Introdução |
Historicamente, o tratamento profilático para migrânea crônica (MC) e episódica (ME) consiste em medicamentos não específicos para a doença, como anticonvulsivantes, betabloqueadores, antidepressivos, bloqueadores dos canais de cálcio e toxina botulínica (Botox®).
Recentemente, anticorpos monoclonais (mAbs) direcionados à via do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) foram testados extensivamente em vários ensaios clínicos para MC e ME, mostrando alta eficácia, segurança e tolerabilidade. O erenumabe foi aprovado em 2018 pela European Medicines Agency e pela Food and Drug Administration para o tratamento preventivo da migrânea com mais de quatro dias de dor de cabeça por mês. Posteriormente, outros mAbs, como galcanezumab e fremanezumab, foram aprovados para a mesma indicação.
Em 2019, a American Headache Society publicou uma declaração de consenso sobre o tratamento da migrânea para a prática clínica. Esta sugeriu o uso de mAbs em pacientes com MC, ME e intolerância ou resposta inadequada a tratamento de 6 semanas com pelo menos de dois medicamentos preventivos. Desde então, foi amplamente comprovado que esses fármacos têm uma relação risco-benefício superior em comparação com o tratamento profilático tradicional. No entanto, não existiam estudos prospectivos do mundo real que comparassem a eficácia e a segurança entre os mAbs.
Por isso, Saccà e colaboradores (2022) realizaram um estudo para comparar a eficácia e segurança de galcanezumabe, fremanezumabe e erenumabe no tratamento da ME e MC, por meio de dados do mundo real.
Métodos |
Realizou-se um estudo de coorte observacional prospectivo que comparou os perfis de eficácia e segurança de galcanezumabe, fremanezumabe e erenumabe para o tratamento de EE e EC. Foram inscritos 140 pacientes no Centro de Cefaleia da Universidade Federico II de Nápoles, com histórico de múltiplos tratamentos malsucedidos com medicamentos preventivos validados para o controle da migrânea.
Erenumabe (dose mensal 140 mg), fremanezumabe (dose mensal 225 mg), ou galcanezumabe (na dose inicial de 240 mg e subsequentes doses mensais de 120 mg) foram administrados de acordo com as recomendações dos fabricantes. O estudo acompanhou o uso dos mesmos durante 12 meses. A média mensal de dias com dor de cabeça, escore de Avaliação de Incapacidade de Migrânea (MIDAS) e eventos adversos foram avaliados durante o período inicial e a cada 3 meses.
Resultados |
A frequência mensal da migrânea mostrou uma diminuição global significativa em toda a coorte de pacientes durante o período de acompanhamento de 12 meses sem diferenças significativas entre os três subgrupos. Ademais, uma redução significativa do escore MIDAS também foi registrada de maneira similar entre os grupos. Sendo assim, Saccà e colaboradores (2022) não encontraram diferença significativa em termos de eficácia entre os tratamentos.
Em pacientes com cefaleia por uso excessivo de medicamentos, foi observada uma diferença significativa entre os mAbs em termos de redução de dias mensais de migrânea após 3 meses de terapia. Houve uma redução média de −9,6 dias em todos os pacientes tratados, sendo registrado uma média de -10,8, - 4,0 e -11,1 nos que utilizaram galcanezumabe, fremanezumabe e erenumabe, respectivamente. O mesmo foi observado para o escore MIDAS.
Durante o período de tratamento, eventos adversos leves foram relatados por 34% pacientes inscritos. Entre os subgrupos, 9%, 8% e 17% foram correlacionados à galcanezumabe, fremanezumabe e erenumabe, respectivamente. Os mais comuns foram constipação, reação inespecífica no local da injeção e fadiga. Nenhum paciente suspendeu o tratamento devido a eventos adversos leves. Apenas um evento adverso grave foi relatado por um paciente no subgrupo erenumabe. Ele apresentava comorbidades de hipertensão arterial, dislipidemia e obesidade.
Conclusão |
Entre pacientes adultos com MC ou ME, galcanezumabe, fremanezumabe e erenumabe foram considerados tratamentos eficazes e bem tolerados. Os resultados do estudo reforçaram os benefícios terapêuticos dos mAbs contra CGRP. Não foram encontradas evidências que demonstraram que um anticorpo possa ser superior aos demais em termos de eficácia.