Nenhum aumento é trivial | 11 ENE 21

Enzimas hepáticas

Este artigo fornece uma estrutura conceitual para o estudo e tratamento de causas comuns de enzimas hepáticas elevadas.
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Resumo

  • Os médicos de atenção primária estão na vanguarda na triagem de níveis anormais de enzimas hepáticas e investigação das prováveis causas, obtendo um histórico detalhado e exame físico, seguido de exames laboratoriais e diagnóstico adequados.
     
  • Esta revisão descreve causas comuns para os dois principais mecanismos de lesão hepática: a colestase e a lesão hepatocelular.
     
  • São explorados fatores de risco associados, métodos de diagnóstico e tratamento, com foco na doença hepática gosdurosa não alcoólica, uma das causas de níveis anormais de enzimas hepáticas mais frequentemente encontradas.

Nenhum aumento das enzimas hepáticas é trivial

O aumento nas enzimas hepáticas (transaminases e fosfatase alcalina) e bilirrubina na ausência de sintomas são comuns. Nenhum aumento nessas substâncias é trivial.

Todos os aumentos persistentes nas enzimas hepáticas requerem uma avaliação metódica e uma hipótese diagnóstica apropriada.

Padrão de elevação: colestático ou hepatocelular

Com base no padrão de elevação, as causas das enzimas hepáticas elevadas podem ser classificadas em distúrbios de colestase e distúrbios de lesão hepatocelular

TABELA 1

Doenças hepáticas e elevações de enzimas hepáticas associadas

> Doença hepatocelular (elevações de aminotransferases predominam)

Comuns
Doença hepática alcoólica
• Hepatite autoimune
• Hepatite viral crônica
• Hemocromatose genética
(etnia do norte da Europa)
• Toxicidade medicamentosa
• Doença hepática gordurosa não alcoólica

Menos comuns
• 
Deficiência de alfa-1 antitripsina
• Doença de Wilson

Doenças colestáticas (predominam as elevações de fosfatase alcalina, bilirrubina e gama glutamil aminotransferase)

Comuns
• 
Obstrução biliar (p. ex., cálculos biliares)
• 
Hepatotoxicidade medicamentosa
• 
Neoplasia
• 
Cirrose biliar primária
• 
Colangite esclerosante primária

Menos comuns
• 
Colangiopatia autoinmune
• Sarcoidose

Os distúrbios colestáticos tendem a causar elevações na fosfatase alcalina, bilirrubina e gama glutamil transferase (GGT).

A lesão hepatocelular aumenta os níveis de alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST)

 

Como os resultados anormais devem ser avaliados?

Ao abordar as elevações das enzimas hepáticas, o médico deve desenvolver um diagnóstico diferencial de trabalho com base na história médica e social e exame físico.

> Pense em alcoól, medicamentos e gordura

As causas mais comuns de elevação das enzimas hepáticas são toxicidade alcoólica, overdose de medicação e doença hepática gordurosa.

A ingestão de álcool deve ser apurada. O consumo "significativo" é definido como mais de 21 drinques por semana em homens ou mais de 14 drinques por semana em mulheres, durante um período de pelo menos 2 anos.2

A patogênese exata da hepatite alcoólica é incompletamente compreendida, mas o álcool é metabolizado principalmente pelo fígado, e o dano provavelmente ocorre durante o metabolismo do álcool ingerido.

A doença hepática alcoólica pode ser difícil de diagnosticar, já que muitas pessoas são inicialmente relutantes em revelar completamente o quanto bebem, mas deve suspeitado quando a razão de AST para ALT é 2 ou maior.

Em um estudo clássico, uma razão maior que 2 foi encontrada em 70% dos pacientes com hepatite alcoólica e cirrose, em comparação com 26% dos pacientes com cirrose pós-necrótica, 8% com hepatite crônica, 4% com hepatite viral e nenhum com icterícia obstrutiva.3 É importante ressaltar que o transtorno é muitas vezes corrigível se o paciente for capaz de permanecer abstinente do álcool ao longo do tempo.

Um histórico detalhado dos medicamentos é importante e deve se concentrar especialmente em medicamentos adicionados recentemente, mudanças de dosagem, uso excessivo de medicação e uso de medicamentos sem prescritos e suplementos fitoterápicos.

