O câncer de pele é provocado pelo crescimento anormal e descontrolado das células desse tecido– geralmente causado pela exposição à radiação ultravioleta. O tipo mais comum, o câncer da pele não melanoma, tem letalidade baixa, porém seus números são muito altos. Os mais comuns são os carcinomas basocelulares e os espinocelulares, responsáveis por 177 mil novos casos da doença por ano. Mais raro e letal que os carcinomas, o melanoma é o tipo mais agressivo de câncer da pele e registra 8,4 mil casos anualmente.
O tratamento do câncer de pele não melanoma geralmente inclui a remoção cirúrgica do tumor, enquanto o tratamento do melanoma pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia e imunoterapia. A cirurgia para pequenas lesões de câncer de pele pode incluir excisão simples, eletrodissecação e curetagem ou criocirurgia, enquanto para lesões maiores ou recorrentes pode incluir a excisão ampla convencional do tumor, ou cirurgia de Mohs.
A cirurgia de Mohs, também conhecida como cirurgia micrográfica de Mohs (CMM), é um procedimento no qual finas camadas do tumor são progressivamente removidas e examinadas até que reste apenas tecido livre de câncer, podendo ser realizada em uma única consulta. A sua maior precisão também pode diminuir as cicatrizes e reduzir a probabilidade de necessidade de tratamento ou cirurgias adicionais. Evidências clínicas até o momento mostraram que, em comparação com a excisão cirúrgica convencional, a CMM levou a uma taxa de cura significativamente maior para o tratamento do câncer da pele não melanoma recorrente e pode ter um papel no tratamento do melanoma in situ e de alguns outros cânceres de pele incomuns, como o carcinoma de células de Merkel e o dermatofibrossarcoma protuberans.
Ho e Argáez (2023) desenvolveram uma revisão para determinar as últimas evidências sobre a cirurgia de Mohs no tratamento de câncer de pele. Realizaram uma pesquisa bibliográfica em recursos-chave, incluindo PubMed, The Cochrane Library, Centro de Revisões e Divulgação (CRD) da Universidade de York, agências canadenses e grandes agências internacionais de tecnologia de saúde, bem como uma pesquisa focada na Internet.
Foram identificadas nove diretrizes baseadas em evidências, das quais duas emitiram recomendações sobre carcinoma basocelular, quatro sobre carcinoma espinocelular, duas sobre melanoma e uma sobre carcinoma de células de Merkel.
- Carcinoma basocelular
O Cancer Care of Ontario recomendou a CMM para pacientes com carcinoma basocelular (CBC) recorrente confirmado histologicamente da face e para CBC primário da face quando os tumores têm >1 cm, apresentam histologia agressiva ou estão localizados em locais críticos. Ademais o The Canadian Non-melanoma Skin Cancer Guidelines Committee orientou que a CMM possa ser considerada como uma opção de primeira linha para CBC primário de alto risco, CBC de alto risco excisado incompletamente e a maioria dos CBC recorrentes passíveis de cirurgia.
- Carcinoma de células escamosas
O Canadian Non-melanoma Skin Cancer Guidelines Committee aconselhou que a CMM possa ser considerada como uma das opções para o tratamento do carcinoma espinocelular primário ou recorrente de alto risco. A American Academy of Dermatology recomendou a CMM para carcinoma espinocelular de alto risco, no entanto, essa baseia-se em evidências inconsistentes ou de qualidade limitada. A diretriz da Scottish Intercollegiate Guidelines Network orientou que a CMM seja considerada para pacientes com tumores de alto risco, onde a preservação do tecido ou o controle das margens são desafiadores e para qualquer tumor em um local anatômico crítico.
A British Association of Dermatologists recomendou que a CMM seja indicada para carcinoma espinocelular in situ (doença de Bowen) digital e para alguns casos do tumor genital (especialmente peniano) in situ por seus benefícios de preservação de tecidos.
- Melanoma
O Comitê da Academia Americana de Dermatologia aconselhou que a CMM possa ser usada para melanoma in situ tipo lentigo maligno, na face, orelhas ou couro cabeludo. A diretriz do Cancer Counsel Australia afirmou que a CMM melhorou as taxas de eliminação completa e reduziu as recorrências em relação à remoção cirúrgica convencional do lentigo maligno.
Conclusão |
Com base nas diretrizes incluídas, a CMM foi recomendada como opção de primeira linha para carcinoma basocelular primário ou recorrente de alto risco. Para o espinocelular primário ou recorrente de alto risco, o procedimento pode ser considerado como uma das opções, especialmente quando a preservação do tecido ou o controle das margens são desafiadores, ou quando o tumor está em um local anatômico crítico. Para carcinoma espinocelular in situ (doença de Bowen), a CMM pode ser indicada para tumor digital e peniano, ou em lesões recorrentes ou excisadas incompletamente. Também pode ser considerada para melanoma in situ (lentigo maligno) e carcinoma de células de Merkel, especialmente quando o tumor está em uma área sensível e há preocupações de comprometimento funcional devido a uma excisão muito radical.
A CMM poderia ser uma melhor opção de tratamento para tumores maiores que 2 cm que apresentam maior chance de remoção incompleta com cirurgia convencional. Ademais, o procedimento levou a uma taxa de recorrência menor do que a cirurgia convencional para dermatofibrossarcoma protuberans. No entanto, a maioria das recomendações sobre o uso da CMM para o câncer de pele baseou-se em evidências de qualidade limitada e devem ser interpretadas com cautela. São necessários resultados de mais ensaios de alta qualidade para elucidar o papel do procedimento no tumor.