As condições conhecidas como alopecia de padrão feminino (APF), ou alopecia androgenética feminina (AAG), são caracterizadas pela diminuição gradual do tamanho dos folículos pilosos e a redução da densidade capilar, principalmente na área central e parietal do couro cabeludo.
Apesar de terem sido propostos numerosos tratamentos para a condição, análises conjuntas indicaram que somente o Minoxidil tópico conseguiu acumular um nível de evidência adequado. Por essa razão, Muller e sua equipe (2022) exploraram as principais opções terapêuticas para a alopecia de padrão feminino, ao mesmo tempo em que abordaram métodos de camuflagem para casos mais avançados.
1 | Tratamentos clínicos |
> Minoxidil tópico
O Minoxidil, originalmente um vasodilatador introduzido na dermatologia em 1980 para abordar a alopecia androgenética masculina (AAG), demonstrou a capacidade de estimular a proliferação de células na papila dérmica em cultura. Além disso, pode influenciar a expressão genética e ativar vias de sinalização, resultando na regulação positiva de genes relacionados às proteínas associadas à queratina.
Observa-se que cerca de 18% dos pacientes que utilizam o Minoxidil tópico podem experienciar um aumento temporário na queda de cabelo durante as primeiras semanas de tratamento. No entanto, a adesão ao tratamento é crucial para alcançar o sucesso desejado. Geralmente, os primeiros resultados tornam-se visíveis após quatro a seis meses de uso contínuo.
Esta abordagem terapêutica possui o mais alto nível de evidência no tratamento da alopecia de padrão feminino, mantendo-se como a opção de primeira escolha, apesar de sua antiguidade.
> Minoxidil oral
A versão oral do Minoxidil direcionada à alopecia de padrão feminino tem como objetivo ampliar a eficácia terapêutica e promover uma adesão mais consistente ao tratamento.
Nos últimos anos, observou-se um aumento crescente desta forma terapêutica para o tratamento da alopecia androgenética, tanto em homens quanto em mulheres. Esse aumento foi impulsionado pela facilidade de administração e adesão, além da percepção de resultados clínicos positivos. Contudo, ainda existe a necessidade de ensaios clínicos mais abrangentes, que comparem as diferentes doses e avaliem seus resultados em relação à terapia tópica tradicional.
> Inibidores da 5α-redutase
A ação da testosterona e, principalmente, da di-hidrotestosterana (DHT), é crucial no desenvolvimento e na evolução da AAG no homem, no entanto, pouco se sabe sobre seu papel na mulher.
A eficácia dos inibidores da 5αR (finasterida e dutasterida) no tratamento da AAG masculina corrobora a importância do DHT em sua fisiopatogênese. Porém, a finasterida 1 mg/dia foi eficiente para tratamento da APF em mulheres menopausadas.
Em estudo prospectivo não controlado, 37 pacientes fizeram uso de finasterida 2,5 mg/dia por 12 meses. No total, 62% apresentaram melhora na avaliação fotográfica e 32% no escore de densidade capilar.
A menor resposta das mulheres aos inibidores de 5αR provavelmente ocorre em decorrência do envolvimento de mecanismos não hormonais na fisiopatologia da APF que ainda não são totalmente esclarecidos.
Finasterida 1 mg/dia e dutasterida 0,5 mg/dia apresentam indicação de bula no Brasil para tratamento da AAG masculina. Seu uso em mulheres é off-label e deve ser realizado de maneira criteriosa em mulheres em idade fértil em razão de seu potencial teratogênico.
> Espironolactona
É um diurético poupador de potássio e antagonista dos receptores da aldosterona e dos receptores nucleares de andrógenos (NR3C4). Em um estudo prospectivo aberto no qual 80 mulheres receberam ou 200 mg/dia de espironolactona ou 50 mg/dia, 44% demonstraram a melhora com o tratamento, sem diferença entre os grupos.
> Bicalutamida
Este antiandrogênico também utilizado no tratamento do câncer de próstata, apresenta maior meia-vida e menor risco de hepatotoxicidade do que comparado à flutamida para o tratamento de AAG.
> Alfaestradiol
O alfaestradiol possui um mecanismo de ação o tratamento da AAG pela inibição local da 5αR, onde o folículo piloso expressará receptores de estrogênios, que modulam o ciclo, prolongando a fase anágena. No Brasil, o alfaestradiol está disponível para uso tópico em solução a 0,025%.