As medicações comuns que afetam os níveis de enzima hepática incluem estatinas, que causam disfunção hepática principalmente durante os primeiros 3 meses de terapia, anti-inflamatórios não esteroides, drogas antiepilépticas, antibióticos, esteroides anabólicos e acetaminofeno.1 O uso de drogas ilícitas e remédios fitoterápicos deve ser discutido, pois podem causar hepatite mediada por toxinas.

Embora a inflamação da toxicidade da droga se resolva se o agente agressor for descontinuado, a recuperação completa pode levar semanas a meses.4

Uma história social pertinente inclui exposição a hepatotoxinas ambientais como amatoxina (contida em alguns cogumelos selvagens) e riscos ocupacionais (p.ex., cloreto de vinil).

Os fatores de risco para hepatite viral devem ser avaliados, incluindo o uso de drogas intravenosas, transfusões de sangue, contato sexual desprotegido, transplante de órgãos, transmissão perinatal e histórico de trabalho em unidades de saúde ou viagem para regiões onde a hepatite A ou E é endêmica.

O histórico médico e familiar deve incluir detalhes das condições associadas, tais como:

Insuficiência cardíaca direita (uma causa de hepatopatia congestiva)

Síndrome metabólica (associada à doença hepática gordurosa)

Doença inflamatória intestinal e colangite esclerosante primária

Enfisema precoce e deficiência de alfa-1 antitripsina.

O exame físico deve ser completo, com ênfase no abdômen, e busca de estigmas de doença hepática avançada como hepatomegalia, esplenomegalia, ascites, edema, angioma de aranha, icterícia e asterixe.

Qualquer paciente com evidência de doença hepática crônica deve ser encaminhado a um subespecialista para avaliação posterior.

> Mais exames diagnósticos

Achados de enzimas hepáticas anormais ou achados de exame físico devem ser direcionados a exames diagnósticos subsequentes com exames laboratoriais e de imagem.5

Para colestase. Se os dados laboratoriais são consistentes com colestase ou fluxo de biliar anormal, devem ser ainda caracterizados como extra ou intra-hepática.

  • As causas comuns da colestase extra-hepática incluem obstrução da árvore biliar devido a pedras ou malignidade, muitas vezes visualizadas como dilatação biliar intraductal na ultrassonografia do quadrante superior direito.
     
  • As causas comuns da colestase intra-hepática incluem hepatite viral e alcoólica, esteato-hepatite não alcoólica, certas drogas e toxinas como esteroides alquilados e medicamentos fitoterápicos, doenças infiltradas como amiloide, sarcoide, linfoma, e tuberculose, e colangite biliar primária.

Os achados anormais na ultrassonografia devem ser posteriormente explorados com imagem avançada, ou seja, tomografia computadorizada ou colangiopancreatografia por ressonância magnética (MRCP).

A confirmação de uma lesão na imagem é frequentemente seguida colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (ERCP) na tentativa de obter amostras de biópsia, remover obstruções e colocar stents terapêuticos. Em casos em que as tentativas endoscópicas não conseguem aliviar a obstrução, o encaminhamento cirúrgico pode ser apropriado.

Para problemas não hepatobiliares. Dependendo da apresentação clínica, também pode ser importante considerar causas não hepatobiliares de enzimas hepáticas elevadas.

A fosfatase alcalina é encontrada em muitos outros tipos de tecidos, incluindo osso, rim e placenta, e pode ser elevada durante a gravidez, adolescência, e mesmo após refeições gordurosas devido à liberação intestinal.6 Após a triagem das condições fisiológicas mencionadas acima, a fosfatase alcalina elevada isolada deve ser ainda avaliada por meio da obtenção de níveis de GGT ou 5-nucleotidase, que são mais especificamente de origem hepática.

Se esses níveis estiverem dentro dos limites normais, uma avaliação adicional para condições de crescimento ósseo e rotatividade celular, como doença de Paget, hiperparatireoidismo, e malignidade deve ser considerada. Especificamente, a síndrome de Stauffer deve ser considerada quando há um aumento paraneoplásico na fosfatase alcalina no contexto de carcinoma de células renais sem metástases hepáticas.

 

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