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Prevenção do parto prematuro: onde estamos hoje

Aproximadamente 15 milhões de bebês nascem prematuros em todo o mundo e cerca de 35% de todas as mortes neonatais ocorrem naqueles nascidos antes das 28 semanas de gestação.

Autor/a: Badreldeen Ahmed, Mandy Abushama & Justin C. Konje

Fuente: Prevention of spontaneous preterm delivery an update on where we are today

Introdução

O parto prematuro espontâneo (concepção antes de 37 semanas) (PPE) é a principal causa de morbimortalidade perinatal. Aproximadamente 15 milhões de bebês nascem prematuros em todo o mundo e cerca de 35% de todas as mortes neonatais ocorrem naqueles nascidos antes das 28 semanas de gestação.

Prevenção primária

O objetivo da prevenção primária é eliminar ou reduzir significativamente os fatores de risco na mãe e em seu ambiente antes e durante a gravidez.

Pré-concepção: melhor planejamento da gravidez, controle do peso materno, nutrição saudável e promoção da vacinação. Além disso, os fatores de risco para parto prematuro devem ser identificados e eliminados, se possível, antes da concepção. Isso inclui triagem, diagnóstico e gerenciamento de distúrbios de saúde mental e prevenção da violência, triagem e tratamento das DSTs e HIV/AIDS; interromper o tabagismo e o uso de drogas recreativas e triagem de doenças crônicas, como diabetes mellitus, hipertensão.

Durante a gravidez: cuidados pré-natais, rastrear fatores de risco e eliminá-los e gerenciar complicações, como anemia.

Prevenção secundária

O objetivo da prevenção secundária é centrado principalmente naquelas em risco de nascimento prematuro (RNP), as quais incluem histórico de perda de gravidez anterior > 16 semanas ou parto prematuro, colo do útero curto, 3 ou mais abortos espontâneos anteriores, trauma cervical, colo do útero dilatado e gestações múltiplas.

Parto prematuro prévio

Embora a maioria dos partos prematuros ocorra em gestações não complicadas ou primeiras gestações, um dos fatores de risco mais preditivos são partos prematuros anteriores. Após um PPE, o risco de recorrência é de aproximadamente 14%; isso aumenta exponencialmente para 30% após dois e para 40% após três.

As pacientes com colo do útero fraco/insuficiente podem ser identificadas a partir da história de abortos espontâneos anteriores no segundo trimestre, parto prematuro anterior ou trauma cervical. Para essas pacientes, pode-se recomendar a cerclagem cervical. É um procedimento cirúrgico, realizado sob anestesia geral ou regional, aonde o colo uterino é costurado com fio inabsorvível. É indicada em pacientes com história de ≥ 2 partos entre 15 a 24 semanas

Além do procedimento, a progesterona tem um papel importante na redução de risco de parto prematuro em mulheres com colo curto. Alguns estudos já demonstraram que a progesterona vaginal foi tão eficaz quanto a cerclagem cervical.

Uma terceira alternativa a essas mulheres seria o pessário cervical, entretanto, estudos recentes concluíram que o método não previne RNP ou melhora o resultado em pacientes de alto risco.

Rastreio ultrassonográfico

Uma vez que uma proporção significativa de mulheres que dão à luz pré-termo não tem histórico, sugeriu-se que todas as mulheres deveriam fazer uma avaliação cervical no momento da ultrassonografia morfológica.

A progesterona vaginal é o tratamento primário para mulheres assintomáticas sem história prévia de parto prematuro e um colo de útero entre 10 a 25mm até as 28 semanais gestacionais. Entretanto, se o colo de útero for menor que 10 mm, a cerclagem é recomendada.

Ameaça de parto prematuro

Em mulheres com risco de trabalho de parto prematuro (ou seja, com contrações uterinas), uma alta proporção não progredirá para o parto. Vários estudos encontraram uma associação entre o comprimento cervical e a incidência de parto prematuro.

Gravidez múltipla

A taxa de risco de nascimento prematuro antes de 37 semanas de gestação é de 7 a 12% em gestações únicas e aumenta exponencialmente para 50 a 60% em gêmeos, 80 a 95% em trigêmeos e para 100% em quádruplos ou mais.

A prevenção do RNP deve, portanto, incluir a prevenção de gestações múltiplas iatrogênicas, especialmente aquelas de ordem superior (3 ou mais).