2 | Procedimentos |
> Mesoterapia
A mesoterapia ou intradermoterapia é uma técnica minimamente invasiva que consiste em uma mistura de ativos farmacêuticos em doses diluídas por via intradérmica no local afetado pela condição. Este tratamento pode ser considerado como uma opção adjuvante para o tratamento da APF, embora mais estudos sejam necessários para padronizar seus ativos e suas concentrações.
> Microagulhamento
É uma técnica minimamente invasiva que consiste no uso de microagulhas que formam microcanais na pele concebendo a liberação de fatores de crescimento plaquetários, que posteriormente resulta em neovascularização, aumento da produção de colágeno e elastina, além de estímulo à expressão de genes relacionados ao crescimento dos cabelos.
> Plasma rico em plaquetas (PRP)
O PRP é um tratamento coadjuvante que consiste na injeção intradérmica no couro cabeludo de uma preparação autóloga concentrada de plaquetas que liberam diversos fatores de crescimento, como fator de crescimento derivado de plaquetas, de transformação do crescimento beta, de crescimento endotelial vascular e entre outros.
> Toxina botulínica
A toxina botulínica é uma neurotoxina que em sua forma injetável na AAG promove o relaxamento da musculatura do couro cabeludo, reduzindo a pressão muscular sobre as artérias perfurantes e aumenta potencialmente o fluxo sanguíneo e de oxigênio para as áreas afetadas.
Recentemente, Shon et al. (2020) sugeriram que a injeção intradérmica de toxina botulínica pode ser uma possível opção de tratamento para AAG, já que inibe a secreção de TGF-β1 dos folículos capilares, contribuindo assim para os efeitos mencionados.
> Cirurgia de restauração capilar (transplante de cabelo)
Apesar da variedade extensa de tratamentos disponíveis, várias pacientes não alcançam os resultados desejados. No entanto, em tais situações, a restauração cirúrgica pode oferecer uma solução, aumentando o volume capilar em áreas específicas por meio da redistribuição de unidades foliculares colhidas de outras regiões do próprio couro cabeludo da paciente.
3 | Métodos de camuflagem |
Além de serem uma simples ferramenta estética, os métodos de camuflagem têm o potencial de reduzir os impactos psicológicos, elevar a autoestima, promover uma melhor adaptação social e aumentar a qualidade de vida das pacientes que lidam com alopecia. Isso é particularmente relevante quando as respostas aos tratamentos terapêuticos não são satisfatórias.
> Próteses capilares
A prótese capilar representa um método empregado em decorrência de condições médicas. Essas apresentam várias particularidades, incluindo as características das bases, os tipos de fibras, bem como os métodos de fixação e extensão. Elas proporcionam um resultado estético imediato e devem ser consideradas como complementos aos tratamentos clínicos, especialmente em situações mais avançadas de alopecia de padrão feminino (APF).
> Sprays, pós e fibras
Sprays, pós e fibras são abordagens de camuflagem capilar que funcionam como disfarces temporários, destinados a ocultar áreas com diminuição de densidade capilar ou ausência de fios no couro cabeludo. O efeito de cobertura proporciona uma aparência natural e é instantaneamente alcançado após a aplicação. Esses métodos não causam danos aos pacientes e são compatíveis com outros tratamentos dermatológicos. Geralmente, são resistentes ao suor, chuva e vento, e podem ser removidos ao lavar o cabelo com xampu.
> Tricomicropigmentação
Essa abordagem é referida como micropigmentação capilar, um procedimento estético não cirúrgico que emprega técnicas de tatuagem convencional no couro cabeludo e em regiões com cabelos, com o propósito de mascarar regiões calvas e outras situações que causem afinamento dos fios capilares.
Imagem 1. Camuflagem da área com perda capilar com Tricomicropigmentação.
Considerações finais O tratamento da alopecia de padrão feminino (APF) representa um desafio frequente na prática dermatológica, devido à sua alta prevalência e ao considerável impacto na qualidade de vida das pacientes. Além disso, as opções terapêuticas disponíveis são limitadas e o nível de evidência é relativamente baixo. De maneira geral, casos menos graves de APF costumam responder melhor às intervenções terapêuticas em comparação com os mais abrangentes. A realização de exames clínicos e tricoscópicos de rotina durante as consultas dermatológicas permite a identificação precoce de tais casos. Em resumo, é essencial reunir mais evidências por meio de estudos a fim de encaminhar cada paciente para as opções terapêuticas adequadas que já estão disponíveis, mas pouco estudadas. |