A neoplasia intraepitelial endometrial (NEI) ou a hiperplasia endometrial atípica (HEA) são consideradas lesões precursoras do adenocarcinoma do endométrio. Quando o tecido vascularizado que reveste a parede interna do útero é estimulado sem a devida oposição de progestágenos, pode-se resultar em alterações epiteliais glandulares proliferativas ou hiperplasia.
A Sociedade de Oncologia Ginecológica (SGO) recentemente endossou um consenso clínico do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG), que abordou as situações em que a NEI-HEA pode progredir para adenocarcinoma do endométrio. Este consenso recomendou a exclusão do câncer endometrial para evitar subtratamento ao considerar abordagens não cirúrgicas, enfatizando a importância de terapias apropriadas e vigilância rigorosa ao optar por métodos de tratamento não cirúrgicos. Este documento teve como finalidade assegurar o desenvolvimento e a implementação de planos de tratamento mais adequados e específicos, bem como estabelecer diretrizes para médicos acompanharem de forma proativa a resposta dos pacientes ao tratamento. Além disso, enfatizou a importância de promover mudanças no estilo de vida que possam aprimorar a saúde geral e reduzir o risco de NEI-HEA e câncer endometrial.
Detecção de carcinoma recorrente |
A amostragem uterina guiada por histeroscopia é recomendada e os estudos demonstraram a sua utilidade para o diagnóstico de pólipos endometriais, câncer endometrial e hiperplasia.
O documento recomendou que os ginecologistas façam esforços para excluir a presença de carcinoma concomitante em indivíduos diagnosticados com NEI HEA. Para esse fim, o exame histeroscópico com posterior amostragem do endométrio foi o método mais apropriado para detectar esse tipo de carcinoma. A porcentagem de pacientes diagnosticados com EIN-HEA que foram submetidos à histerectomia e tiveram câncer de endométrio na amostra variou de aproximadamente 30% a quase 50%. Portanto, é fundamental tentar excluir a presença de câncer endometrial afim de evitar o risco de subtratamento de uma malignidade desconhecida em pacientes já diagnosticados com EIN-HEA.
Manejo cirúrgico |
A histerectomia é de fato o tratamento cirúrgico definitivo para a NEI-HEA e é uma opção frequentemente escolhida por pacientes que não desejam preservar a fertilidade. O documento ressaltou que a histerectomia supracervical não deve ser utilizada para tratar a NEI-HEA, pois essa abordagem não permite avaliar a extensão mais baixa da lesão, podendo comprometer a eficácia do tratamento. Portanto, a histerectomia completa foi recomendada para garantir a remoção completa da lesão e prevenir possíveis complicações.
Manejo não-cirúrgico |
Para abordagens não cirúrgicas, foi recomendado que os médicos considerassem a terapia de manutenção a longo prazo com agentes progestacionais em pacientes com fatores de risco contínuos para câncer de endométrio, como idade avançada, menopausa tardia, nuliparidade ou ciclos menstruais irregulares crônicos. Estudos demonstraram que o tratamento nessas populações resultou em altas taxas de regressão da NEI-HEA.
Além disso, embora haja dados limitados, alguns estudos sugeriram que o tratamento com o dispositivo intrauterino liberador de levonorgestrel (DIU-LNG) pode resultar em taxas de regressão ainda mais elevadas quando comparado ao tratamento apenas com progestágenos orais.
Acompanhamento |
Para pacientes tratadas com agentes progestacionais, o consenso recomendou a repetição de avaliação histológica para verificar a resposta ao tratamento de EIN-HEA dentro de 3-6 meses. Caso não haja resposta ou alguma regressão durante os 0-6 meses iniciais, podem ser considerados 3-6 meses adicionais de terapia após discussão com a paciente. Se não houver regresso após 9-12 meses de terapia, outras opções de tratamento devem ser discutidas.
Aconselhamento à pacientes sobre estilo de vida |
O consenso recomendou que os ginecologistas, bem como outros médicos, forneçam aconselhamento às pacientes sobre a adoção de modificações no estilo de vida. O controle glicêmico, a perda de peso e a melhoria na qualidade de vida podem não apenas beneficiar a saúde geral dos pacientes, mas também reduzir o risco de NEI-HEA e câncer de endométrio. Estudos demonstraram que a perda de peso de 7 a 10% do peso corporal total resultou em efeitos positivos na saúde das pacientes. Portanto, a educação e o aconselhamento dos médicos desempenham um papel crucial na promoção de mudanças no estilo de vida, levando a melhorias a longo prazo na saúde e nos resultados.
As estratégias baseadas em evidências abordadas pelo consenso são métodos recomendados para ajudar a minimizar a progressão para malignidade endometrial mais avançada e melhorar o manejo do câncer, abrangendo todas as populações de pacientes afetadas. Essas diretrizes são fundamentais para assegurar a oferta de cuidados eficazes e adequados aos pacientes com NEI-HEA e câncer de endométrio, com o objetivo de otimizar os resultados clínicos e a qualidade de vida.