Atualmente, os dados sobre a infecção durante a gestação são limitados. Não se sabe, por exemplo, se as gestantes são mais suscetíveis ao vírus ou se a infecção é mais grave durante a gravidez. Além disso, não se sabe se a transmissão ocorre pela placenta, sendo conhecida como varíola congênita, ou durante o nascimento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que mais pesquisas são necessárias para o entendimento dos riscos da varíola dos macacos durante a gestação e como o vírus pode ser transmitido. Por isso, recomendou que mulheres grávidas evitem o contato próximo com qualquer pessoa diagnosticada ou suspeita com a doença.
O Ministério da Saúde publicou uma nota técnica com orientações específicas para gestantes com sinais ou sintomas suspeitos de varíola dos macacos e para puérperas e lactantes. No primeiro grupo, caso o teste de negativo, foi indicado o isolamento domiciliar por 21 dias e caso os sintomas persistam, um novo teste deverá ser realizado. Caso o teste de positivo, é indicado a hospitalização da gestante em casos moderados, graves e críticos. Ainda não há um protocolo de tratamento específico com antivirais no ciclo gravídico-puerperal. A via e o momento do parto têm indicação obstétrica e a cesárea como rotina não está indicada nestes casos; o aleitamento deve ser analisado de acordo com o quadro clínico cada caso específico.
Para gestantes, puérperas e lactantes, orientou-se o afastamento de pessoas com sintomas suspeitos, uso de preservativos em todas as relações sexuais e continuar com o uso de máscara.
Apesar da doença causada pelo vírus monkeypox ser considerada uma doença autolimitada, que geralmente apresenta cura espontânea, em alguns casos, pode haver a necessidade de tratamento medicamentoso específico, sobretudo em pessoas imunossuprimidas.
A médica infectologista Natalie Del Vecchio, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), explicou que o vírus pode atravessar a placenta e atingir o feto.
“É reconhecida a transmissão materno-fetal a partir da placenta, originando a doença congênita, abortamento espontâneo, óbito fetal e parto prematuro. Entretanto, os dados são limitados por se tratar de uma doença nova e com poucos estudos”, afirma Natalie.
A especialista recomendou que as gestantes sejam acompanhadas e o uso de equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde.
De acordo com a infectologista, a cirurgia cesariana não é indicada e a escolha do parto é baseada nas indicações obstétricas.
“A indicação da cesárea ocorre quando a paciente apresenta lesão genital, porque há risco de contato e infecção neonatal no momento da passagem pelo canal de parto”, pontua.
Isolamento e amamentação |
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) alertaram que, devido ao risco de transmissão e o potencial risco de doença grave ao recém-nascido, o contato direto entre a paciente e o bebê não é recomendado. A melhor maneira de evitar a transmissão é a separação entre cômodos. No entanto, quando não é possível manter o isolamento, não deve ocorrer contato direto pele a pele. O recém-nascidos deve ser completamente enfaixado ou vestido, e após o contato, as vestimentas devem ser retiradas e trocadas.
Em relação a amamentação, o CDC recomendou o adiamento até a melhora das lesões.
Acompanhamento durante a gestação |
De acordo com o Ministério da Saúde, o acompanhamento deve ser realizado de acordo com o momento da infecção e o período gestacional.
No primeiro trimestre, a pasta recomenda a avaliação por ultrassonografia para análise da viabilidade da gestação. Nos casos moderados, graves e críticos no segundo trimestre, o exame deve ser realizado com detalhe de biometria, avaliação anatômica e quantificação do líquido amniótico.
No terceiro trimestre, o bem-estar do feto pode ser avaliado a partir da dopplerfluxometria, que permite analisar a circulação sanguínea da mãe, da placenta e do bebê.
Após a 26ª semana, ainda é recomendada a cardiotocografia, que permite observar aspectos do batimento cardíaco do feto, nos casos moderados, graves e críticos.
De acordo com o ministério, o risco para o feto é baixo após a resolução da infecção. No entanto, é recomendada a realização de ultrassonografia a cada quatro semanas para avaliação de crescimento e do bem-estar. Para casos específicos, diante da evidência de aumento do fígado (hepatomegalia) ou de acúmulo anormal de líquidos (hidropisia fetal), pode ser necessária avaliação à parte.
O ministério não recomenda a realização de análise do líquido amniótico de maneira ampla, uma vez que a sensibilidade para detecção molecular do vírus no líquido é desconhecida.
“Pela analogia com outras infecções virais, supõe-se que o vírus possa ser encontrado no líquido amniótico a partir de 18 a 21 semanas de gestação. A indicação de amniocentese, até o momento, não é rotineira, ficando reservada a casos específicos ou cenários de pesquisa clínica”, diz a nota técnica.