Prática clínica

Comparação da eficácia e a segurança dos progestogênios na ameaça de abortamento

Os defechos incluídos foram aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, parto prematuro, anomalias congênitas, hemorragia pós-parto e hipertensão induzida.

Introdução

A ameaça de abortamento ocorre até 28 semanas antes do parto. Os sintomas incluem uma pequena quantidade de sangramento vaginal e/ou dor abdominal inferior; o orifício cervical é fechado, a membrana fetal não está rompida e os produtos da concepção não são liberados. É relatado que a sua incidência em mulheres grávidas é em torno de 40%. Após repouso e tratamento, a maioria dos sintomas desaparecerá e a gravidez continuará. No entanto, 20% dessas eventualmente sofrerão aborto espontâneo.

Com isso, objetivo do estudo desenvolvido por Hongqiong et al., (2021) foi avaliar a segurança e a eficácia dos diferentes progestagênios no tratamento da ameaça de abortamento.

Metodologia

Ensaios controlados randomizados (ECRs) foram pesquisados em diversos bancos de dados e os que atenderam aos seguintes critérios foram incluídos: gestantes com qualquer tipo ou via de administração de progesterona independentemente da dose, e ameaça de abortamento em ou menos de 28 semanas e que tiveram uma duração de gravidez viável confirmada em comparação com placebo.

Resultados

Foram incluídos 59 ECRs com 10.424 participantes. Todos foram estudos de dois braços (um grupo recebeu o progestagênio e o outro recebeu tipos ou vias de administração diferente do fármaco) e foram publicados na íntegra. Envolveram cinco tratamentos, incluindo progesterona vaginal, didrogesterona oral, progesterona micronizada oral, progesterona intramuscular e placebo. Os desfechos incluíram aborto espontâneo (n=59), baixo peso ao nascer (n=3), parto prematuro (n=7), anomalias congênitas (n=4) e hemorragia pós-parto e hipertensão induzida pela gravidez (n=2).

Dois estudos relataram hipertensão induzida pela gravidez como um resultado adverso. A metanálise pareada não mostrou diferença estatisticamente significante na ocorrência de pressão alta induzida pela gravidez entre os grupos progesterona e placebo (n = 307, OR 0,98, IC 95% 0,48-1,98, P = 0,460).

Dois ensaios relataram hemorragia pós-parto como resultado adverso. A metanálise mostrou que o tratamento com progesterona não teve diferença na ocorrência do sangramento pós-parto (n=307, OR 0,72, IC 95% 0,27–1,93, P=0,800).

Em termos de eficácia, a didrogesterona oral apresentou o menor ameaça de abortamento, seguida pela progesterona vaginal. O placebo e progesterona intramuscular tiveram a mesma possibilidade de aborto. A progesterona micronizada oral apresentou maior risco.

Diferentes modalidades terapêuticas foram classificadas em termos de segurança e revelaram que a administração de progesterona micronizada oral foi superior em comparação com a didrogesterona oral, placebo, progesterona vaginal ou intramuscular na redução do parto prematuro.

O risco de anomalias congênitas revelou-se menor após a administração de progesterona vaginal do que didrogesterona oral, placebo, progesterona micronizada oral e progesterona intramuscular.

O baixo peso ao nascer foi reduzido após a administração de progesterona vaginal do que placebo e didrogesterona oral.

Conclusão

A didrogesterona oral foi eficaz e segura no tratamento da ameaça de abortamento, mas pode ter um pequeno efeito sobre o baixo peso ao nascer. Os resultados do estudo de Hongqiong e colaboradores (2021) podem ajudar as pacientes a tomarem decisões informadas sobre opções de tratamento para esta condição.