Relatório da OMS e da OIT

Riscos e benefícios do teletrabalho

O teletrabalho é positivo para a saúde física e mental quando organizado e com a equipa certa

Sem planejamento e assistência, o impacto do teletrabalho pode ser negativo em termos de bem-estar físico, psicológico e social.

Os benefícios incluem menor incidência de hipertensão e estresse e alimentação mais saudável. Os danos incluem isolamento, risco de irritabilidade e problemas musculoesqueléticos devido à falta de equipamento adequado. Todas as descobertas são preliminares, relatam duas agências da ONU.

As medidas sociais e de saúde pública implementadas após a pandemia resultaram em uma transição rápida e sem precedentes para o trabalho remoto em muitos setores e regiões ao redor do mundo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) destacaram nesta quarta-feira que essa nova modalidade mudou os padrões tradicionais de emprego e, em muitos casos, foi instalada para ficar ou fazer parte de um modelo “híbrido” que oferece inúmeras vantagens, mas também perigos para a saúde, pelo que urge regularizá-la de forma a proteger os trabalhadores.

Em relatório técnico, as agências da ONU expõem os benefícios e riscos do teletrabalho e as mudanças necessárias para se adaptar às diferentes formas de trabalho remoto devido à pandemia da COVID-19 e à transformação digital do trabalho.

Mais saúde e bem-estar

O texto destacou que o teletrabalho melhora o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, oferece a possibilidade de flexibilidade de horário e atividade física e economiza o tempo gasto em deslocamentos.

Além disso, estudos recentes relatam menor incidência de hipertensão e estresse, menor tendência à depressão e maior bem-estar emocional devido à qualidade da vida familiar, além do consumo de dietas mais saudáveis, pois os alimentos são preparados em casa.

Ademais, o trabalho remoto reduz a poluição do ar e os tempos de viagem, o que também contribui para melhorar a saúde física e mental e o bem-estar social.

Da mesma forma, o teletrabalho pode aumentar a produtividade e reduzir os custos operacionais para muitas empresas.

Figura 1: Cena de uma família em Madrid. Rubén, 4 anos, e sua irmãzinha brincam enquanto a mãe, Daniela, trabalha no computador. UNICEF/Sergio Robles

Os perigos

No entanto, o trabalho remoto também traz riscos, dentre os quais se destacam os males físicos, como a fadiga musculoesquelética e visual, decorrentes do trabalho prolongado no computador, que também pode ocorrer trabalhando em um escritório.

Igualmente preocupante é o prolongamento frequente das horas de trabalho e o fato de muitas vezes as pessoas trabalharem ainda doentes.

Outro dano potencial é o isolamento social que pode levar ao aumento da solidão, esgotamento, depressão, irritabilidade, preocupação e sentimento de culpa nos trabalhadores. Da mesma forma, pode levar a mais conflitos entre trabalho e família do que o horário de expediente tradicional, principalmente quando a ocupação profissional é muito exigente. Violência doméstica, aumento do uso de tabaco e álcool e ganho de peso prejudicial são outros riscos possíveis.

A OMS e a OIT esclareceram que todas essas descobertas são baseadas em estudos preliminares e que mais pesquisas serão necessárias para determinar os verdadeiros impactos do teletrabalho para diferentes trabalhadores e por períodos mais longos.

Aumento do teletrabalho

O documento detalha que, como consequência da pandemia, o trabalho remoto aumentou na Europa de 11% para 48% e 40% das horas de trabalho remuneradas foram realizadas remotamente. Na América Latina e no Caribe, mais de 23 milhões de pessoas fizeram a transição para o teletrabalho no segundo trimestre de 2020.

De acordo com os dados disponíveis, a passagem para o teletrabalho ocorreu sobretudo entre os trabalhadores com maiores rendimentos e níveis de escolaridade.

As agências citam uma análise que indica que o trabalho remoto continuará crescendo e calcula que 34% dos empregos nos Estados Unidos, por exemplo, poderiam ser feitos remotamente.

“Como o teletrabalho provavelmente aumentará, é importante garantir que empregadores, governos e trabalhadores e seus representantes entendam como lidar com os impactos do teletrabalho na saúde para que haja um equilíbrio entre as necessidades dos funcionários e empresas ou organizações.”, define a agência da ONU.

Na opinião da Dra. María Neira, diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS, a longo prazo, os efeitos do teletrabalho "dependerão inteiramente de governos, empregadores e empregados trabalhando juntos, e disso existem serviços de saúde ocupacional ágeis e imaginativos, para colocar em prática políticas e práticas que beneficiem tanto os trabalhadores quanto o trabalho”.

Recomendações

Para que os benefícios superem os danos, as agências da ONU recomendam que os trabalhadores recebam o equipamento adequado para completar suas tarefas; que recebam informações, orientações e treinamento relevantes para reduzir os efeitos psicossociais e emocionais do teletrabalho na saúde; que os gestores sejam treinados em gestão eficaz de riscos, gestão remota e promoção da saúde no local de trabalho; e que seja estabelecido o “direito à desconexão” e dias de descanso suficientes.

De acordo com o relatório, os serviços de saúde ocupacional devem ser capacitados para prestar assistência ergonômica, mental e psicossocial a quem trabalha remotamente, utilizando tecnologias digitais de telessaúde.

O documento também incentiva os empregadores a discutir e formular planos de trabalho individuais para teletrabalho e esclarecer prioridades; ser claro sobre prazos e resultados esperados; concordar com um sistema comum que anuncie a disponibilidade para trabalhar; e garantir que os gerentes e colegas respeitem o sistema.

Sugeriu também a elaboração de programas especiais para o trabalho remoto, combinando medidas de gestão do trabalho e do desempenho com tecnologias de informação e comunicação e equipamentos adequados e serviços de saúde ocupacional.

“À medida que nos preparamos para sair da 'bússola de segurar' para nos estabelecer em um novo normal, temos o potencial de incorporar novas políticas, práticas e padrões de apoio que garantem que milhões de pessoas que trabalham remotamente tenham um trabalho saudável, produtivo e decente”, disse Vera Package-Perdigão, diretora do Departamento de Governança e Tripartismo da OIT.