O que nos impulsiona a desenvolver novas ideias em lugar de nos conformarmos com métodos e processos já existentes? O que desencadeia o desejo de inovar, de sacrificar tempo, energia e reputação por uma possível falha?
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A criatividade é baseada em mecanismos complexos que estamos apenas começando a entender e nos quais a motivação desempenha um papel central. Porém prosseguir com uma meta não é o suficiente para explicar por que preferimos algumas ideias sobre outras e se essa eleição beneficia o êxito de nossas ações.
“A criatividade pode se definir como a capacidade de produzir ideias originais e relevantes em um contexto dado, para resolver um problema ou melhorar uma situação. É uma habilidade chave para adaptar-se a mudança ou provocá-la”, explica Alizée Lopez-Persem, investigadora em neurociência cognitiva. “Nossa equipe está interessada nos mecanismos cognitivos que permitem que se produzam ideias criativas, com a esperança de aprender a usá-las sabiamente”.
Atualmente, os pesquisadores coincidem em que o processo criativo consta de duas fases sucessivas:
1. A geração de novas ideias
2. A avaliação de seu potencial
Toda via, temos que aprender como é feita essa avaliação e o que nos leva a reter umas ideias no lugar de outras. “Necessitamos apreciar as nossas ideias para selecionar as melhores”, disse López-Persem. “Porém, não há indícios de que esta operação corresponda a uma avaliação racional e objetiva na que tratamos de inibir nossos vieses cognitivos para tomar a melhor decisão possível. Contudo, queremos saber como se consegue esse valor e se depende das características individuais”.
Objetivando o movimento interior do florescimento de ideias
Modelar o processo criativo como uma sequência de operações envolvendo diferentes redes cerebrais não corresponde a uma concepção popular de criatividade, que costuma ser representada como um impulso que nos pega, transporta e ultrapassa. Pelo contrário, a equipe de Emmanuelle Volle acredita que a criatividade tem três dimensões fundamentais que podem ser modeladas com ferramentas matemáticas:
1. A exploração, que se baseia no conhecimento pessoal e permite imaginar opções possíveis;
2. A avaliação, que consiste em medir as qualidades de uma ideia;
3. A seleção, que nos permite eleger o conceito que se verbalizará.
Para compreender as relações recíprocas entre essas três dimensões, os pesquisadores as reproduziram em um modelo computacional, que comparou com o comportamento real dos indivíduos recrutados para o estudo. Através da plataforma PRISME do Paris Brain Institute, 71 participantes foram convidados a realizar testes de associação livre, que consistiram em unir palavras da maneira mais audaciosa possível. Em seguida, eles foram solicitados a avaliar o quanto gostaram dessas associações e se as consideraram relevantes e originais.
“Nossos resultados indicam que a avaliação subjetiva das ideias joga um papel importante na criatividade”, disse Emmanuelle Volle, neurologista. Observamos uma relação entre a velocidade de produção de novas ideias e o nível de apreciação destas por parte dos participantes. Em outras palavras, quanto mais você gostar da ideia que está prestes a formular, mais rápido ela chegará até você.
Imagine, por exemplo, um cozinheiro que pretende fazer um molho: quanto mais a combinação de sabores o seduzir em sua mente, mais rápido ele o fará. Nossa outra descoberta é que essa avaliação combina dois critérios subjetivos: originalidade e relevância.
Que preferências individuais promovem a criatividade?
A equipe demonstrou que a importância desses dois critérios varia entre os indivíduos. “Tudo depende da sua experiência, personalidade e provavelmente do seu ambiente”, acrescentou o investigador. Alguns preferem a originalidade de uma ideia à sua relevância; para outros, é o contrário. No entanto, preferir originalidade ou relevância desempenha um papel no pensamento criativo: “mostramos que as pessoas que se inclinam para ideias originais sugerem conceitos mais inventivos."
Por fim, o modelo da equipe previu a velocidade e a qualidade da entrada criativa dos participantes com base em suas preferências medidas em uma tarefa independente. Esses resultados destacaram a natureza mecânica do impulso criativo. Eles também apontaram para a possibilidade de longo prazo de descrever com precisão os mecanismos da criatividade no nível neurocomputacional e correlacioná-los com seu substrato neural, desafiando o estereótipo de que o pensamento criativo é um processo misterioso sobre o qual não temos controle algum.
"No futuro, queremos definir diferentes perfis de criatividade relacionados aos campos de atividade das pessoas. Você tem diferentes preferências criativas se é arquiteto, engenheiro de software, ilustrador ou técnico? acrescentou Alizée Lopez-Persem. Quais ambientes incentivam criatividade e quais a inibem? Podemos modificar ou reeducar o nosso perfil criativo através de exercícios cognitivos para nos adaptarmos a ambições ou necessidades pessoais? Todas estas questões permanecem em aberto, mas temos o firme propósito de as responder.