Revisão sistemática

O efeito do uso de contraceptivos hormonais na hipertrofia muscular, na potência e nas adaptações de força nos exercícios de resistência

Efeito do uso de CH na hipertrofia do músculo esquelético, nas adaptações de potência e força em resposta ao treinamento físico resistido

Introdução

Os exercícios de resistência são amplamente recomendados para a população em geral devido aos diversos benefícios que oferecem à saúde. Eles desencadeiam transformações tanto no aspecto morfológico quanto no sistema neurológico, o que contribui para o aumento da massa muscular, da potência e da força.

Hormônios sexuais endógenos influenciam diversas funções corporais e podem afetar o desempenho no exercício. O uso de contraceptivos hormonais (CH) tem efeitos ambíguos sobre o desempenho atlético, no entanto, grande parte da literatura até o momento é de baixa qualidade, devido às limitações como tamanhos de amostra reduzidos, falta de padronização e familiarização inadequada, todos estes fatores limitam a interpretação dos resultados.

Dada a diversidade de resultados e a ausência de recomendações baseadas em evidências para atletas do sexo feminino e para profissionais que as acompanham, Nolan e colaboradores (2023) realizaram uma revisão com objetivo investigar a influência dos CH na hipertrofia muscular, potência e adaptações de força em resposta ao treinamento de exercícios de resistência.

Métodos

Foi realizada uma revisão sistemática com metanálise de estudos que compararam diretamente a hipertrofia muscular, a potência e as adaptações de força após o treinamento de exercícios de resistência em usuárias que utilizam ou não contraceptivos hormonais, realizados antes de julho de 2023. A busca realizada nas bases de dados online PUBMED, SPORTDiscus, Web of Science, Embase e outras estratégias de busca suplementares resultou em 4.669 artigos, sendo que 8 atenderam aos critérios de inclusão. A qualidade metodológica dos estudos incluídos foi avaliada utilizando a "Ferramenta para Avaliação da Qualidade do Estudo e Relato em Exercícios".

Resultados

Os estudos selecionados investigaram a influência das pílulas contraceptivas orais (CHO), sem nenhum estudo envolver participantes que utilizassem outras formas de contraceptivos hormonais. No total, foram derivados 54 efeitos a partir de oito estudos para os resultados de hipertrofia (20), potência (9) e força (26). O número total de participantes foi 325 (n=159/166; CHO/menstruação natural), com uma média ponderada de idade de 24,0 anos. As intervenções de exercícios duraram entre 8 e 16 semanas, com uma média ponderada de duração de 11,6 ± 2,2 semanas, e uma média ponderada de 3,3 ± 0,4 sessões por semana.

Os resultados indicaram que o uso de CHO não tem um efeito significativo na hipertrofia [0,01, intervalo de confiança (IC) de 95% [−0,11, 0,13], t=0,14, p=0,90), potência (−0,04, IC de 95% [−0,93, 0,84], t= −0,29, p=0,80) ou força (0,10, IC de 95% [−0,08, 0,28], t=1,48, p=0,20).

Conclusão

A metanálise constatou que o uso de CHO não teve um efeito estatisticamente significativo na hipertrofia muscular, na potência e nas adaptações de força em resposta aos exercícios de resistência. Com base na presente análise, não há justificativa fundamentada em evidências para defender ou se opor ao uso de CHO em mulheres que praticam exercícios de resistência e nem há evidências de que o seu uso atenuaria essas adaptações. Em vez disso, uma abordagem individualizada, considerando a resposta individual aos CHO, suas razões para o uso e histórico menstrual, pode ser mais apropriada.