DS) é uma doença cutânea eritematodescamativa inflamatória crônica que afeta principalmente áreas ricas em sebo, como face, região anterior do tórax e couro cabeludo. A fisiopatologia subjacente da doença não é bem compreendida. No entanto, muitos estudos identificaram vários fatores predisponentes, como colonização por levedura Malassezia, atividade das glândulas sebáceas e suscetibilidade individual.

A DS tem incidência bifásica. O primeiro pico ocorre na infância, causando o que é conhecido como crosta láctea devido ao efeito dos andrógenos maternos que estimulam o crescimento das glândulas sebáceas. O segundo é observado em adultos, principalmente em homens, devido a um aumento na atividade das glândulas sebáceas pelos andrógenos.

O tratamento da DS baseia-se na compreensão da fisiopatologia. Antifúngicos como o cetoconazol tópico são a base do tratamento, pois têm como alvo a levedura Malassezia e limitam o seu crescimento. Corticosteróides tópicos podem ser usados em combinação, mas o uso a longo prazo deve ser evitado devido aos seus efeitos adversos. Essas opções de tratamento geralmente controlam os sinais e sintomas da doença. No entanto, não oferecem cura, o que explica a cronicidade da doença e os surtos recorrentes. Portanto, outras opções de tratamento, como modificações na dieta e no estilo de vida, devem ser identificadas para ajudar no manejo da DS e prevenir episódios recorrentes, diminuindo assim a carga da doença.

Por isso, Alshaebi e colaboradores (2023) realizaram um estudo com objetivo de identificar modificações dietéticas específicas que podem ser implementadas como complemento ao tratamento tradicional da DS.

Métodos

Realizaram um estudo retrospectivo não intervencionista de caso-controle. Os dados foram obtidos de prontuários de pacientes com diagnóstico de DS. Os pacientes foram convidados a participar de um questionário on-line de autorrelato, e a ingestão alimentar foi avaliada por meio de um questionário de frequência alimentar validado. Os controles foram recolhidos através da distribuição do mesmo questionário a residentes adultos saudáveis que vivem em Jeddah através das redes sociais.

Resultados

No total, duzentos e sessenta e sete participantes foram incluídos no estudo, 59 dos quais tinham diagnóstico de DS. Os que relataram consumir os seguintes tipos de alimentos uma vez ao dia tiveram maior percentual da doença em comparação com aqueles sem o diagnóstico: uma fatia de pão branco (p=0,002), uma xícara de arroz ou macarrão (p<0,001), frutas não ácidas (p=0,014), vegetais de folhas verdes (p=0,007), outros tipos de vegetais (p=0,001), nozes torradas ou fritas (p=0,047), nozes cruas (p=0,022) e uma xícara de café (p=0,041).

Sendo assim, os resultados demonstraram que o consumo de carboidratos simples, como pão branco e macarrão, foi significativamente mais prevalente entre aqueles com diagnóstico de DS. Este pode ser explicado pelo hormônio IGF-1, que exerce os seus efeitos nas glândulas sebáceas, estimulando a sua proliferação e aumentando a produção de sebo.

Quando os participantes foram questionados sobre a impressão sobre quais tipos de alimentos desencadearam ou aliviaram sua doença, 29 (49,2%) relataram não ter crises com qualquer tipo de alimento. Por outro lado, os seguintes tipos de alimentos foram comumente relatados como associados à exacerbação da DS: alimentos condimentados (16,9%), doces (16,9%), frituras (13,5%), laticínios (11,9%) e frutas cítricas (10,2%). Em contrapartida, frutas cítricas, vegetais de folhas verdes (8,5% para cada) e outros tipos de vegetais (6,8%) foram frequentemente observados com melhora do DS.

A prevalência de DS foi significativamente maior entre os participantes que usaram manteiga para fritar. Além disso, a proporção de participantes com DS que consumiram a maior parte da gordura visível na carne foi significativamente maior (16,9% n=10) do que a dos indivíduos sem DS (6,7% n=14, p=0,049). A ingestão excessiva de gorduras trans ou saturadas pode aumentar a inflamação sistêmica e piorar as condições da pele, como é observado em outra doença eritematodescamativa conhecida como psoríase. O consumo de vitamina D foi significativamente maior entre os indivíduos com DS, enquanto uma proporção significativamente menor de consumo de ferro foi observada em comparação com seus controles.

Conclusão

Vários fatores dietéticos foram associados à DS no estudo, indicando que a dieta pode afetar o curso da doença. Isso incluiu pão, arroz, macarrão, frutas não ácidas, vegetais de folhas verdes, nozes torradas ou fritas, nozes cruas e café. Foi relatado que frutas cítricas e vegetais aliviam os sintomas da doença. Por outro lado, alimentos condimentados, doces, frituras, laticínios e frutas cítricas estiveram entre os agravantes. Antes que a restrição alimentar possa ser aplicada, são necessárias mais evidências para fundamentar os resultados.