Introdução |
A biópsia de próstata é o procedimento de padrão ouro para diagnosticar o câncer de próstata, a neoplasia maligna não dermatológica mais comum em homens. Os eventos adversos frequentes que seguem a este procedimento são bem conhecidos e incluem hemospermia, hematúria, infecção do trato urinário, sangramento renal e desconforto renal. As complicações mais graves, como infecções graves e sepse, são menos comuns.
A ereção do pênis é um processo complexo que ocorre através de uma cascata de eventos vasculares, neurológicas e psicológicas. Portanto, qualquer dano ou alteração das sequências fisiológicas normais nestes processos, como o envelhecimento, os efeitos secundários dos medicamentos, as doenças comórbidas ou o estresse psicológico, podem afetar a qualidade das ereções de um paciente.
Constata-se nos últimos tempos uma disfunção erétil depois de uma biópsia de próstata. No entanto, tem sido uma controvérsia significativa sobre se as biópsias de próstata pré-dispõe aos pacientes a disfunção erétil. Alguns fatores bem estudados que podem influenciar como a idade do paciente, dano neurovasculares durante a injeção de anestesia local, compressão neurovasculares por formação de hematoma ou edema, o número de biópsias realizadas, ansiedade relacionada com o procedimento, o tipo de biópsia e o intervalo de tempo depois da intervenção.
O diagnóstico de câncer de próstata está associado com o estresse psicológico, ansiedade e depressão, que por sua vez podem causar disfunção erétil. A pontuação do Índice internacional da função erétil depois da biópsia de próstata pode com o tempo envolver aos valores iniciais em homens diagnosticados com câncer do que aqueles com patologia benigna.
A literatura sobre a disfunção erétil após a biópsia de próstata é heterogênea e possui resultados contraditórios. Portanto, para o assessoramento e o manejo do paciente, é necessário compreender melhor a associação entre a biopsia da próstata e a disfunção sexual. Presume-se que a estejam associados, mas que este efeito provavelmente seja transitório. Para proporcionar evidência clara sobre a duração e o grau da disfunção depois do procedimento, Fainberg et al., (2023) realizaram uma revisão sistemática e uma metanálise das medidas validadas da função sexual, 1, 3 e 6 meses depois da biópsia de próstata.
Métodos |
Fora realizado uma busca bibliográfica sistemática em 4 bases de dados: MEDLINE (através do PubMed), Embase, Web of Science e Cochrane Library. Foram incluídos estudos centrados na disfunção erétil em homens de todos os grupos de idade submetidos a biópsia de próstata transretal ou transperineal por suspeita de câncer de próstata.
Incluiu-se os estudos com pontuações do índice internacional de função erétil antes e depois da biópsia aos 1, 3 e 6 meses. Realizou-se também uma metanálise do tamanho do efeito comparando as pontuações do índice (IIEF-5) baseadas do paciente com pontuações posteriores a biópsia.
Resultados |
Foi identificado 9 estudos que incluíam o critério de inclusão dos autores, dos quais 6 examinaram a biópsia de próstata transretal, 2 examinaram a biópsia de próstata transperineal e 1 examinou ambas. Um mês depois da biópsia, a pontuação média do IIEF-5 diminuiu em aproximadamente 2,2 pontos segundo o determinado pelo tamanho do efeito (-0,43, p=0,002).
No entanto, aos 3 e 6 meses depois da biópsia, não houve diferenças em comparação com o valor inicial (tamanho do efeito = -0,08, p= 0,52 e tamanho do efeito = -0,11, p= 0,18, respectivamente).
Uma análise exploratória de subgrupos que examinou a biópsia de próstata transretal aos 3 meses mostrou uma pontuação média de IIEF-5 estatisticamente mais baixa em comparação com o valor inicial (p= 0,047), o que corresponde a uma diminuição de aproximadamente 1,25 pontos no IIEF-5.
Discussão |
Os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática e uma metanálise que examinou a disfunção erétil depois da biópsia de próstata. Os resultados sugeriram que o procedimento foi associado com uma leve diminuição nas pontuações de IIEF-5, mas que o efeito depende do tempo.
Descobriram que 1 mês após a biópsia houve uma diminuição estatisticamente significativa na pontuação média do IIEF-5, que pareceu desaparecer aos 3 meses. A diminuição líquida na pontuação IIEF-5 em 1 mês a partir da análise combinada dos estudos TRUS-Bx e TPBx foi de 2,2 pontos (IC 95% = −3,5 pontos, −0,8 pontos).
Em particular, a diferença clinicamente minimamente importante para o IIEF foi de 4 pontos no geral, mas varia de 2 a 7 pontos dependendo da gravidade da DE existente do paciente. Isto sugeriu que uma alteração de 2 pontos em média poderia resultar em desconforto clínico significativo para os pacientes, especialmente aqueles com sintomas leves.
Aos 3 meses, a alteração média na pontuação IIEF-5 já não era estatisticamente significativa. Este efeito persistiu 6 meses após a biópsia. Para os homens que tiveram TRUS-Bx, as pontuações IIEF-5 permaneceram ligeiramente diminuídas aos 3 meses, sugerindo que alguns continuam a ter pontuações IIEF-5 diminuídas aos 3 meses, o que não tinham antes da biópsia.
A etiologia da disfunção erétil após o procedimento é provavelmente multifatorial. Mecanicamente, é preocupante que o processo de injeção possa danificar potencialmente a pele e os nervos responsáveis da ereção.
Conclusões A biópsia da próstata causou uma diminuição leve e transitória nas pontuações médias do IIEF-5 um mês após a biópsia. No entanto, isso se resolve em média em 3 meses, e o IIEF-5 médio permanece no valor basal 6 meses após a biópsia. |