Guia prático

Doença inflamatória intestinal

No dia 19 de maio comemora-se o dia mundial da doença inflamatória intestinal

Autor/a: Charles Bernstein, Abraham Eliakim, Michael Fredail

Fuente: Inflammatory Bowel Disease

Doença inflamatória intestinal (DII) é um termo para duas condições (doença de Crohn e colite ulcerativa) que são caracterizadas por inflamação crônica do trato gastrointestinal (GI).

A patogênese da DII é incompletamente compreendida. Fatores genéticos e ambientais, como alteração das bactérias luminais e maior permeabilidade intestinal, desempenham um papel na desregulação da imunidade intestinal, levando a lesões gastrointestinais.

Prevalência

Uma revisão sistemática1 que analisou dados da Europa, Ásia, Oriente Médio e América do norte relatou que a incidência da colite ulcerativa foi crescente. Na América do Sul, a incidência da doença de Crohn atingiu uma média de 1-3 por 100.000 habitantes subindo para 3-4/100.000 em áreas urbanas mais desenvolvidas, como no Brasil.

Embora existam poucos dados epidemiológicos de países em desenvolvimento, a incidência e prevalência da DII estão aumentando com o tempo e em diferentes regiões do mundo — indicando seu surgimento como uma doença global.

A prevalência da doença de Crohn parece ser maior em áreas urbanas do que em áreas rurais, e também maior nas classes socioeconômicas mais altas.

Sintomas

Os sintomas variam de leves a graves durante as recaídas e podem desaparecer ou diminuir durante as remissões. Em geral, dependem do segmento do trato intestinal envolvido.

Sintomas relacionados a danos inflamatórios no trato digestivo:

  • Diarreia
  • Constipação
  • Dor ou sangramento retal com evacuação
  • Cólicas e dores abdominais
  • Perda de peso e anemia

Sintomas gerais associados à doença de Crohn e colite ulcerativa:

  • Febre
  • Perda de apetite e perda de peso
  • Fadiga
  • Suor noturno
  • Retardo do crescimento

Sintomas extra intestinais:

  • Condições musculoesqueléticas
  • Doenças cutâneas
  • Condições oculares
  • Condições hepatobiliares
Complicações
  • Câncer de cólon
  • Inflamação da pele, dos olhos e das articulações
  • Efeitos colaterais de medicação: certos medicamentos para DII estão associados a um pequeno risco de desenvolver certos tipos de câncer.
  • Colangite esclerosante primária
  • Coágulos do sangue

Complicações específicas da doença de Crohn:

  • Obstrução intestinal
  • Desnutrição
  • Úlceras
  • Fístulas
  • Fissura anal

Complicações específicas da colite ulcerativa:

  • Megacólon tóxico
  • Perfuração do cólon
  • Desidratação grave
Diagnóstico da doença intestinal inflamatória

O diagnóstico de DII requer um exame físico completo e uma revisão da história do paciente. Vários exames, incluindo exames de sangue, exame de fezes, endoscopia, biópsias e estudos de imagem ajudam a excluir outras causas e a confirmar o diagnóstico.

Histórico do paciente

  • Pergunte sobre os sintomas e se esses já ocorreram no passado e com qual frequência.
  • Pergunte sobre possíveis manifestações extraintestinais.
  • Identifique se os transtornos de humor estão presentes, ou se os pacientes se encontram em situações estressantes.
  • Pergunte sobre o histórico de tuberculose.
  • Informe-se do histórico de viagens do paciente.
  • Pergunte sobre o uso de medicamentos.
  • Informe-se sobre o histórico familiar.

Exame físico

  • Geral: bem-estar geral, palidez, caquexia, estado nutricional, frequência de pulso e pressão arterial, temperatura e peso corporal.
  • Região abdominal: distensão, sons intestinais alterados sugerindo obstrução, hepatomegalia e cicatrizes cirúrgicas.
  • Região penianal: fissuras, fístulas, abcesso e exame de toque retal para avaliar massa retal e estenose anal.
  • Inspeção extraintestinal: úlceras aftosas, uveíte, eritema nodoso, pioderma gangrenoso, dermatose neutrofílica aguda, colangite esclerosante primária e doença óssea metabólica.