Apesar das limitações das evidências atuais sobre a prevenção de RNP em gestações múltiplas, recomenda-se uma abordagem pragmática que inclua uma avaliação cervical transvaginal entre 16 e 24 semanas e, em seguida, como tratamento, deve ser recomendada a progesterona vaginal ou cerclagem para aquelas com um comprimento cervical < 25mm. Para aquelas com gêmeos e história prévia de RNP, a progesterona vaginal deve ser oferecida a partir de 16 semanas de gestação. Naquelas com gravidez trigemelar, uma vez que o risco de RNP é superior a 80%, recomenda-se o uso rotineiro de progesterona vaginal de 14 a 16 semanas, independente do comprimento do colo do útero. O medicamento deve ser continuado até pelo menos 32 semanas de gestação.

Infecções

A infecção é uma importante causa de trabalho de parto prematuro. Por isso, é imperativo o rastreio em mulheres com ameaça de parto prematuro ou colo curto, especialmente se a cerclagem for considerada, pois esse procedimento pode estar associado a morbidade e mortalidade graves se houver infecção.

A única maneira de fazer o diagnóstico da infecção intrauterina ou inflamação é por meio de amniocentese seguida de coloração de Gram, contagem de leucócitos WBC, teste de glicose, citocinas e/ou cultura. Cada vez mais, há novos testes rápidos no local de atendimento que podem ser realizados, como os de interleucina 6 e MMP-8, gerando resultados imediatos que podem orientar o tratamento. O problema é que poucos pacientes aceitam a amniocentese e poucos obstetras estão dispostos a oferecê-la.

Embora a amniocentese seja o padrão-ouro para identificar infecção intra amniótica, a ultrassonografia tem sido capaz de identificar a presença de sludge/ 'lama', com agregados ecogênicos, densos e flutuantes livres de detritos dentro da cavidade amniótica (figura 1).

Figura 1: Ultrassonografia transvaginal demonstrando lama intra-amniótica acima do orifício cervical interno. Imagem retirada de Ahmed et al., 2023.

 

Colo do útero dilatado

Uma proporção de mulheres, com ou sem história prévia, apresentará colo do útero dilatado e membranas muitas vezes protuberantes. Anteriormente, foi oferecido a essas mulheres repouso no leito, o que se mostrou ineficaz.

Independentemente da abordagem, o resultado da cerclagem de emergência é melhor do que o tratamento conservador. O tempo para esta intervenção é geralmente entre 16 e 27 semanas. As infecções são uma causa comum das alterações cervicais, portanto, este procedimento (redução de abaulamento das membranas e inserção de cerclagem) deve ser coberto com um curso de antibióticos.

Ruptura prematura de membranas fetais (PPROM)

A PPROM precede o parto prematuro espontâneo em cerca de um terço dos casos. O diagnóstico é clínico com a confirmação de líquido saindo do colo do útero exposto com um espéculo ou uma poça de líquido claro no fórnice posterior. Quando o diagnóstico for incerto, deve-se utilizar um teste bioquímico com alfa microglobulina-1 placentária (PAMG1) ou fator de crescimento semelhante à insulina teste de proteína de ligação-1 (IGFBP-1) do fluido vaginal.

Nas pacientes com PPROM, é vital a exclusão de coinfecções especialmente com Streptococcus hemolíticos do grupo β

Uma vez confirmado o diagnóstico, o manejo dependerá da idade gestacional e das complicações associadas. Em geral, para PPROM após 37 semanas de gestação, o manejo costuma ser conservador por 24 horas e, se o trabalho de parto espontâneo não começar, deve ser induzido. Para gestações com menos de 37 semanas, na qual não há complicações, recomenda-se uma conduta expectante. Para aquelas com menos de 34 semanas, deve-se administrar um curso de corticosteroides.

DNA fetal livre

O ácido desoxirribonucléico (DNA) livre de células é amplamente utilizado para triagem de aneuploidia fetal. Níveis elevados podem ser indicativos de disfunção placentária subjacente, que tem sido associada ao parto prematuro.

Corticoesteroides

A evidência dos benefícios do uso de corticosteroides para acelerar a maturação pulmonar fetal em mulheres com risco de parto prematuro é extremamente favorável. Está associada a uma redução no risco de morte perinatal e neonatal e hemorragia intraventricular.

Embora os benefícios imediatos sejam óbvios, os estudos de acompanhamento dessas crianças até a infância e a idade adulta para investigar quaisquer efeitos de longo prazo dos são menos robustos.

Conclusão

A prevenção do parto prematuro espontâneo continua sendo a ferramenta chave para mitigar esta importante causa de morbidade e mortalidade perinatal e problemas de saúde de a longo prazo. Para todas as mulheres com alterações cervicais, a cerclagem é uma opção que demonstrou atrasar significativamente o parto, mesmo quando o colo do útero está dilatado e as membranas protuberantes. O uso de progesterona vaginal se mostrou tão eficaz quanto a cerclagem em pacientes com história de perda gestacional com colo curto.