Dados alarmantes

Opioides em alta na América do Sul

Maioria dos transtornos está associada a opioides, como a heroína e analgésicos. Já as ocorrências relacionadas à cocaína estão em queda, porém são mais elevadas que a média mundial.

Um estudo realizado por um grupo de 19 pesquisadores da América do Sul analisou a extensão dos transtornos causados pelo uso de anfetaminas, cocaína, maconha e opioides na região, verificando desdobramentos como dependência, incapacidade e morte.

O trabalho mostrou que a maioria dos transtornos está associada aos opioides, como a heroína e alguns analgésicos. Já as ocorrências relacionadas à cocaína estão em queda, mas ainda são mais elevadas que a média mundial.

O estudo foi publicado na revista científica The Lancet Psychiatry e pode servir como fonte de informação para orientar políticas de saúde pública.

A pesquisa foi baseada nas informações do Global Burden of Disease Study (GBD), liderado pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), um estudo epidemiológico observacional mundial, que estimou a incidência, prevalência, mortalidade, anos de vida perdidos (YLL), anos de vida vividos com incapacidade (YLD) e anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) devido a transtornos por uso de substâncias em cada um dos 12 países sul-americanos (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela), para o ano de 2019.

Os dados foram coletados de várias fontes de dados relevantes para cada doença, como revisões sistemáticas de estudos, sites governamentais e de organizações internacionais, relatórios e fontes de dados primários, como o Programa de Pesquisas Demográficas e de Saúde. Eles foram modelados usando ferramentas padronizadas para gerar estimativas por sexo, local e ano.

Em comparação com estimativas globais, os países da América do Sul ainda mostraram um maior índice de transtorno por uso de cocaína, níveis semelhantes por anfetaminas e maconha e mais baixos por opioide (OUD). Embora os analgésicos feitos de opioides estejam inclusos na categoria, não foram encontrados dados específicos sobre este.

O transtorno devido à cocaína cresceu mais rapidamente até 2010, quando se estabilizou, antes de diminuir no período de 2016 a 2019, mesmo assim representa o segundo maior na América do Sul. Por outro lado, o patamar de transtorno por uso de anfetaminas e maconha permaneceu estável durante as últimas três décadas, exceto em alguns países.

Apesar de uma diminuição na incapacidade atribuída ao transtorno por uso de cocaína de 2016 a 2019, o nível na região continua muito maior do que a média global, tanto na América do Norte quanto na América do Sul, que é o principal fornecedor global de cocaína, e a sua alta prevalência pode estar ligada à proximidade da produção e ao baixo preço da droga, principalmente na forma de crack e pasta de base.

Transtornos e mortalidade

Os países da América do Sul apresentaram maiores índices de anos de vida vividos com incapacidade e menores níveis de anos de vida perdidos em comparação com as taxas globais relacionadas ao transtorno do uso de anfetamínicos.  Provavelmente, isso se deve ao fato desses transtornos serem relacionados ao uso não médico de anfetamínicos de prescrição mais comum em comparação aos metanfetamínicos, que estão mais relacionados a overdoses e morte.

Embora o nível de transtorno por uso de cocaína tenha caído em alguns países da América do Sul, é necessário que a prevenção e o tratamento sejam mantidos. No caso de analgésicos opioides, é necessária uma educação médica para o gerenciamento eficaz das prescrições.

O estudo não encontrou um aumento no transtorno por uso de cannabis devido à liberalização no Uruguai, o país com as maiores taxas de descriminalização na região. Também não encerrou a questão dos desfechos de saúde relacionados à legalização, mas demonstrou que o modelo uruguaio vem apresentando resultados interessantes. O país, que legalizou tanto o uso recreativo quanto o medicinal, apresentou uma prevalência de uso alta, mas estável, e um nível elevado, porém também estável, de transtorno durante as últimas três décadas.

A Colômbia, que teve uma das taxas mais baixas de descriminalização do uso de maconha para fins não medicinais na região, teve um aumento considerável dos transtornos, segundo o psiquiatra. Embora o Brasil tenha o maior índice no continente de transtornos causados pelos opioides, também possui a maior extensão de aprovação e disponibilidade de programas de tratamento usando metadona e naloxona na região. Eles incorporam o uso dessas duas medicações, que são muito importantes para o manejo da dependência, no caso da naloxona, e da abstinência, foco da metadona.