Futuro tratamento

O potencial da tirzepatida no tratamento da obesidade

Os participantes perderam até 24 kg em 72 semanas.

Autor/a: Ania M. Jastreboff, Louis J. Aronne, et al.

Fuente: Tirzepatide Once Weekly for the Treatment of Obesity

Introdução

A obesidade é a doença crônica mais prevalente em todo o mundo, afetando aproximadamente 650 milhões de adultos. Dados recentes apontaram que 1 em cada 5 brasileiros tem IMC ≥ 30kg/m. O desenvolvimento de condições associadas, como diabetes e hipertensão, aumenta a incidência de doenças renais e cardiovasculares e reduz significativamente a expectativa de vida. Tratamentos que resultam em perdas substanciais de peso podem melhorar os resultados de pessoas que vivem com essa condição.

A tirzepatida, uma medicação injetável, atua como agonista dos hormônios GIP e GLP-1, importantes para a regulação do apetite e dos níveis de glicose. O primeiro demonstrou ter potencial para diminuir a ingestão de alimentos e aumentar o gasto energético, enquanto o segundo reduz o ritmo do esvaziamento do estômago.  Um estudo de fase 2 com pessoas com diabetes tipo 2 demonstrou que o medicamento resultou em uma redução de peso clinicamente relevante, sendo assim poderia ser uma ferramenta para o combate da obesidade.

Por isso, Jastreboff e colaboradores (2022) avaliaram a eficácia e segurança da tirzepatida em adultos com obesidade ou sobrepeso que não tinham diabetes.

Métodos

SURMOUNT-1 foi um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, paralelo, controlado por placebo que comparou a eficácia e segurança de tirzepatida como adjuvante a uma dieta hipocalórica e aumento da atividade física.

Em um programa de 72 semanas, 2.439 participantes foram divididos em quatro grupos, que tomaram doses diferentes da medicação (5mg, 10mg e 15mg), e um controle recebeu o placebo.

A média de idade dos participantes do estudo foi de 43 anos, com maioria composta por mulheres (cerca de 67%). Os critérios de inclusão foram idade maior que 18 anos, IMC maior que 30 kg/m2 ou maior que 27 kg/m2 com uma comorbidade associada como hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular. Foram excluídos participantes com diabetes mellitus (DM), história de cirurgia bariátrica ou em outro tratamento para obesidade.

Todos os participantes dos braços de tratamento com tirzepatida iniciaram o estudo com uma dose de 2,5 mg uma vez por semana e, em seguida, aumentaram em uma abordagem gradual em intervalos de quatro semanas até a dose final de manutenção.

O objetivo primário do estudo foi avaliar o percentual de participantes que atingiram uma perda de pelo menos 5% do peso e percentual absoluto de perda de peso. Os desfechos secundários foram avaliar o percentual de participantes que atingiram pelo menos 10, 15, 20 e 25% de perda de peso.

Resultados

A tirzepatida foi capaz de reduzir mais de 20% o peso de obesos durante o ensaio clínico.

Os pesquisadores descobriram que a variação percentual média de peso foi de -15,0, -19,5 e -20,9% para doses semanais de 5, 10 e 15 mg de tirzepatida, respectivamente, e -3,1% com placebo. Os percentuais de participantes com redução de peso de 5% ou mais foram de 85, 89 e 91% para as doses semanais de 5, 10 e 15 mg do injetável, respectivamente, e 35% com placebo; a redução do peso corporal de 20% ou mais ocorreu em 50 e 57% dos participantes nos grupos de tirzepatida de 10 e 15 mg, respectivamente, e apenas em 3% dos que estavam no grupo controle.

Além disso, o tratamento com tirzepatida também reduziu a circunferência da cintura, pressão arterial sistólica e diastólica, insulina em jejum, hemoglobina glicada, triglicerídeos e LDLc, com aumento do HDLc.  Ademais, 40% dos participantes do estudo tinham pré DM, e nesses casos, o medicamento foi capaz de reverter em cerca de 95% dessa condição.

O estudo revelou ainda que o perfil de segurança e tolerabilidade da tirzepatida foi semelhante ao de outros medicamentos à base de incretinas (substâncias produzidas pelo pâncreas) aprovadas para o tratamento da obesidade. Os eventos adversos mais comumente relatados foram relacionados ao trato gastrointestinal, como náusea, diarreia e constipação, e geralmente de gravidade leve a moderada, normalmente ocorrendo durante o período de aumento da dose.

Discussão

A média de redução de peso para medicamentos aprovados pelo FDA para o tratamento de obesidade é de aproximadamente 3,0 a 8,6%. Recentemente, uma medicação introduzida no mercado, a semaglutida (2,4 mg) resultou em uma redução de peso de 12,4%, com quase um terço dos participantes reduzindo 20% ou mais. Em comparação com a menor dose de tirzepatida (5 mg), a média de redução de peso foi de 11,9%, com 30% dos pacientes atingindo a meta de perda de peso de 20% ou mais.

Com reduções de peso observadas em todas as três doses, a tirzepatida pode servir como uma ferramenta importante no manejo médico da obesidade.

Os grupos de 10 mg e 15 mg de tirzepatida foram semelhantes na redução percentual média de peso, mas uma proporção maior de participantes no grupo de 15 mg bateu a meta de redução de 10% ou mais. A incidência de eventos adversos foi semelhante nos grupos de 10 mg e 15 mg. Este achado sugeriu que a dose de 15 mg pode conferir benefícios adicionais em alguns pacientes. Será importante identificar quais podem obter o maior grau de benefício de uma dose maior do injetável.

No estudo, a redução de peso foi acompanhada por melhorias nos fatores de risco cardiovasculares e metabólicos medidos, incluindo a circunferência da cintura, a pressão sanguínea e os níveis de insulina em jejum, lipídios e aspartato aminotransferase, do que placebo. Os participantes tratados com tirzepatida tiveram uma porcentagem de redução da massa gorda aproximadamente três vezes maior do que a redução da massa magra, resultando em uma melhora geral na composição corporal. Além disso, a taxa de reversão para normoglicemia foi significativamente maior com o injetável (95%) em comparação com o placebo. Essas melhorias podem ser traduzidas em risco reduzido de doenças cardiovasculares, doenças renais crônicas, e DM tipo 2, entre outros resultados.

Conclusão

A obesidade tem se tornado um problema mundial, e as medicações disponíveis para auxílio no controle de peso, atuam apenas no cérebro, controlando neurotransmissores.

A tirzepatida pode ser uma potente ferramenta para o auxílio no controle de peso, pois atua diretamente nas reações de metabolismo do açúcar e armazenamento de gordura no nosso organismo.

Abre-se um novo leque de possibilidades no tratamento da obesidade, evitando as possíveis comorbidades que acompanham a condição, como problemas cardíacos, altas taxas de colesterol, e mesmo diabetes.