Ciclo de entrevistas

Dr. Leopoldo Abad Teran: "A psiquiatria vai além dos conceitos teóricos, a base de todos os males está no cérebro"

O médico, cirurgião e ex-presidente da Associação Equatoriana de Psiquiatria conversou com exclusividade com a IntraMed.

Leopoldo Abad Teran é médico e cirurgião, como também é especialista em Psiquiatria. Também professor universitário e ex-presidente da Associação Equatoriana de Psiquiatria. Conversou exclusivamente com a IntraMed sobre sua carreira e o dia a dia de sua profissão.

Como tem sido sua trajetória profissional na medicina?

Iniciei minha trajetória na medicina há 43 anos, ao me graduar como médico-cirurgião e posteriormente me especializar em psiquiatria, na Universidade de Cuenca. Também realizei uma especialização em Hipnose clássica e ericksoniana, e outra em acupuntura. Fui presidente da Associação Equatoriana de Psiquiatria, no qual tive a honra de fazer da cidade de Cuenca, sede do Congresso Regional da América Latina, onde houve a participação e presença de dois diretores da WPA: Prof. Dinesh Bhugra, e o Profa. Helen Herrman.

Atualmente me dedico totalmente à psiquiatria biológica em meu consultório particular no Mount Sinai Hospital. Também sou professor de Psiquiatria na Universidade Católica de Cuenca.

Qual é a situação epidemiológica atual no Equador e quais são as patologias mais prevalentes?

Os subdiagnósticos provocam tanto uma prevalência, como incidência distante da realidade. Porém, diariamente em minhas consultas as mais prevalentes são os transtornos do humor, liderados por depressão e ansiedade; posteriormente, e em menor grau, psicoses e vícios.

Qual é o problema sobre o qual você recebe mais consultas: prevenção ou tratamento?

No que se refere a prevenção é pouco ou nada, geralmente os pacientes chegam quando já apresentam a doença e muitas das vezes chegam à consulta em estado crítico.

De que modo as condições e os estilos de vida influenciam as doenças que você cuida?

A saúde é biopsicossocial, portanto é multifatorial. Os estilos de vida desempenham um papel muito importante na gênese destas perturbações. A qualidade da alimentação, a atividade física, os hábitos do dia a dia, bem como as interações interpessoais e o meio ambiente.

Qual é o problema mais frequente que não se encontra solução na sua prática diária?

Vou responder a essa pergunta do ponto de vista filosófico, dizendo que “tudo tem solução e nada tem solução”. Por mais difícil que seja um caso, nunca digo ao paciente, ou digo a mim mesmo, que não há solução. Minha recomendação é sempre enfrentar e nunca se intimidar com uma doença difícil, porque imagine dizer ao paciente “isso não tem solução, todo o tratamento vai desmoronar”. A todo momento estou com o paciente dando incentivo e buscando a melhor alternativa terapêutica, com medicamentos e psicoterapia.

Quais são os usos mais comuns da quetiapina em psiquiatria?

A quetiapina (qtp) é um antipsicótico atípico, com uma janela terapêutica muito boa. Isso se deve à sua afinidade pelos receptores serotoninérgicos 5-HT1 e 5-HT2, dopaminérgicos D1 e D2, histaminérgicos H1, alfa1 e alfa2 adrenérgicos. Seu uso mais comum é esquizofrenia e depressão uni ou bipolar, bem como mania. Em doses baixas, pode ser usado como um auxílio para dormir.

 Quais são os principais resultados que se espera com a terapia com QTP em termos de melhora da qualidade de vida dos pacientes?

Os resultados que esperamos é a remissão parcial ou total dos sintomas, com os quais se obtém o controle das referidas patologias. Com esses resultados, a qualidade de vida melhora em todos os âmbitos: trabalho, família e social.

Qual sugestão daria a um médico jovem que quer se formar na especialidade de psiquiatria?

Como costumo dizer aos meus alunos de graduação, a área da psiquiatria vai além dos conceitos teóricos, a base de todos os males está no cérebro. Sabendo controlar e administrar bem, vamos resolver muitos problemas nas pessoas, através da individualização e da integralidade.

Convidamo-lo a deixar uma mensagem para o seus colegas através da IntraMed, o que você gostaria de dizer a eles?

Como mensagem final; que além de estarmos bem-informados sobre a teoria, que aliás é muito necessária, foquemos e pratiquemos a empatia, a compreensão e o humanismo para com aquele ser que sofre de uma doença.