Tratamento

Cuidado pós-laserterapia vaginal

Atrofia vulvovaginal é uma afecção crônica e progressiva que acarreta implicações adversas sobre a autoestima e nas relações afetivas interpessoais

Autor/a: Dr. Nilson Roberto de Melo

Indice
1. Página 1
2. Referências bibliográficas

A expectativa de vida da população mundial tem apresentado grande aumento, o que eleva em muito o número de mulheres na faixa etária de pós-menopausa, pois elas vivem entre 30 a 40% das suas vidas nesse período¹.

O que caracteriza a menopausa é a falência das gônadas, o que implica em redução significativa na produção dos hormônios estrogênicos, causando hipoestrogenismo, levando a modificações histológicas na vulva e vagina, com redução no número de camadas celulares, na vascularização e diminuição na elasticidade¹.

O hipoestrogenismo causará a síndrome genitourinária da menopausa (SGUM), que acarreta vários sintomas vulvovaginais e urinários. A atrofia vulvovaginal (AVV) tem como principais sintomas a disúria, a perda da lubrificação vaginal, com secura, ardor, prurido, queimação, irritação, desconforto e dor vaginal².

Em geral, a atrofia vulvovaginal é uma afecção crônica e progressiva, que causa dispareunia de entrada e de profundidade, o que traz como consequência a alteração na sexualidade, que acarreta implicações adversas sobre a autoestima e nas relações afetivas interpessoais, principalmente com o seu parceiro. Os sintomas da SGUM, assim como sua intensidade podem afetar de forma negativa na qualidade de vida, com interferência nas atividades cotidianas, tais como as laborais e sociais. Embora muitas mulheres sejam acometidas por esta síndrome, elas não percebem que a menopausa é a causa e que há tratamento para a mesma1,3.

Um estudo latino-americano com 2.509 mulheres na pós-menopausa, cujas idades variaram de 55 a 65 anos, residentes no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e México, com mais da metade (57%) relataram sintomas de atrofia vaginal (Figura 1), sendo que apenas 6% atribuíram que os sintomas da vagina atrófica estavam diretamente relacionados à menopausa e 71% não consideraram essa situação como crônica, o que resultou em que muitas mulheres não procuraram por tratamento eficaz4.

A SGUM é muito prevalente e progressiva, sendo diferente dos fogachos, pois estes reduzem com o tempo decorrido de menopausa, enquanto a atrofia vulvovaginal não exibe remissão espontânea, e aumenta sua frequência e intensidade, à medida que eleva o tempo decorrido de pós-menopausa5.

Assim, deve-se mencionar que na fase precoce da transição menopausal, a frequência dos sintomas da atrofia vulvovaginal ocorre em 4% a 15% das mulheres, ao passo que na fase mais tardia desta transição a frequência é de 21% a 25%. No período de pós-menopausa a incidência dos sintomas da SGUM é variável, mas pode acometer até 75% a 85% das mulheres6,7.

Deve-se ressaltar, que as mulheres após terem câncer de mama, também serão acometidas pela atrofia vulvovaginal, com prevalência de 61% nas pós-menopáusicas, principalmente se necessitarem tomar inibidores da aromatase, que é uma droga antiestrogênica e nas que se encontram na pré-menopausa a incidência da AVV será de 23,4% e caso necessite tomar tamoxifeno, que é um modulador seletivo do receptor de estrogênio (SERM), este medicamento funcionará como um anti-estrogênio1,7.

Figura 1: Frequência dos sintomas da menopausa relatados pelas mulheres latinoamericanas (n:2509). Barras em negro referem-se a sintomas da síndrome genitourinária.

O tratamento da AVV pode ser realizado com hidratantes vaginais, que causam alívio temporário da vagina atrófica e da dispareunia, cujos resultados são excelentes, mas necessitam serem utilizados duas vezes por semana, de forma contínua. Por este motivo, ocorre um interesse crescente em opções terapêuticas novas, que possam causar alívio dos sintomas de longo prazo, como ocorre com o laser (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation)8.

O uso do laser de CO2 fracionado e o erbium :YAG laser demonstrou ser eficaz para o tratamento da secura vaginal e dispareunia9.

O laser age através da emissão de energia, que é absorvida pela água tecidual, com aquecimento das zonas microscópicas de tratamento, que causa a contração das fibras de colágeno, assim como inicia um processo mais longo, que é o da neocolagênese10. A curto prazo, a utilização do laser resulta em fibras de colágeno mais curtas e espessas e, durante a cicatrização a longo prazo, o tratamento produz neovascularização e novas fibras de colágeno11.

O tratamento da AVV tanto com o laser CO2 e com Erbium implicam em 3 aplicações, com intervalo entre elas ao redor de um mês, são muito eficazes, pois ambas as tecnologias conseguem melhora significativa da SGUM, de forma segura e com a mesma duração de efeito, que é em torno de um a um ano e meio12,13, entretanto o custo da aplicação do laser é muito elevado.

Realizou-se uma pesquisa, comparando o uso de laser CO2, com estriol e com a associação de ambos os métodos, que mostrou que no Índice de Saúde Vaginal a combinação do laser CO2 com estriol sugere ser mais vantajosa14.

Deve-se mencionar que o estrogênio tópico ou sistêmico, é um tratamento eficaz para pacientes com sintomas moderados a intensos da atrofia vaginal15. No entanto, a aderência da mulher a essa terapêutica é baixa e é contraindicado para pacientes com histórico de câncer dependente de estrogênio16. Por este motivo, é ideal o emprego do laser associado ao hidratante vaginal, cujo resultado é excelente na atrofia vaginal17.



Dr. Nilson Roberto de Melo

Professor livre-docente do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); Membro do Executive Board da Internacional Menopause Society (IMS); Membro do Executive Board da Internacional Society of Gynecological Endocrinology (ISGE).