Revisão clínica

Azitromicina para prevenir sepse ou morte materna em mulheres que planejam um parto vaginal

Revisão sobre o uso de azitromicina como profilaxia

Introdução

Infecções maternas, especialmente a sepse, durante o período periparto, são responsáveis por aproximadamente 10% das mortes maternas e estão entre as três principais causas de mortalidade em todo o mundo. Uma abordagem avaliada por diversos órgãos, como a Organização Mundial da Saúde para alcançar essa redução foi avaliar o uso de antibióticos profiláticos em mulheres durante o parto. Em um estudo randomizado de profilaxia adjuvante, Tita e colaboradores (2016) investigaram o uso de azitromicina intravenosa durante o trabalho de parto para cesariana. Eles observaram uma redução de 50% na incidência de infecções maternas no grupo controle em comparação com o grupo placebo. Como resultado, a profilaxia adjuvante com esse antibiótico é recomendada nos Estados Unidos e em outros lugares para mulheres submetidas à cesariana durante o trabalho de parto.

No entanto, esses efeitos em mulheres com parto vaginal planejado são desconhecidos. Por isso, Tita e colaboradores (2019) realizaram um estudo randomizado controlado por placebo com objetivo de verificar se uma dose única oral em mulheres em trabalho de parto reduziria a sepse materna, natimorto ou a morte neonatal.

Recrutaram-se mulheres que estavam em trabalho de parto com 28 semanas de gestação ou mais que estavam planejando um parto vaginal pare receber uma única dose oral de 2 g de azitromicina ou placebo. Um total de 29.278 mulheres foram randomizadas.

Nos resultados primários, observou-se uma taxa de 1,6% de casos de sepse ou mortalidade materna no grupo tratado com azitromicina, em comparação com 2,4% no grupo que recebeu o placebo. Além disso, a taxa de mortalidade neonatal, definida como ocorrência de óbitos dentro das 4 semanas subsequentes ao parto, foi de 10,5% no grupo azitromicina e 10,3% no grupo de controle. Ambos os grupos apresentaram incidência de 0,4% de natimortos e uma taxa de mortalidade de 1,5%.

Os resultados demonstraram que essa intervenção também reduziu tanto as infecções maternas quanto as neonatais.

As frequências de infecções maternas selecionadas que levam à sepse, como endometrite, infecções de feridas cirúrgicas ou perineais e pielonefrite, bem como reinternações maternas e visitas não agendadas a serviços de saúde, foram consistentes com os resultados maternos primários.

No grupo de intervenção, a sepse ou morte materna ocorreu em 1,6% das pacientes, enquanto no grupo placebo foram registrados 2,4%. O risco relativo ajustado foi de 0,67, com um intervalo de confiança de 95% [IC], variando de 0,56 a 0,79 e um valor de P<0,001. Isso demonstrou que a azitromicina foi efetiva em reduzir o risco de sepse ou morte materna.

Além disso, o estudo também evidenciou que a azitromicina pode ter um benefício potencial na prevenção de infecções neonatais. No entanto, não reduziu o risco de sepse ou morte no recém-nascido. Vale ressaltar que o estudo sobre o uso de azitromicina oral em mulheres que planejaram um parto vaginal resultou em um menor risco de sepse materna ou morte quando comparado ao grupo placebo, sendo esse resultado impulsionado por uma redução na incidência de sepse.

Os efeitos adversos foram semelhantes nos dois grupos de estudo. Sendo assim, essas descobertas sugeriram que o uso de azitromicina como profilaxia pode ser uma estratégia eficaz na redução das infecções maternas relacionadas ao parto, ajudando a preservar a saúde das mães e dos recém-nascidos.

Conclusão

As infecções maternas, especialmente a sepse, representam uma significativa proporção das mortes maternas em todo o mundo. Nesse contexto, Tita e colaboradores (2023) realizaram um estudo que sugeriu que que a azitromicina pode ser uma estratégia eficaz na redução das infecções maternas relacionadas ao parto, incluindo a sepse, proporcionando benefícios significativos para a saúde das mães.
Essas descobertas são de extrema relevância para a prática médica, oferecendo uma medida potencial de profilaxia para melhorar a saúde materna e neonatal. A utilização adequada da azitromicina como profilaxia pode contribuir para reduzir o risco de complicações graves durante o período periparto.

No entanto, é importante que novas pesquisas sejam realizadas para corroborar e aprofundar essas descobertas, a fim de estabelecer diretrizes claras para sua aplicação clínica.