Exames laboratoriais

Exame de fezes deve ser realizado para eliminar causas bacterianas, virais e parasitárias. Deve analisar sangue ou leucócitos fecais para fortalecer a indicação de endoscopia baixa. A lactoferrina, α1-antitripsina deve ser realizada para descartar inflamação intestinal. Ademais, a calprotectina deve ser analisada para medir a atividade da DII.

No exame de sangue os níveis da velocidade de hemossedimentação, proteína C reativa e orosomucóide correlacionam-se imperfeitamente com a inflamação e a atividade da doença. Níveis de eletrólitos, albumina e cobalamina sérica podem indicar problemas de absorção. A transferrina pode indicar anemia.  O hemograma completo pode mostrar sinais de inflamação ou infecção.  Exames especializados incluem os sorológicos, como pANCA, ASCA, CBir1 e OmpC, que podem ser úteis na diferenciação entre a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, quando há incerteza sobre a DII específica no momento do diagnóstico.

Na histopatologia é possível diferir a doença de Chron da colite ulcerativa. Na primeira, a avaliação de granulomas não caseosos é necessário, enquanto na segunda é feita a análise da distorção da arquitetura da cripta.

A endoscopia ajuda ao médico a verificar se a inflamação está presente, aonde está localizada e avalia a gravidade.

A ultrassonografia do abdômen total, é um exame de fácil acesso e não faz uso de contraste, necessitando apenas de jejum por parte do paciente. Permite a avaliação da parede das alças intestinais, sua espessura, estreitamentos da luz intestinal, presença de abscessos ou coleções que podem estar presentes em casos de ruptura de alças intestinais.

A tomografia computadorizada (TC) ou por ressonância magnética (RM) é um método que permite a visualização da parede do intestino delgado, com detalhes da sua luz. Isto é possível após administração de contraste venoso e grandes quantidades de contraste oral que distendem o intestino delgado, pois este método utiliza equipamentos de alta resolução.

No Raio-X é possível visualizar a obstrução do intestino delgado, principalmente em pacientes com doença de Crohn. Em pacientes com retocolite ulcerativa é possível visualizar o megacólon tóxico.

Diferenças entre a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa

Tratamento

É importante que o paciente receba uma explicação sobre a doença. A participação ativa do paciente na tomada de decisões é incentivada.

O manejo da DII geralmente requer tratamento de longo prazo baseado em uma combinação de medicamentos para controlar a doença. Os médicos devem estar cientes das possíveis interações medicamentosas e efeitos colaterais. Muitas vezes, os pacientes precisarão de cirurgia.

O tratamento deve ser baseado em alguns fatores como: severidade e localização da doença, comorbidades e complicações e tolerância aos medicamentos.

Os corticoides, como a prednisona e a budesonida, serão utilizadas em casos em que há atividade inflamatória da doença, em um paciente que estará com os sintomas presentes. Eles serão usados num espaço curto de tempo até que haja alívio, pois o seu uso prolongado gera efeitos adversos importantes, como inchaço pela retenção de líquidos e osteoporose.

Na retocolite ulcerativa, o medicamento mais utilizado é o aminossalicilato, como mesalazina e sulfassalazina. Tem efeito local sobre a inflamação.

Caso não haja melhora com estas duas medicações, outras opções disponíveis são os imunomoduladores e os agentes biológicos. Imunomoduladores, como azatioprina, ciclosporina, metotrexato e 6-mercaptopurina, agem diminuindo a resposta imunológica do organismo, causadora da reação inflamatória do intestino. Entretanto, a imunidade do fica comprometida.

Os agentes biológicos são drogas altamente eficazes, porém com seus riscos. Temos atualmente a classe dos anti-TNF dos anti-integrina e dos anti-interleucina. Dos anti-TNF, os mais usados são o infliximab e o adalimumab, eficazes para a terapia das doenças mais graves. Os anti-integrina e anti-interleucina possuem maior segurança, por serem mais específicos para a inflamação intestinal.

Antibióticos, como metronidazol, são úteis para controlar a doença de Crohn leve a ajudar a cicatrizar fístulas. Entretanto, devido aos seus efeitos adversos, o ciprofloxacino pode ser considerável. Alguns especialistas recomendam a combinação de ambos.