Introdução |
O uso global de medicamentos prescritos tem aumentado continuamente há décadas. A microbiota intestinal, um dos principais contribuintes para o estado de saúde, pode ser alterada pelo uso de fármacos, uma vez que os antibióticos têm sido repetidamente descritos como tendo efeitos de curto e longo prazo na mesma.
Por isso, Bastard e colaboradores (2023) resumiram as atuais descobertas sobre alterações da microbiota intestinal induzidas por prescrição de medicamentos não antibióticos, com foco nas categorias de medicamentos terapêuticos mais frequentemente prescritos.
Métodos |
Realizaram uma revisão sistemática pesquisando primeiro em bases de dados on-line artigos indexados e resumos de acordo com as diretrizes PRISMA. Foram incluídos estudos que avaliaram as alterações da microbiota intestinal associadas a inibidores da bomba de prótons (IBP), metformina, anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), opioides, estatinas e antipsicóticos. Incluíram apenas estudos utilizando técnicas moleculares independentes de cultura.
Resultados |
Os inibidores da bomba de prótons e os medicamentos antipsicóticos foram associados a uma diminuição na diversidade α na microbiota intestinal, enquanto os opioides foram associados a um aumento. A metformina e os AINEs não foram associados a alterações significativas na diversidade α. A diversidade β foi significativamente alterada com todos os medicamentos, exceto para os AINEs. O uso de IBP foi associado à diminuição de Clotridiales e ao aumento de Actinomycetales, Micrococcaceae e Streptococcaceae, alterações anteriormente implicadas na disbiose e aumento da suscetibilidade à infecção por Clostridium difficile. Resultados consistentes mostraram que IBPs, metformina, AINEs, opioides e antipsicóticos estavam associados a aumentos de membros da classe Gammaproteobacteria (incluindo Enterobacter, Escherichia, Klebsiella e Citrobacter) ou de membros da família Enterococcaceae, que são frequentemente patógenos isolados de infecções da corrente sanguínea em pacientes doentes. Batsard e colaboradores (2023) descobriram também que o tratamento antipsicótico, geralmente associado a um aumento no índice de massa corporal, foi marcado por uma diminuição da proporção de Bacteroidetes: Firmicutes na microbiota intestinal, assemelhando-se às tendências observadas em pacientes obesos.
Conclusão |
Os medicamentos prescritos tiveram um impacto notável na arquitetura geral da microbiota intestinal. Estudos futuros devem procurar definir biomarcadores de disbiose induzida por medicamentos específicos e, potencialmente, adaptar bioterapêuticos vivos para combater esta disbiose. Muitos outros medicamentos frequentemente prescritos também devem ser investigados para melhor compreender a ligação entre estes, a microbiota e o estado de saúde.