Ponto de vista de Gonzalo Casino | 24 ABR 21

Os testes e a cultura da incerteza

Sobre os testes para diagnosticas o COVID-19 e a gestão de suas limitações.
Autor/a: Gonzalo Casino 

“Temos uma mensagem simples para todos os países: teste, teste e teste”. Mais de um ano após essa frase ser dita, em 16 de março de 2020, a famosa recomendação do diretor geral da OMS, Tedros Adhanom, pode ser aplicada com limitações muito diferentes nos países.

Países como Estados Unidos e Reino Unido já realizaram mais de um teste per capita, enquanto outros, como na Alemanha mal chegam à metade e, na maioria dos países, a proporção é bem menor.  Ainda é necessário fazer mais testes ao redor do mundo, mas acima de tudo é preciso usá-los de forma eficiente, já que não existem testes ideias. E, enquanto uma maioria da população não for vacinada, o controle da pandemia passa pelo manejo adequado dos exames.

Felizmente, já existia um teste diagnóstico antes mesmo da pandemia global ser declarada. Poucos dias após a sequência genética do vírus ser publicada em janeiro de 2020, um teste de PCR para detectar pessoas infectadas já estava disponível.  No caso da AIDS, por exemplo demorou mais de quatro anos para fazer um teste diagnóstico, depois de ter demorado muito para descobrir o vírus responsável. O problema do PCR não é de segurança (é um teste muito sensível que é capaz de identificar praticamente 100% das pessoas infectadas), mas é um teste sofisticado (só pode ser realizado em um laboratório de determinado porte por técnicos treinados) e lento, pois os resultados podem demorar um dia ou mais. Um problema adicional é que, embora permita que o vírus seja identificado logo após a infecção, não diz em que fase a infecção está.

A confiabilidade dos testes de antígeno é muito discreta e apenas alguns podem ser uma alternativa real para o PCR.

O advento dos testes rápidos resolveu alguns desses problemas. Os testes de antígenos, que detectam proteínas específicas do vírus, são semelhantes e tão simples de realizar quanto um teste de gravidez, não requerem técnicos ou laboratório e oferecem resultados em meia hora. O problema é que apenas detectam, em média, 72% dos infectados sintomáticos e 58% dos assintomáticos, segundo uma revisão sistemática que avaliou estudos disponíveis sobre os 16 modelos de testes rápidos que existem atualmente no mercado. A precisão das diferentes marcas é altamente variável e a maioria não atinge os padrões mínimos recomendados pela OMS de ser capaz de identificar corretamente pelo menos 80% dos positivos. Como mostra esta revisão, a confiabilidade dos testes de antígenos é muito modesta e apenas alguns podem ser uma alternativa real ao PCR, quando este teste não está disponível. Além disso, alguns dos testes comercializados não cumprem o regulamento (existe uma lista de testes que não cumprem o regulamento no site da Agência Espanhola de Medicamentos) e podem representar um risco para a saúde pública.

 

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