> Antecedentes
Monkeypox é uma doença viral endêmica em vários países africanos. Muito do que se sabe sobresua história natural decorre de surtos na população em geral nesses países. Com base nesses dados, acredita-se que o vírus da varíola dos macacos (VVM) seja transmitido através do contato próximo com pessoas infectadas. Presume-se que todos os infectados desenvolvam sintomas.
O atual surto de varíola em países não endêmicos difere daqueles descritos anteriormente, com relação à população acometida e ao quadro clínico. De fato, o atual surto parece afetar principalmente homens que fazem sexo com homens (HSH). Muitos apresentam sintomas que são amplamente limitados à região anogenital, e alguns apresentam apenas sintomas mínimos. Além disso, alguns estudos encontraram altas cargas virais em amostras anogenitais, saliva e sêmen. Isso levou à hipótese de que VVM possa ser transmitido sexualmente. Até 17 de junho, mais de 2.500 casos foram confirmados neste surto que é muito mais do que em surtos anteriores na população em geral em países endêmicos (https://ourworldindata.org/monkeypox). Assim, os pesquisadores levantaram uma série de questões que poderia explicar esse aumento extraordinário de casos. Uma dessas é: a infecção pelo VVM pode ser assintomática e as infecções assintomáticas podem contribuir para a disseminação da varíola dos macacos. Isso é um ponto crucial, pois se infecções assintomáticas podem ser transmitidas, isso significaria que a identificação e o isolamento de casos sintomáticos podem não ser suficientes para acabar com o surto.
> Objetivo
O objetivo do estudo desenvolvido por Irith e colaboradores (2022) foi relatar três infecções assintomáticas pelo VVM que foram descobertas retrospectivamente através de amostras clínicas coletadas para testes de gonorreia/clamídia anorretal e orofaríngea entre homens que visitaram a maior clínica de infecções sexualmente transmissíveis (IST) na Bélgica, em maio de 2022.
> Métodos
Swabs anorretais e orofaríngeos coletados para triagem de gonorreia/clamídia de 1 a 31 de maio de 2022 foram testados retrospectivamente por PCR específico para varíola dos macacos.
Casos com resultado de PCR positivo foram chamados à clínica para investigação, reteste e rastreamento de contatos.
> Resultados
Em amostras armazenadas de 224 homens, os pesquisadores identificaram três casos com PCR anorretal positiva para varíola dos macacos. Todos negaram ter sintomas nas semanas anteriores e posteriores à coleta da amostra. Nenhum relatou ter sido exposto a um caso diagnosticado de varíola.
As amostras de acompanhamento foram colhidas 21 a 37 dias após a amostra inicial, altura em que a PCR específica para varíola dos macacos foi negativa, provavelmente como consequência da eliminação espontânea da infecção.
> Interpretação
A existência de infecção assintomática por varíola dos macacos indicou que o vírus pode ser transmitido a contatos próximos na ausência de sintomas. Os achados sugeriram que a identificação e o isolamento de indivíduos sintomáticos podem não ser suficientes para conter o surto.
Esses achados têm consequências importantes para o manejo da epidemia. Até que o papel da transmissão assintomática seja esclarecido, o princípio da precaução se aplica. Se os governos quiserem parar a transmissão de humano para humano, as medidas de controle devem ser revistas.
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